Palavra do Papa

Catequese de Bento XVI - resumo da Viagem apostólica ao Chipre

Queridos irmãos e irmãs!

Hoje desejo concentrar-me na viagem apostólica ao Chipre, que, em muitos aspectos, colocou-se em continuidade com aquelas anteriores na Terra Santa e Malta. Graças a Deus, esta visita pastoral correu muito bem, porque felizmente alcançou seus objetivos. Já por si mesma constitui-se como um acontecimento histórico; de fato, nunca antes o Bispo de Roma havia ido naquela terra abençoada pelo trabalho apostólico de São Paulo e São Barnabé, e tradicionalmente considerada parte da Terra Santa. Nos passos do Apóstolo dos gentios, tornei-me um peregrino do Evangelho, em primeiro lugar para fortalecer a fé das comunidades católicas, pequena mas vibrante minoria na Ilha, incentivando-as também a prosseguir o caminho rumo à plena unidade entre os cristãos, especialmente com os irmãos ortodoxos. Ao mesmo tempo, desejei idealmente abraçar todos os povos do Oriente Médio e abençoá-los em nome do Senhor, pedindo a Deus o dom da paz. Experimentei uma cordial acolhida, que me foi reservada em toda a parte, e gostaria de aproveitar esta oportunidade para expressar novamente a minha viva gratidão, em primeiro lugar, ao Arcebispo do Chipre dos maronitas, Dom Joseph Soueif, e Sua Beatitude Dom Fouad Twal, em conjunto com seus colaboradores, renovando a cada um o meu apreço pelo seu trabalho apostólico. Minha gratidão vai também para o Santo Sínodo da Igreja Ortodoxa do Chipre, em particular a Sua Beatitude Chrysostomos II, Arcebispo de Nova Justiniana e de todo o Chipre, que tive a alegria de abraçar com amor fraternal, assim como o Presidente da República, a todas as autoridades civis e a todos que de diversos modos esforçaram-se para o êxito desta minha visita Pastoral.

Ela iniciou no dia 4 de junho, na antiga cidade de Paphos, onde me senti envolto por uma atmosfera que parecia quase a síntese perceptível de dois mil anos de história cristã. Os vestígios arqueológicos ali encontrados são o sinal de uma antiga e gloriosa herança espiritual, que ainda hoje mantém um forte impacto na vida do país. Diante da igreja de Santa Ciriaca Chrysopolitissa, lugar de culto ortodoxo aberto também aos católicos e anglicanos localizado dentro do sítio arqueológico, desenvolveu-se uma tocante celebração ecumênica. Com o Arcebispo ortodoxo Chrysostomos II e representantes das comunidades armena, luterana e anglicana, fraternalmente renovamos o recíproco e irreversível compromisso ecumênico. Tais sentimentos manifestei sucessivamente a Sua Beatitude Chrysostomos II no cordial encontro em sua residência, durante o qual pude constatar o quanto a Igreja Ortodoxa do Chipre está ligada ao destino daquele povo, preservando devota e grata memória do Arcebispo Makarios III, comumente considerado pai e benfeitor da Nação, ao qual desejei também eu render homenagem permanecendo brevemente diante do monumento que o representa. Este enraizamento na tradição não impede à comunidade ortodoxa estar empenhada com decisão no diálogo ecumênico juntamente com a comunidade católica, ambas animadas pelo sincero desejo de reconstruir a plena e visível comunhão entre as Igrejas do Oriente e do Ocidente.

Em 5 de junho, em Nicósia, capital da Ilha, comecei a segunda etapa da viagem, visitando o presidente da República, que me acolheu com grande cortesia. Ao encontrar as autoridades civis e o Corpo diplomático, reiterei a importância de fundar a lei positiva sobre princípios éticos da lei natural, com o fim de promover a verdade moral na vida pública. Foi um apelo à razão, baseado sobre princípios éticos e carregado de implicações exigentes para a sociedade de hoje, que muitas vezes não reconhece mais as tradições culturais sobre as quais está fundada.

A Liturgia da Palavra, celebrada na escola primária de São Marun, representou um dos momentos mais sugestivos do encontro com a Comunidade católica do Chipre, nas suas componentes maronita e latina, e me permitiu conhecer de perto o fervor apostólico dos católicos cipriotas. Isso se expressa também através de atividades educativas e assistenciais com dezenas de estruturas, que são colocadas ao serviço da coletividade e são apreciados pelas autoridades governamentais, bem como por toda a população. Foi um momento de alegria e celebração, animado pelo entusiasmo de numerosos bebês, crianças e jovens. Não faltou o aspecto da memória, que tornou perceptível de modo comovente a alma da Igreja Maronita, a qual exatamente neste ano celebra os 1600 anos da morte do Fundador, São Marun. Neste contexto, foi particularmente significativa a presença de alguns católicos maronitas provenientes de quatro lugarejos da Ilha, onde os cristãos são pessoas que sofrem e esperam; a eles, desejo manifestar a minha paterna compreensão por suas aspirações e dificuldades.

Naquele mesma celebração pude admirar o compromisso apostólico da comunidade latina, guiada com solicitude pelo Patriarca latino de Jerusalém e zelo pastoral pelos Frades Menores da Terra Santa, que se colocam ao serviço das pessoas com perseverante generosidade. Os católicos de rito latino, muito ativos no âmbito caritativo, reservam uma atenção especial aos trabalhadores e aos mais necessitados. A todos, latinos e maronitas, assegurei a minha lembrança na oração, incentivando-os a testemunhar o Evangelho também mediante um paciente trabalho de confiança recíproca entre cristãos e não cristãos, para construir uma paz duradoura e uma harmonia entre os povos.

Desejei repetir o apelo à confiança e à esperança durante a
Santa Missa celebrada na paróquia da Santa Cruz, na presença dos sacerdotes, pessoas consagradas, diáconos, catequistas e expoentes de associações e movimentos leigos da Ilha. Partindo de uma reflexão sobre o mistério da Cruz, fiz então um apelo urgente a todos os católicos do Oriente Médio a fim de que, apesar de grandes provações e as bem conhecidas dificuldades, não cedam ao desânimo e à tentação de emigrar, posto que sua presença na região constitui um insubstituível sinal de esperança. Garanti-lhes, especialmente aos sacerdotes e religiosos, a amorosa e intensa solidariedade de toda a Igreja, assim como a incessante oração a fim de que o Senhor lhes ajude a serem sempre presença alegre e pacificadora.

Definitivamente, o momento culminante da viagem apostólica foi a entrega do Instrumentum laboris da Assembleia Especial para o Oriente Médio do Sínodo dos Bispos. Tal ato aconteceu no domingo, 6 de junho, no Ginásio de Esportes de Nicósia, ao final da solene Celebração eucarística, da qual participaram os Patriarcas e Bispos das diversas comunidades eclesiais do Oriente Médio. Coral foi a participação do Povo de Deus, "entre cantos de alegria e louvor de uma multidão em festa", como diz o Salmo (42, 5). Disso fizemos uma experiência concreta, também graças à presença de muitos imigrantes, que constituem um grupo significativo da população católica da ilha, onde estão integrados sem dificuldade. Juntos, rezamos pela alma do falecido Bispo Dom Luigi Padovese, presidente da Conferência Episcopal da Turquia, cuja morte repentina e trágica nos deixou tristes e consternados.

O tema da Assembleia sinodal para o Oriente Médio, que se realizará em Roma no próximo mês de Outubro, fala de comunhão e de abertura à esperança: "A Igreja Católica no Oriente Médio: comunhão e testemunho." Este importante evento configura-se, de fato, como um encontro da cristandade católica daquela área, nos seus diversos ritos, mas ao mesmo tempo como uma busca renovada de diálogo e coragem para o futuro. Portanto, será acompanhado pelo afeto orante de toda a Igreja, em cujo coração o Oriente Médio ocupe um lugar especial, porque é exatamente ali que Deus se deu a conhecer aos nossos pais na fé. Não faltará, no entanto, a atenção de outros sujeitos da sociedade mundial, especialmente os protagonistas da vida pública, chamados a trabalhar com constante empenho a fim de que aquela região possa superar as situações de sofrimento e conflito que ainda a afligem e re-encontrar finalmente a paz na justiça.

Antes de despedir-me do Chipre, desejei visitar a Catedral Maronita de Nicósia – onde estava presente também o Cardeal Pierre Nasrallah Sfeir, Patriarca de Antioquia dos Maronitas. Renovei minha sincera proximidade e minha fervorosa compreensão a toda a comunidade da antiga Igreja maronita espalhada na Ilha, a cujas margens os maronitas se dirigiram em vários períodos e foram muitas vezes duramente provados por permanecerem fiéis à sua específica herança cristã, cujas memórias históricas e artísticas constituem um patrimônio cultural para toda a humanidade.

Queridos irmãos e irmãs, retornei ao Vaticano com a alma cheia de gratidão a Deus e com sentimentos de sincero afeto e estima pelos habitantes do Chipre, pelos quais me senti acolhido e compreendido. Na nobre terra cipriota, pude ver o trabalho apostólico das diversas tradições da única Igreja de Cristo e pude quase sentir tantos corações pulsarem em uníssono. Exatamente como afirmava o tema da viagem: "Um só coração, uma só alma". A Comunidade católica do Chipre, nas suas articulações maronita, armena e latina, esforça-se continuamente para ser um só coração e uma só alma, tanto internamente como nas relações cordiais e construtivas com os irmãos ortodoxos e com outras expressões cristãs. Possam o povo do Chipre e as outras nações do Oriente Médio, com seus líderes e representantes da diversas religiões, construir em conjunto um futuro de paz, amizade e fraterna colaboração. E rezemos a fim de que, através da intercessão de Maria Santíssima, o Espírito Santo torne fecunda esta viagem apostólica, e anime no mundo mundo todo a missão da Igreja, instituída por Cristo para anunciar a todos os povos o Evangelho da verdade, do amor e da paz.



Siga o Canção Nova Notícias no twitter.com/cnnoticias
Conteúdo acessível também pelo iPhone – iphone.cancaonova.com

Evite nomes e testemunhos muito explícitos, pois o seu comentário pode ser visto por pessoas conhecidas.

↑ topo