Artigo Frei Moser

Células adultas: mais um passo à frente

São ainda bem recentes os acalorados debates, sobretudo no Brasil, sobre a busca de terapias de caráter genético através do uso de células-tronco. O grande divisor de águas consistia justamente nisso: enquanto uns pesquisadores sustentam que as esperanças só poderiam ser colocadas no uso de embriões, outros pesquisadores e especialistas em Ética sustentam o contrário: por serem portadores de um código genético único e original, os embriões já devem ser respeitados na sua identidade profunda.

Ademais, essa mesma originalidade faz com que, como no caso dos transplantes, sejam grandes os riscos de uma rejeição pelo organismo receptor. O que se pode esperar de tais tentativas é produzir células de caráter cancerígeno.

Em 2007, especialistas japoneses conseguiram reprogramar células adultas, de tal forma que elas se tornassem capazes de recuperar seu potencial originário. Foram denominadas IPS, ou seja, Células-tronco induzidas. As mesmas experiências também foram realizadas aqui no Brasil no início do corrente ano.

A reativação é basicamente obtida através da inserção de quatro genes numa célula adulta, oriunda da pele. Sobravam interrogações sobre a procedência desses genes e a periculosidade dos vírus necessários para transportar tais genes para o interior da célula.

Logo em seguida foram feitas tentativas para evitar os riscos e inconvenientes acima assinalados através da transferência de material genético de uma célula para outra mediante uma espécie de lavagem química. Esse processo também apresenta inconvenientes.

A novidade, agora, vem da Universidade de Harward, onde as pesquisas são coordenadas por um especialista chamado Robert Lanza. A novidade consiste em evitar os inconvenientes acima apontados provocando a junção de dois ou mais aminioácidos biomoleculares, sem a utilização de vírus e sem a lavagem química. Sobre esse novo passo o referido cientista afirma que essa tecnologia permitirá logo ampliar o leque de possibilidades para terapias através de células -tronco para todo o corpo humano.

Como se vê, passo a passo, mas com muita segurança, fica evidenciado que as perspectivas terapêuticas passam mesmo é pelas células adultas, ou amadurecidas, e não por células de embriões. Aliás, os melhores pesquisadores brasileiros nessa área sempre trilharam esse caminho. E foi por esse caminho que obtiveram êxitos relativos no que se refere à regeneração nos casos de problemas cardíacos.

De qualquer forma, os verdadeiros cientistas sempre insistem que nos encontramos apenas no início de um processo onde a terapia genética não deve ser absolutizada. Sozinhas, células não conseguirão qualquer milagre. O máximo que podem oferecer são complementos de um conjunto de procedimentos e cuidados há muito conhecidos.

Não é por nada que os paladinos da liberação de embriões para fins terapêuticos, que até há pouco faziam promessas mirabulantes, ultimamente ou se manifestam com mais cautela, ou simplesmente silenciam. Isso significa que vai se formando um consenso no sentido de que não existem terapias miraculosas e que, tanto numa linha preventiva quanto curativa, a qualidade de vida não é fruto de magia, mas de uma maneira sábia de viver e conviver. Essa maneira sábia nos leva a sempre de novo nos perguntarmos pelo sentido profundo de cada ser e de cada elemento do que existe.

Em suma, células embrionárias são propulsoras de vida. Regeneradoras são células adultas, que, por sua vez, só poderão cumprir seu papel quando articuladas a muitos outros elementos e fatores.

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