"Esta criança certamente não existe". A frase é usada como raciocínio lógico de um comercial de TV, que mostra uma criança que implora à mãe por verduras. Mas essa criança existe sim, e se chama Gabriel. Aos sete anos de idade, ele adora comer brócolis, beterraba, cenoura, e, por incrível que pareça, não gosta de doces. A mãe conta que certa vez tentou oferecer um doce para o filho, o qual rechaçou de imediato: "Poxa, mãe, não tinha nenhuma fruta pelo menos?"
Na verdade, o que não existe mesmo no Brasil é uma cultura alimentar consciente, opina o pediatra Marcelo Lopes Carvalho, pai de Gabriel. "O ritmo acelerado de trabalho, o crescimento de restaurantes tipo "fast-foods", contribuem para a falta de cuidado com a alimentação".
Essa nova "cultura" alimentar faz de vítima 10% das crianças brasileiras que hoje se encontram obesas. A endocrinologista Raquel Schwab explica que as crianças que moram em grandes centros raramente sabem de brincadeiras de pipa ou mesmo do jogo de pião. "Muitas preferem passar a maior parte do tempo em frente à televisão, jogando vídeo-game e comendo 'porcaritos' (alimentos industrializados feitos à base de milho, aromatizados artificialmente).
Para a presidente do Instituto Movere, Vera lúcia Barbosa, em São Paulo, a melhoria da qualidade de vida da população nos últimos anos permitiu que o brasileiro de baixa renda tivesse mais acesso aos alimentos, porém, a falta de educação alimentar levou muitas famílias a substituir o costumeiro "arroz com feijão" por massas. "É mais barato e mais rápido de preparar", explica.
O instituto Movere ensina pais e crianças obesas da forma como retomar o peso ideal, promovendo dois dias por semana brincadeiras que estimulem exercícios físicos. Até mesmo aulas de culinárias são dadas na instituição. "Se não ensinarmos os pais a se alimentarem direito, todo esforço feito aqui será em vão", conclui Vera.
Mas a preocupação também é grande com quem chega ao local. Muitas crianças necessitam de acompanhamento psicológico e nutricional. O trabalho é voltado para crianças carentes, e no ano passado ficou entre os dez melhores projetos sociais do país.
Entre um maracujá e outro, Gabriel ainda não compreende bem o comportamento dos coleguinhas de escola. "Eles não trocam de lanche comigo", reclama o menino. Gabriel é exceção ao que deveria ser a regra da boa alimentação.
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