As células- tronco encontram-se novamente em pauta. Melhor dito, nunca saem da pauta. Por vezes aparecem com dados antigos e roupagem nova, por vezes trazem alguma novidade. Umas notícias são promissoras; outras trazem consigo algo de verdadeiro, mas com traços de sensacionalismo; outras repisam num terreno comprovadamente estéril.
Notícias promissoras têm sempre a ver com avanços no conhecimento das células adultas e na possibilidade de trabalhá-las como uma espécie de reforço terapêutico. Não prometem curas mágicas, nem solitárias, mas vem juntar seu potencial a outros expedientes já há muito conhecidos. Somam e não substituem. Esse é por exemplo o caso de tentativas de regeneração de órgãos. Entre esses processos um está chamando a atenção pelo êxito: o coração.
Noticias que trazem algo de verdadeiro, mas que vêm contaminadas pelo sensacionalismo estão relacionadas com a produção em laboratório de células-tronco induzidas (IPS). Concretamente isso significa "engenheirar" uma célula adulta injetando nela 4 genes, e dando-lhe assim um potencial semelhante àquele atribuído às células de embrião.
Embora já conseguidas anteriormente em outros países, com razão nossa imprensa deu destaque ao fato de agora tais células já estarem sendo trabalhadas em nossos laboratórios brasileiros. Sobram interrogações sobre a procedência do genes e sobre a maneira de evitar que o processo seja efetuado com a ajuda de vírus.
De qualquer forma as perspectivas apontam para uma efetiva valorização das células adultas, o que não apenas é positivo, como cientificamente mais seguro. Mas, como observa o neurocientista brasileiro Stevens Rehen, "infelizmente, o desconhecimento dos brasileiros sobre ciência é enorme e as expectativas criadas em torno das células-tronco são exageradas" (Revista Época, 23/03/09, p. 84). É neste sensacionalismo que mora o perigo, de se pensar que os procedimentos convencionais e os denominados alternativos, podem ser dispensados: as células-tronco resolveriam tudo.
Ao lado de notícias promissoras e outras que notificam algo de verdadeiro, mas são contaminadas pelo sensacionalismo, aparecem sempre de novo "conquistas" fantasiosas, que pretendem colher frutos em terrenos comprovadamente estéreis. Esse é o caso da insistência sobre o potencial terapêutico de células de embrião. Não só até agora nada de útil se conseguiu, como o que se conseguiu foi provocar teratomas, ou seja, células cancerígenas.
Tão preocupante quanto os próprios fatos é a maneira como isso vem noticiado. Assim, no final de março se anunciava como conquista a possibilidade de se colherem óvulos "verdes" que irão amadurecer em laboratório (IVM), para então serem fertilizados in vitro. O argumento para justificar tais procedimentos vai na linha de se evitarem os transtornos quando uma mulher com dificuldades de conceber, é bombardeada por doses maciças de hormônios para estimular a ovulação.
A falta de sabor característica de frutas amadurecidas “na marra”, não deixa de levantar questões sobre o que pode vir a acontecer com óvulos amadurecidos em laboratório. Com certeza não devemos sacralizar os processos da natureza, como também não devemos simplesmente ignorá-los. Tudo tem uma razão de ser.
Finalmente, preocupa ainda a maneira como são abordados por certa mídia tais procedimentos e eventuais descobertas. Fala-se em "fábrica de células-tronco" e até em "abastecimento do mercado" diante da escassez do "produto". Para bom entendedor a linguagem carrega consigo sempre uma concepção antropológica, quando não uma ideologia. No caso certamente essa linguagem é pouco apropriada para referir-se ao ser humano e à maravilhosa arquitetura que o faz existir e subsistir. As próprias expressões traduzem uma concepção ao mesmo tempo materialista e reducionista do ser humano.
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