Artigo Frei Moser

Células pluripotentes induzidas: fim das polêmicas?

Como nos inícios do ano passado, assim também nos inícios deste ano, questões ligadas à biogenética foram novamente colocadas em cena. E, de novo, as vedetes são as células-tronco. Os muitos debates deixaram clara a diferença entre células embrionárias e células adultas. Até mesmo pessoas com menor concepção antropológica parecem finalmente haver entendido que célula embrionária remete a embrião; que embrião significa vida nova; que retirar uma célula que seja de um embrião significa eliminá-lo.

O que não parecia claro para todos era a força regeneradora contida em células adultas, contraposta com a presumível força regeneradora das células extraídas de embriões. Presumível porque, sabidamente as células embrionárias só aparentemente são indiferenciadas, uma vez que carregam consigo os comandos para todos os desdobramentos posteriores. Por isso mesmo, são células propulsoras, e não regeneradoras.

Além disso, mesmo do ponto de vista estritamente científico, coloca-se o problema da rejeição de um organismo ao material genético portador de um DNA diferente. Daí o espanto que causa a intempestiva medida do Presidente Obama, abrindo oficialmente campo para entidades que promovem o aborto e, ainda, autorizando o uso de embriões para pretensas experiências terapêuticas.

Destarte fica evidenciado que todas as solenes declarações que desde o Código de Nuremberg, no contexto final do nazismo, foram firmando normas rigorosas para qualquer tipo de experimento com seres humanos, parecem haver sido colocadas de lado. Admitidas experiências com embriões, logo virá a pergunta: por que não admitir experiências com seres humanos em outras fases da vida? Contrariando todos os fundamentos de uma ética até agora universalmente reconhecida, os seres humanos se transformam em objetos de experiência.

O mais surpreendente no que se refere à liberação de embriões, é que isto esteja ocorrendo ao mesmo tempo em que se firma uma certeza, esta sim científica, de que as células adultas se constituem verdadeiro caminho para enfrentar o desafio de doenças de cunho genético.

Até há pouco a hipótese sustentada por um certo número de pesquisadores era mais ou menos esta: de pouco servem as células adultas. Pesquisas anteriormente só efetuadas no Japão, nos Estados Unidos, na China e na Alemanha agora são efetuadas também no Brasil, colocando uma vez mais em evidência que células adultas podem revelar todo seu potencial quando conjugadas com uma "injeção de genes".

Neste caso, fala-se em células pluripotentes induzidas (iPS), para caracterizar que todo seu potencial nativo pode ser reativado. Potencial nativo, porque todas as células procedem das células embrionárias e as adultas não perdem sua identidade simplesmente pelo fato de se encontrarem em outra fase de desenvolvimento. Como observa alguém, o processo de reengenharia faz com que mais células-tronco entrem na máquina do tempo para uma volta à sua infância.

Com razão tais descobertas estão causando grande alvoroço nos meios científicos, uma vez que a obtenção de um número teoricamente ilimitado dessas células pluripotentes dispensaria o uso de embriões. Com isso, também teoricamente estaríamos próximos do fim de polêmicas de cunho ético.

É verdade que alguns pesquisadores já se apressaram em afirmar que essas descobertas não devem levar ao abandono de pesquisas com embriões. Outros lembram que há uma pedra no caminho, que são os vírus necessários para conduzir os genes para dentro da célula adulta. Vírus são sempre vírus, com o risco de provocarem degenerações cancerígenas.

Mas será mesmo que, superados estes percalços, estaríamos entrando numa nova fase, onde, uma vez descartadas as questões éticas, as ciências teriam caminho aberto para todo tipo de experiências através de células adultas reprogramadas mediante de um processo de engenharia genética?

Ainda que uma resposta positiva e entusiasta neste sentido seja tentadora, sempre sobra uma pergunta que ainda não obteve uma resposta muito clara: De onde provêm os "genes" que poderão revigorar as células adultas? Seriam de outras células adultas ou de embriões? Questão incômoda, mas que não pode ser negligenciada, se quisermos fugir de teses simplistas e que lembram a história do cavalo-de-tróia.

Por fim, nunca é demais lembrar que, por mais fascinantes que sejam as pesquisas, elas não passam de pesquisas; por mais importantes que sejam as células, elas não passam de células de organismos incrivelmente complexos; que a pretensão de direcionar células a bel-prazer o que se poderia denominar coreografia molecular, não é tão simples assim.

 

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