Há muito tempo não se via tamanha vibração se manifestando em praticamente todos os lugares da terra. Em si nós nos encontrávamos apenas diante da eleição do 44º Presidente dos Estados Unidos da América. Na realidade uma série de eventos foi transformando um fato local num evento mundial.
Para entender melhor a vibração que tomou conta de multidões, representando todas as raças, todas as idades, todas as classes sociais, e até mesmo parcelas significativas de inúmeras nações, convém lançarmos um olhar retrospectivo e um olhar prospectivo.
Ao olharmos para trás, encontramos uma série de frustrações que foram se acumulando: uma guerra bárbara e inútil, com muitas frentes, e com cenas de violência dignas dos horrores da Segunda Guerra mundial; o patrulhamento ideológico total através dos mais sofisticados canais de informação; uma paranóia sem precedentes, na qual todos passam a ser vistos como inimigos em potencial; prisões, torturas, massacres, todos nitidamente documentados, mas tacidamente aceitos como legítimos até por cidadãos de países considerados desenvolvidos.
Tudo somado, a nação que durante muito tempo era olhada com exemplo de democracia e de conquistas sem precedentes em todos os campos, passou a ser a nação mais temida e a mais odiada.
Esse quadro, contudo, ainda não está completo. A crise financeira, significativamente irrompida no mês em que se recorda a derrubada das torres gêmeas de Nova York, está sendo comparada a um verdadeiro tsunami, capaz de abalar economias até há pouco consideradas inabaláveis. Por isso mesmo, não poucos comentaristas chegam a falar do abalo sistêmico do capitalismo e de tudo o que ele representa em termos de economia e de sociedade.
Ao olharmos para frente, a eleição de um homem que não se enquadra em nenhum dos moldes tradicionais, nem pela cor, nem pela origem, nem pela maneira de andar e de se comunicar, se constitui numa verdadeira quebra de paradigmas. O que há alguns meses parecia impossível, não apenas se tornou realidade: Obama se consagra como um verdadeiro fenômeno, que se julgava não mais poder existir. Capaz de eletrizar multidões, consagrou-se com uma vitória esplendorosa em sua nação, e apresentou-se ao mundo com um novo e empolgante lema: "Sim, nós podemos".
Num mundo marcado pela notável falta de lideranças em todos os campos e pelas mais acentuadas expressões de decadência, no sentido mais amplo e profundo do termo, seu lema se tornou uma espécie de imperativo que ultrapassa qualquer fronteira. Mais concretamente, depois desta eleição ninguém mais pode duvidar: não um homem, mas a humanidade carrega consigo um potencial secreto, capaz de resgatar o que parecia definitivamente perdido e construir o que parecia impossível.
Para quem acredita que Deus é o Senhor da história, este parece ser um momento para acrescentar: não só da história, mas também do tempo. Quando para muitos Deus parece ter morrido, ele envia sinais inesperados. Estes sinais nem sempre são nítidos, uma vez que costumam vir embalados por outros que em nada fazem lembrar um Deus que intervém na história.
Para quem assim pensa, nada melhor do que lembrar o Ciro, rei da Pérsia (atual Iraque), que em meados em 530 A.C, ao permitir ao povo de Israel voltar para sua pátria, serviu de instrumento para um Deus que não conhecia. Foi a partir deste gesto inesperado que o Povo de Deus viu reacender-se uma chama que parecia apagada: "sim, nós podemos reconstruir nossa pátria" e sonhar com uma vida nova, pois Deus nunca deixa de cumprir suas promessas. Basta que nós façamos a nossa parte, retomando o caminho da terra da promessa.
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