Artigo Frei Moser

"Não temo a morte, mas a perda da honra"

Ainda que em razão de suas funções e da sua personalidade, o Sr. José Alencar não tenha a mesma visibilidade de outras proeminentes figuras do Governo atual, desde há muito ele vem imprimindo uma marca luminosa no Brasil: seu inseparável sorriso.

Claro que bem poucos conhecem o que se esconde por trás desta personalidade, no mais tão discreta. E no entanto, mesmo em não o conhecendo há ao menos duas razões para se ter a certeza que irá marcar muitas pessoas. A primeira refere-se ao modo como enfrenta a doença que o acomete; a segunda, uma frase que pronunciou em fins deste mês de julho, quando constatou que convive com um câncer que resiste a todos os tratamentos.

Deus nos fez de tal forma que, quando vivemos na normalidade, não queremos morrer. Nem Jesus buscou a morte: Ele a abraçou, livremente, mas como decorrência da missão que lhe fora confiada. Concretamente, ninguém lhe tirou a vida: ele mesmo a deu por nosso amor e por fidelidade ao Pai.

Se nem Jesus buscou a morte, e chegou a pedir que, se possível o Pai afastasse aquele cálice amargo, então não há nada de surpreendente no fato de querermos viver muito e com qualidade de vida.

Mas é nesta altura que, através da maneira como as pessoas se portam diante da morte que bate às suas portas, se pode avaliar a profundidade da vida e das convicções destas pessoas. Umas se revoltam; outras vão aceitando a morte como uma espécie de fatalidade; outros ainda vão ao encontro da morte de cabeça erguida.

É bem conhecida a cena da morte de São Francisco de Assis: cercado por seus irmãos de ideal evangélico, ele partiu ao encontro do Pai, acompanhando, na medida do possível, os cânticos entoados ao redor do seu leito de morte. Em consonância com este fato, persiste na Ordem Franciscana um ritual que pode parecer estranho: sua morte é celebrada não apenas com orações e missas, mas também com uma “recreação festiva”, na qual transparece a convicção de que um irmão partiu de volta para a casa do Pai.

Não vem ao caso comparar o Sr. José Alencar com São Francisco. Contudo, não deixa de ser impressionante a maneira serena com a qual fala de sua doença e da possível morte que bate à sua porta com insistência. Além desta atitude uma frase sua, inspirada num antigo filósofo, Sócrates, vai ficar gravada em nossas mentes: “Não temo a morte, mas a perda da honra”. Estas palavras e esta atitude não irão marcar apenas muitas pessoas, mas a nossa história.

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