Neste sábado, o Papa Bento XVI, numa mensagem dirigida ao Conselho Pontifício Justiça e Paz, deixou um forte apelo à comunidade internacional, para que empreenda o caminho do desarmamento global, construindo as bases de uma "paz duradoura". O Conselho está reunido no Vaticano para debater o tema "Desarmamento, desenvolvimento e paz. Perspectivas para um desarmamento integral".
"Renovo o apelo para que os Estados reduzam as despesas militares para o armamento e tomem em séria consideração a idéia de criar um fundo mundial destinado a projetos de desenvolvimento pacífico dos povos", apontou.
"A produção e o comércio de armas, salienta Bento XVI, estão em contínuo aumento e vão assumindo um papel decisivo na economia mundial. Há uma tendência para a sobreposição da economia civil à militar".
Para o Papa, este risco é grave "nos setores biológico, químico e nuclear, nos quais os programas civis não estão nunca seguros sem o abandono completo e geral dos programas militares e hostis".
Admitindo que cada Estado tem direito à defesa, Bento XVI indicou que a mesma "deve ser proporcionada aos perigos que o Estado corre".
"Até ao momento em que estiver presente o perigo de uma ofensa, o armamento dos Estados será necessário por razões de legítima defesa, que é um direito inalienável dos Estados, estando também ligado ao dever dos próprios Estados de defenderem a segurança e a paz dos povos. Contudo não deve ser considerado igualmente lícito qualquer nível de armamento", assinalou o Papa, defendendo o princípio de "suficiência".
Bento XVI salienta também a existência de autênticas "guerras do bem-estar", desencadeadas pelo egoísmo de quem quer manter o próprio nível de vida.
"Podem existir, observa o Papa, guerras desencadeadas por graves violações dos direitos humanos, pela injustiça e pela miséria, mas não se deve esquecer o risco de autênticas guerras do bem-estar, isto é, causadas pela vontade de expandir ou conservar o domínio económico em prejuízo dos outros".
"O simples bem-estar material, sem um desenvolvimento moral e espiritual pode cegar o homem ao ponto de o levar a matar o próprio irmão", alerta.
Bento XVI elenca, em seguida, alguns pontos necessários para tornar eficaz uma "opção decidida da comunidade internacional a favor da paz".
"No plano econômico é necessário empenhar-se para que a economia seja orientada para o serviço da pessoa humana, a solidariedade e não só para o lucro. No plano jurídico, os Estados são chamados a renovar o próprio empenho, em particular o respeito dos tratados internacionais já em vigor sobre o desarmamento e o controle de todos os tipos de armas, bem como a ratificação e a conseqüente entrada em vigor dos instrumentos já adoptados", adianta.
O Papa pede esforços contra a proliferação de armas ligeiras e de pequeno calibre, "que alimentam as guerras locais e a violência urbana, e matam demasiadas pessoas todos os dias no mundo inteiro".
A mensagem salienta ainda que fenômenos como o terrorismo à escala mundial prejudicam a esperança no futuro da humanidade.
"No mundo, denuncia Bento XVI, continuam a existir áreas sem um nível adequado de desenvolvimento humano e material, não são poucos os povos e pessoas privados de direitos e liberdades elementares".
Para o Papa, chegou a hora de mudar o curso da história, de recuperar a confiança, de cultivar o diálogo, de alimentar a solidariedade perseguindo o caminho de "um humanismo integral e solidário".