Artigo Frei Moser

Transmissão da vida em laboratório

Dr. Frei Antônio Moser
Assessor da CNBB para Assuntos de Bioética

Transmissão da vida em laboratório

Dr. Frei Antônio Moser / Foto: Arquivo pessoal

“Laboratório” virou uma espécie de palavra mágica para exaltar as últimas conquistas nos campos da Biogenética e da Biotecnologia. É dos laboratórios, cada vez mais sofisticados, que brotam esperanças e preocupações.

Esperanças de chegar a um conhecimento sempre mais profundo dos mistérios da vida e poder curar certos males, tidos até agora como incuráveis, sobretudo os de cunho genético. Mas é também dos laboratórios que se levantam as maiores interrogações. Algumas interrogações dizem respeito à possibilidade de produção de sofisticadíssimas armas bioquímicas e bactereológicas. Interrogações também quanto à donominada “reprodução humana assistida”.

Os primeiros ensaios de reprodução humana em laboratório já datam de inícios do século XX, quando foram feitas as primeiras experiências de “inseminação artificial”. Concretamente isto significa: colher esperma, observar o cíclo de uma mulher para detectar o período de fertilidade, introduzir o sêmen masculino no útero. Até certo ponto as primeiras tentativas eram um tanto “cegas”; hoje se age com maior precisão.

Uma vez aberto o caminho, uns decênios depois eram feitas as primeiras experiências de “fecundação artificial”. Isto significa: junta-se o óvulo e o espermatozóide na “proveta”, deixando que ali ocorra a fecundação. Só num segundo momento é feita, ou não, a transposição do óvulo fecundado para o seio de uma mulher.

Louise Brown, da Inglaterra, teria sido o primeiro bebê de proveta. Ela hoje está com 30 anos. Hoje, são inúmeras as pessoas, inclusive no Brasil, que já são filhos e filhas de laboratório. Apesar dos altos custos e dos muitos fracassos, a procura destes expedientes para superar a esterilidade ou a infertilidade é sempre mais freqüente.

Em 1997 o mundo tremeu com a notícia do nascimento da ovelha Dolly, através de um processo de “clonagem”. Clonar significa replicar, copiar. No caso, o que se fez foi transferir o núcleo de uma célula adulta de uma ovelha, para o óvulo esvaziado de outra ovelha. A cópia da Dolly foi tão perfeita que ela tinha geneticamente a idade da mãe e logo manifestou todas as doenças da mãe.

Há poucos meses anunciou-se a possibilidade de, por um processo de clonagem, criar novas células, inclusive germinais, com células da pele. Em si, não se vê muito bem em que o processo se diferencia daquilo que foi feito no caso da Dolly. Mas de qualquer forma, o grande susto provém de uma pergunta subjacente, já feita há dez anos atrás: será que depois da ovelha não vão reproduzir também o pastor? Ou seja: um “êxito” obtido no reino animal faz prever igual possibilidade entre humanos. E isto seria terrível.

Como desdobramento, ainda mais terrível da clonagem, hoje se fala também em “partenogênese”. Isto significa: nascimento virginal, pois neste processo não entra o elemento masculino: trata-se da transferência de um núcleo de um óvulo para um outro óvulo esvaziado do seu núcleo original. O resultado será um ser feminino e geneticamente empobrecido.

O que dizer de tudo isto? Ninguém melhor do que o Papa Paulo VI percebeu onde se encontrava o “nó” da questão: uma vez aberta a porta, ninguém mais consegue fechá-la. Concretamente: na medida em que o laboratório passou não mais a oferecer subsídios para os casais com dificuldades de terem filhos, mas a substituir o casal, a transmissão da vida humana em laboratório se transforma na primeira e mais radical forma de desumanização.

A própria expressão “reprodução” humana já diz tudo. A separação entre matrimônio-amor e procriação está na raiz de uma concepção materialista da vida. É por esta razão que não só a Igreja, mas qualquer pessoa de bom senso vai concordar com o que há anos atrás afirmou a Comissão para a Doutrina da Fé: “o filho é um Dom; não um direito”. À luz disto, perguntar-se o que fazer com os embriões sobrantes, congelados em laboratório, revela bem a casuística refinada.

A verdadeira questão não consiste em que fazer com o que já existe, mas em não provocar desta forma a existência. O que fazer com as cada vez mais sofisticadas armas de guerra? Todos sabem a resposta: não se faça mais. Este é um paralelo bem ilustrativo.

Evite nomes e testemunhos muito explícitos, pois o seu comentário pode ser visto por pessoas conhecidas.

↑ topo