Desde 1984, o Projeto Rachel representa a resposta da Igreja pela cura das famílias das feridas de uma interrupção voluntária da gravidez. A iniciativa, feita em mais de 110 dioceses dos Estados Unidos, pretende dar assistência pessoal a mulheres, homens e familiares que foram atingidos pelos efeitos espirituais e físicos de um aborto.
Dentro do projeto, toda vez que se inicia uma nova rede de assistência, dá-se uma atenção especial à formação dos operadores. O primeiro passo é dado pelos padres, operadores sanitários e outros profissionais, que discutem e analisam todos os problemas em relação às feridas do pós-aborto, para que consigam compreender os sofrimentos das mulheres que encontrarão e o que as levou a tomar essa decisão. “Portanto, é necessário preparar os operadores para reconhecerem essas feridas, que quase sempre são as mesmas de alguém que perdeu um filho de modo dramático. O que não podemos esquecer é que nós estamos aqui para ajudá-las a se reconciliarem com Deus, com seu filho e com elas mesmas e com outras pessoas envolvidas”. Fala a diretora executiva do Projeto Rachel, Victoria Thorn.
O perdão e o sacramento da reconciliação são aspectos fundamentais no percurso de cura das feridas do aborto. O próprio servo de Deus João Paulo II, na Encíclica Evangelium Vitae, de 1995, dirige um pensamento às mulheres que recorreram ao aborto: “Não abandonem a esperança, mas se abram com humildade e confiança ao arrependimento”.
A encíclica traz a data da Anunciação a Virgem Maria. “Escolhi esta solenidade pelo valor altamente significativo que ela reveste nesta relação ao tema da vida. Na Anunciação, a Virgem Maria acolhe sua divina maternidade. No sim que Maria pronuncia tem seu vértice o sim de cada mãe á vida da própria criança”.
Uma relação muito diferente daquela que uma parte da sociedade atribui à Igreja como aquela que condena o pecador. O cuidado pastoral das vítimas de um aborto é muito importante, não somente para a mulher que decidiu não ter a própria criança, mas para os pais e até mesmo os avós da criança não nascida.
Hoje, geralmente há uma imagem consciente da necessidade de envolver o homem na discussão sobre o aborto, mas geralmente a mulher está só. Em algumas sociedades se pensa ainda que o aborto não diz respeito ao homem, sem levar em conta que talvez ele pudesse salvar a criança e isso não foi possível; em todo caso, os homens sofrem e isso pode acontecer em um momento imediatamente sucessivo ao aborto, ou muitos anos mais tarde, quando eles se sentirão prontos para a paternidade.
A cura do trauma do aborto é tanto espiritual, quando humana. O Projeto Rachel, que está se difundindo também fora dos Estados Unidos, jamais perde de vista esses dois aspectos, mesmo quando se trata de pessoas de outras crenças.