Num tom de despedida e esperança, o arcebispo de Maracaibo, na Venezuela, Dom Ubaldo Santana Sequera, disse hoje na Missa da Conferência de Aparecida (SP), que a exemplo do que aconteceu no início da Igreja, "há de prolongar-se e manifestar-se o Pentecostes de Aparecida no tempo ordinário da vida e história" da América Latina e no Caribe.
A dois dias do término do encontro que tem quase pronto seu Documento Final, o arcebispo enfatizou que os textos sozinhos não mudam o mundo, mas sim "o amor de Cristo que o Espírito derrama em nossos corações".
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LEIA esta homilia na íntegra (tradução: Canção Nova Notícias)
"Meus queridos irmãos e irmãs no Senhor Jesus, há dois dias celebramos a Solenidade de Pentecostes, grande festa que encerra o tempo da Páscoa com o dom do Espírito Santo prometido por Jesus Cristo, dom dado à Virgem Maria e aos primeiros apóstolos e por meio deles aos seus discípulos e discípulas de todos os tempos.
Reunidos em torno a Nossa Senhora de Aparecida, nós também somos testemunhas do cumprimento dessa promessa que nos transforma em discípulos missionários de nosso Senhor para transmitir com força e alegria, no início deste século XXI, sua vida abundante e plena a nossos povos. Assim como na narração contida no Livro dos Atos dos Apóstolos foi manifestado como se difundiu e deu fruto o primeiro Pentecostes nos tempos apostólicos, assim mesmo há de prolongar-se e manifestar-se o Pentecostes de Aparecida no tempo ordinário da vida e história de nossas igrejas.
Não é por acaso que a missão ordinária e fundamental da Igreja é a de injetar no coração do tempo e da cotidianidade das coisas a vida nova de Pentecostes, colocando no coração e na mente do ser humano o Evangelho de Jesus que tudo transforma, que tudo faz novo.
Esta V Conferência está terminando, já está avançado o documento final, mas o mais importante é que todos e todas que estivemos aqui nesses dias de graça, tenhamos sido profundamente renovados em nossos corações. Aparecida tem de ter sido para nós a lição inaugural desta Igreja, casa e escola de comunhão que todos desejamos implantar em nossos respectivos países. Sabemos o quão importante é um bom documento, mas também sabemos que não são os documentos por si só que transformam o mundo. É o amor de Cristo – que o Espírito derrama em nossos corações – o que transforma o mundo e permite dar uso adequado a qualquer documento.
O testemunho dos milhares de peregrinos que dia após dia têm chegado a Aparecida nos dá exemplo de uma fé alegre e sincera, de uma enorme capacidade de sacrifício e entrega. A esperança se faz presente na atitude recorrida e serena com que tanta gente sincera faz da oração pessoal e comunitária uma festa do Espírito.
A corrida que se brinda na casa da Mãe aos que chegam, o despojamento nos serviços pastorais, assim como a liturgia cotidiana e festiva também preparada e cuidada é um estímulo e referência para a missão que nos está sendo confiada. Ao caminhar por quase três semanas com este Rio Paraíba vivente de peregrinos, o Mestre nos abriu o entendimento ao Evangelho das Bem-aventuranças e nos mostrou o rosto sempre jovem de seu infinito amor pela Fração do Pão compartilhado e, agora, nos pede para sairmos em missão.
Na primeira leitura, o livro do Eclesiástico nos convida a reconhecer uma vez mais que todo o bem, grande e nobre que temos recebido e compartilhado juntos nesses dias, procede do amor infinito de nosso Pai. E o maior tesouro que podemos levar de Aparecida para nossas igrejas é uma renovada e mais lúcida convicção de que em Jesus Cristo, o Filho de Deus, que se fez homem no seio de Maria, nos deu tudo e, por Ele, com Ele e n’Ele tudo põe à nossa disposição. Quando o discípulo, com a luz da graça, descobre que Jesus quer compartilhar tão grande tesouro com os seus, introduzi-los no círculo de seus amigos amados pelos quais está disposto a dar inclusive sua vida própria, que não se reserva nada, e sim que tudo dá e nada reclama, então, se ativa dentro de seu coração um desejo que se transforma numa decisão: corresponder a Deus com a mesma generosidade, com o mesmo amor.
Aqui está a origem do que podemos chamar "a espiritualidade de retorno agradecido", aqui está também, para os seguidores e os discípulos de Jesus, a origem do dízimo, oferenda voluntária em que os crentes fazem a Deus daquilo que lhes pertence e lhe devolvem com alegria. Dê ao Altíssimo segundo a medida que Ele lhe tem dado, dê-Lhe tão generosamente quanto possa porque o Senhor sabe recompensar e lhe dará sete vezes mais. Esta espiritualidade de retorno agradecido está inspirando novos caminhos pastorais em nossas igrejas, onde homens distintos compartilham na pastoral do dízimo, a pastoral da co-responsabilidade. Este é um dos caminhos por onde o Senhor quer levar a nossas igrejas a compartilhar desde as nossas pobrezas e fazer-nos discípulos e missionários co-responsáveis.
Toca-nos, agora, retornar à casa para devolver a Deus e às pessoas, famílias e comunidades de nossas igrejas, tudo o que temos recebido do Senhor nesta V Conferência. Que o Senhor nos dê a força não só de devolver o dízimo do que Ele nos tem dado, mas também que como o primeiro discípulo missionário de Jesus, Pedro, estejamos dispostos a deixar tudo para segui-Lo até o final e ter somente Ele, presente em meio às nossas igrejas, como nossa única recompensa.
Que Maria de Aparecida nos acompanhe no caminho de retorno e nos alente em nossas resoluções para que nossos povos, com nossas chegadas, comecem a viver uma nova etapa de vida verdadeira e de esperança inquebrantável. Amém."