Em entrevista, o arcebispo metropolitano de Palmas (TO), Dom Alberto Taveira fala de aspectos importantes da V Conferência e de suas aspirações.
V Conferência
A realização da V Conferência Geral do Episcopado Latino e do Caribe, deve ser compreendida como um presente especial de Deus. É sinal que Deus quer alguma coisa de todos nós. Se o tema da Assembléia é “Discípulos e missionários de Jesus Cristo, caminho verdade de vida, para que nEle os nossos povos tenham vida”, vale para a América Latina toda.
Em Aparecida
O fato ser em Aparecida, eu ouvi muitos bispos, especialmente de outros países, dizendo que deve nascer um estilo mariano de viver a evangelização, tem vindo muito a tona, pelo fato ser num Santuário Mariano. É a primeira vez que uma Conferência acontece num Santuário e num Santuário Mariano de Nossa Senhora Aparecida, para nós significa muito. Eu encontro aqui os apelos: primeiro de um maior conhecimento da Palavra de Deus, do seguimento mais estreito de Jesus. Encontro aqui o apelo de ser mais missionário, com maior ardor, maior empenho no anúncio da Palavra de Jesus Cristo.
Em um dos grupos de trabalhos desses dias eu coloquei que o caminho percorrido por Nossa Senhora é um grande modelo para o discipulado e a missionariedade.
A anunciação, Maria que diz “sim”, aí está o querigma.
Maria que diz “sim” ao próximo, o serviço de Nossa Senhora a Isabel. Quem diz sim a Deus e ao próximo, o resultado é o que vê em Belém, o nascimento.
O anúncio do mistério do sofrimento. Os sinais de contradição na vida da Igreja.
O quarto mistério gozoso, Nossa Senhora com São José que leva o Menino para o Egito, salvar aquilo que pertence a Deus a qualquer custo, manter a fidelidade. Mas depois o Menino que se perde lá no templo e que tem que cuidar das coisas da Casa do Pai.
A vida em Nazaré que é a vida cotidiana, até chegar em Caná Nossa Senhora é discípula para chegar até a cruz.
A fidelidade de Nossa Senhora nos mistérios do sofrimento, no mistério pascal, para depois Nossa Senhora está ali na ressurreição e no pentecostes, e pentecostes é o envio missionário da Igreja.
Eu tenho a impressão de que muitas dessas realidades virão à tona, se Deus quiser, no próprio texto que nós elaboraremos nesses dias.
Metodologia da V Conferência
Nós começamos a Conferência com as palavras do Santo Padre. Eu encontrei com um bispo esses dias e ele me disse: “Eu já li quatro vezes o discurso do Papa, cada vez que leio, descubro coisas diferentes”. Ontem eu pessoalmente tirei o tempo para estudar o discurso do Papa, e cada vez que passa descobrimos coisas novas. Depois do Papa o que fizemos? Uma manhã de retiro de oração, terminamos com um momento de adoração, bênção do Santíssimo e depois começou acontecer o andamento da nossa Conferência.
Foi feita uma exposição de abertura do conteúdo, discípulos e missionários de Jesus Cristo. Em seguida tendo essas coisas diante dos olhos, agora nós vamos pensar o seguinte, qual é nossa realidade? Olhar, como disse o documento de síntese anterior a Conferência, com os olhos do Pai, ver o mundo que nos encontramos.
Fizemos o levantamento de tantas e tantas situações que são provocativas para a Igreja, para a sua missão evangelizadora. Depois de enxergar a realidade nós fomos meditar mais profundamente sobre o que significa ser discípulo de Jesus, trabalhamos em grupo e aí forma várias opiniões, e que aspectos nós vamos tratar até chegar o sábado.
Cada um dos 15 grupos teve um momento de reunião, e nós definimos 10 assuntos que achávamos mais importantes. Então você fala da evangelização, da catequese, da opção pelos pobres, das situações das diversas regiões, no nosso caso, colocamos muito a Amazônia, fala também da formação dos discípulos das paróquias, das comunidades, dos movimentos e daí por diante.
No sábado de manhã eu tive a oportunidade, quando se abriu a Palavra, porque se tratava da formação dos discípulos, depois de trabalharmos nesses grupos, eu pedi a palavra e fiz uma intervenção a respeito exatamente do discipulado através dos passos do querigma, seguindo a Evangelium Nuntiandi de Paulo VI. Mostrando que nós não poderíamos deixar de colocar o anúncio do amor de Deus, o pecado, fé e conversão, Jesus Cristo Salvador, o Espírito Santo, a Igreja, esses pontos que nós conhecemos do carisma. Eu senti que era uma contribuição que eu deveria oferecer e eu fiz já no sábado.
No final de semana, a comissão de redação preparou o primeiro esquema de um possível documento da Assembléia da Conferência. Hoje pela manhã recebemos esse esquema e fomos agora outra vez, em grupo dizer se aceitamos ou não esse esquema. Que acréscimos queremos fazer. Que cortes queremos fazer. Se achamos que isso vai ficar claro para o povo de Deus ler. Foi o nosso trabalho na manhã de hoje.
Agora a tarde nós receberemos o grande esquema do documento a ser feito sobre “discípulos e missionários de Jesus Cristo, caminho verdade e vida, para que nEle nossos povos tenham vida”. Haverá então uma votação nesse esquema de documentos, a partir daí, os bispos serão divididos em comissões. Exemplo, uma comissão se define assim, o assunto é paróquia, ou estruturas de Igreja, se eu ficar nessa comissão eu vou me dedicar a estudar, a procurar tudo que puder para compor um texto junto com os membros dessa comissão. No final de semana, teremos uma primeira redação deste documento que será analisada, será votada. Tem uma sessão de oradores escritos, tem uma sessão onde os oradores podem dizer isso foi votado, mas não foi aprovado, mas eu quero pedir um destaque. É um documento feito a muitas mãos, e mais do que tudo, com muitos corações, mas o nosso desejo é que seja um coração e uma alma. Nós todos estamos preocupados com o bem do povo de Deus, o resultado é que nessas idas e vindas nós vamos trabalhar em várias redações deste texto até que cheguemos no dia 30 de maio, será então a votação final do documento conclusivo desta V Conferência. Depois esse texto será enviado ao Papa e ele então dará a determinação de sua publicação.
Mudança de época
Se a Igreja não estiver preparada para a mudança de época, ela tem que se preparar imediatamente, porque nós deveremos evangelizar todas as épocas, as mudanças que vivemos agora são muito profundas. Mudanças no mundo que a nossa geração não viveu. Hoje, o grande poder é o conhecimento, as comunicações. O mundo se tornou uma pequena aldeia, você sabe imediatamente tudo que acontece em qualquer parte do mundo. Isso muda. Só que temos uma convicção que foi repetida esses dias várias vezes. O Papa disse que a mensagem de Jesus Cristo, o evangelho, não cancela, antes valoriza e faz eventualmente corrigir alguma coisa de qualquer cultura. Nós estamos convencidos disso, que o evangelho é a boa nova para a nossa cultura para essa chamada nova época que nós nos encontramos, como foi para todas as épocas da história da humanidade. Nós temos essa convicção. Um dos objetivos dessa conferência é que nós tomemos posições claras, e não só posições dizendo assim: “o mundo não presta”, ou simplesmente dizer: “tudo que existe no mundo é bom”. Aquilo que a grande impressa durante esse período tem feito, uma grande preocupação como se nós fossemos mudar as convicções da Igreja. As idéias que nós temos que nasce da Sagrada Escritura, nasce da revelação. A Igreja precisa discernir, ela olha a realidade, mas ela pergunta, sobretudo, qual é a vontade de Deus.
A Igreja primeiro reza, presta atenção, vê o mais profundo da vida das pessoas, e não é que ela vai dizer ‘agora vamos decretar as mudanças’, não, não é por aí. Existem valores que são cláusulas pétreas para nós, porque são aqueles valores da dignidade da pessoa humana, a dignidade da vida, o nome de Deus.
O Papa deu a grande chave para viver a nossa época, quem conhece a realidade, é quem conhece a Deus. Eu sei que isso é nadar contra a correnteza, porque muitas pessoas acham que a gente precisa tirar só um retrato, ou fazer um filme de cada situação. Não, o que o Papa disse é o seguinte: “Só quem conhece a Deus pode conhecer devidamente a realidade”. Foi uma afirmação de uma verdade profundíssima, mas também muito ousada, diante do nosso mundo que quer fazer assim, como se fosse uma prateleira de supermercado. Onde alguém diz assim: “toda religião é boa”. Alto lá! Se eu não estivesse absolutamente convicto de que eu estou “no caminho”, e não “num caminho” eu não estaria na Igreja Católica. Para mim, é absolutamente certo, por graça de Deus, que eu estou na Igreja Católica e sou filho da Igreja. E acho que a pessoa que é de outra religião, se ela não tiver essa convicção, então ela não vai permanecer na sua religião. É claríssimo pra mim. Por isso, o Papa disse: “Quem não conhece a Deus, não conhece bem a realidade”.
Olhar de Esperança
O nosso olhar é sempre positivo, porque Deus não nos fez para o pecado, Deus nos fez para viver na graça. Nós somos chamados a buscar as coisas do Alto, a olhar para frente e olhar para cima. Como a festa da Ascensão do Senhor nos ensinava isto. Eu sempre fico me perguntando: “Para onde devo olhar?” Porque os anjos apareceram e os apóstolos olharam para o alto, e os anjos disseram: “Para onde vocês estão olhando? Este mesmo Jesus um dia vai voltar”… E eu fiquei fazendo a pergunta: “Para onde eu devo olhar”? E aí eu olhava para as montanhas, aqui em Aparecida, e percebi que quando eu olho para frente, o céu e a terra se encontram lá adiante. A visão da Igreja é assim, ela olha para frente. Por isso ela diz: “Vem Senhor Jesus! Maranathá!” Todos os dias ela diz isso, porque quando ela olha para o céu, olha para frente, e a terra e o céu se encontram. Aqui dentro nós temos realmente o lugar onde Deus quer agir, quer atuar, para fazer com que nós sejamos pessoas renovadas em Sua graça.