Vacina, que pode chegar a mais de mil reais na rede particular, agora será distribuída pelo SUS em todos os estados e no Distrito Federal
Aline Imercio
De São Paulo

Foto: Arquivo
Nesta semana, o Ministério da Saúde anunciou a incorporação da vacina contra o vírus sincicial respiratório no plano nacional de imunização, esse é o principal causador da bronquiolite em crianças de até dois anos. A vacina, que pode chegar a mais de mil reais na rede particular, agora será distribuída pelo SUS em todos os estados e no Distrito Federal. O público prioritário será o de gestantes a partir da 28° semana de gravidez.
Nossa equipe de reportagem em São Paulo conversou com o doutor Eduardo Jorge da Fonseca Lima, presidente do Departamento Científico de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), sobre a vacina VSR.
O que é a bronquiolite?
Dr. Eduardo Jorge – É uma doença respiratória das vias aéreas superiores, portanto, acometem o pulmão, causa um quadro inflamatório, que vai dar uma dificuldade para a criança respirar. As crianças ficam com sibilo, que é aquele chiadinho do pulmão, e aí há uma dificuldade da troca do oxigênio.
Os casos de bronquiolite são graves?
Dr. Eduardo Jorge – Na bronquiolite, a maioria dos casos são manifestações leves, é importante que as pessoas saibam. Entretanto, como ele é altamente prevalente, como é o primeiro contato do lactente nos primeiros meses com este vírus, tem um percentual que fazem quadro grave, que é preciso se internar, que é preciso ir para UTI. E se tiver algum fator de risco adicional como prematuridade, doença pulmonar e doença cardíaca, malformação cardíaca, esse risco ainda é maior. Mas também temos crianças saudáveis, que podem fazer quadros de bronquiolite.
Qual é a importância do SUS distribuir a vacina VSR?
Dr. Eduardo Jorge – Então, essa é uma das notícias mais esperadas do ano. A incorporação da vacina do VSR para gestantes é uma medida que tem a expectativa de comprovar impacto e de reduzir internamento por bronquiolite. Nós destacamos que na sazonalidade, que acontece em média no país como um todo, de março a maio é o período de maior quantidade de crianças que fazem o quadro de Síndrome Aguda Respiratória Grave, por bronquiolite. A bronquiolite é uma das principais causas de doença respiratória, que precisa de internamento hospitalar. Então a gente vê com muita alegria esta possibilidade real de começar a vacinação ainda este ano.

A vacina contra o vírus que é o principal causador da bronquiolite / Foto: Governo do Estado de São Paulo
Por que a vacina será aplicada em gestantes e não nos bebês?
Dr. Eduardo Jorge – Nós temos a imunização ativa, que é quando a gente dá uma vacina em um bebê e o bebê vai produzir seu anticorpos, o que acontece com a difteria, por exemplo, e as vacinas da primeira infância. E nós temos a imunização passiva, que é administrar a vacina na gestante, ela produzir esses anticorpos e esses anticorpos passar para o bebê pela placenta.
No Brasil, optamos por vacinar a grávida, ela produzir seus anticorpos e passar este anticorpo para o bebê nos primeiros seis meses de vida. É muito importante deixar claro que os primeiros seis meses de vida é um período de maior quantidade de adoecimento pelo vírus VSR. Então, quando a gente administra a vacina para a gestante, a criança já nasce com anticorpos prontos. Portanto, esses anticorpos transmitidos pela mãe duram cerca de seis meses a proteção, que é o período que as crianças fazem a bronquiolite mais grave.
E qual é a porcentagem de proteção para esses bebês, durante esses seis meses?
Dr. Eduardo Jorge – Eu diria que para as formas graves, para a forma interna, é uma proteção de cerca de 80%, que isso pensando em vacina é uma proteção bastante razoável. A gente sabe que poderemos ter uma redução significativa já no próximo ano, e nós já tenhamos uma redução daquelas filas de crianças aguardando vaga para ser internadas por bronquiolite.
Essa vacina tem alguma contra indicação ou ela não representa nenhum perigo para a gestante?
Dr. Eduardo Jorge – As vacinas que são administradas para gestantes, a gente tem um olhar especial. Ela tem que proteger a mãe, mas especialmente neste caso, proteger o recém nascido e ser segura, não ter efeitos adversos graves, não provocar risco de parto prematuro ou malformações. Essa vacina, ela nasce após estudos de fase três, que atestaram a sua eficácia, mas também a sua segurança.
Então a gente destaca que as gestantes fiquem tranquilas, esta é uma vacina que é segura, que vai proteger o seu bebê de uma doença grave como a bronquiolite e não vai ter aumento de risco de efeitos adversos graves. A não ser, evidentemente, os efeitos adversos tradicionais das vacinas: dor local, uma febre baixa, vermelhidão no local da aplicação.




