Relatório foi elaborado após o resultado dos trabalhos da comissão, que excluiu a possibilidade do diaconato feminino, embora o julgamento não seja definitivo
Da Redação, com Vatican News

Foto: Canva Pro
A sala de imprensa da Santa Sé publicou, nesta quinta-feira, 4, uma síntese da comissão de estudo sobre o diaconato feminino. O texto, preparado pelo presidente da comissão, Cardeal Giuseppe Petrocchi, informa que o resultado dos trabalhos diz não ao diaconato feminino, embora o julgamento não seja definitivo.
“O status quaestionis em torno da pesquisa histórica e da investigação teológica, consideradas em suas implicações mútuas, exclui a possibilidade de prosseguir na direção da admissão de mulheres ao diaconato entendido como grau do sacramento da ordem. À luz da Sagrada Escritura, da Tradição e do Magistério eclesiástico, esta avaliação é forte, embora não permita, até o momento, formular um julgamento definitivo, como no caso da ordenação sacerdotal”, expressa o texto.
O resultado em questão foi alcançado pela segunda comissão presidida pelo Cardeal Petrocchi, que, a pedido do Papa Francisco, examinou a possibilidade de proceder com a ordenação de mulheres diaconisas e concluiu seus trabalhos em fevereiro passado. O relatório de sete páginas foi enviado ao Papa Leão XIV em 18 de setembro e agora se torna público a pedido do Pontífice.
Histórico das sessões de trabalhos
Na primeira sessão de trabalhos (2021), a comissão estabeleceu que “a Igreja reconheceu em diferentes épocas, em diferentes lugares e de várias formas o título de diácono/diaconisa referido às mulheres, atribuindo-lhe, porém, um significado não unívoco”.
Em 2021, por unanimidade, o debate teológico levou à afirmação de que “o aprofundamento sistemático sobre o diaconato, no âmbito da teologia do sacramento da ordem, levanta questões sobre a compatibilidade da ordenação diaconal das mulheres com a doutrina católica do ministério ordenado”. Também por unanimidade, a comissão se manifestou a favor da instituição de novos ministérios que “possam contribuir para a sinergia entre homens e mulheres”.
Na segunda sessão de trabalhos (julho de 2022), a comissão aprovou (com 7 votos a favor e um contra) a formulação relatada integralmente no início deste artigo, que exclui a possibilidade de prosseguir na direção da admissão de mulheres ao diaconato como grau do sacramento da ordem, mas sem formular hoje “um julgamento definitivo”.
Por fim, na última sessão de trabalhos (fevereiro de 2025), após o Sínodo ter permitido a quem quisesse enviar sua contribuição, a comissão examinou todo o material recebido. “Embora as contribuições recebidas fossem numerosas, as pessoas ou grupos que enviaram seus trabalhos eram apenas 22 e representavam poucos países. Consequentemente, embora o material seja abundante e, em alguns casos, habilmente argumentado, não pode ser considerado como a voz do Sínodo e muito menos do povo de Deus como um todo”.
Posições favoráveis e contrárias
O relatório resume os prós e os contras. Os favoráveis argumentam que a tradição católica e ortodoxa de reservar a ordenação diaconal (mas também a presbiteral e episcopal) apenas aos homens parece contradizer “a condição de igualdade entre homem e mulher como imagem de Deus”, “a igual dignidade de ambos os gêneros, baseada neste dado bíblico”, a declaração de fé de que: “Já não há judeu nem grego, nem escravo e livre, homem e mulher, porque todos vós sois ‘um’ em Cristo Jesus” (Gálatas 3, 28), e o desenvolvimento social “que prevê igualdade de acesso, para ambos os gêneros, a todas as funções institucionais e operacionais”.
Por outro lado, foi apresentada esta tese: “A masculinidade de Cristo, e portanto a masculinidade daqueles que recebem a ordem, não é acidental, mas parte integrante da identidade sacramental, preservando a ordem divina da salvação em Cristo. Alterar essa realidade não seria um simples ajuste do ministério, mas uma ruptura do significado nupcial da salvação.” Este parágrafo foi submetido à votação e recebeu cinco votos a favor de sua confirmação com essa formulação, enquanto os outros cinco membros votaram pela sua anulação.
Com 9 votos a favor e um contra, foi formulado o desejo de que seja ampliado “o acesso das mulheres aos ministérios instituídos para o serviço da comunidade (…), garantindo assim também um reconhecimento eclesial adequado à diaconia dos batizados, em particular das mulheres. Esse reconhecimento se revelará um sinal profético, especialmente onde as mulheres ainda sofrem situações de discriminação de gênero”.
As conclusões do Cardeal Petrocchi
Em suas conclusões, o Cardeal Petrocchi destaca que existe “uma intensa dialética” entre duas orientações teológicas.
A primeira afirma que a ordenação do diácono é para o ministério e não para o sacerdócio: “Esse fator abriria caminho para a ordenação de diaconisas”.
A segunda, por outro lado, insiste “na unidade do sacramento da ordem sagrada, junto com o significado esponsal dos três graus que o constituem, e rejeita a hipótese do diaconato feminino. Observa, além disso, que se fosse aprovada a admissão de mulheres ao primeiro grau da ordem, seria inexplicável a exclusão dos demais”.
Por isso, segundo o cardeal, é indispensável, para prosseguir com o estudo, “uma análise crítica rigorosa e ampliada conduzida sobre o diaconato em si mesmo, ou seja, sobre sua identidade sacramental e sua missão eclesial, esclarecendo alguns aspectos estruturais e pastorais que atualmente não estão totalmente definidos”.
De fato, há continentes inteiros nos quais o ministério diaconal é “quase inexistente” e outros onde ele atua com atividades que muitas vezes “coincidem com os papéis próprios dos ministérios laicais ou dos ministrantes na liturgia”.




