Refletindo sobre o Dia Mundial dos Pobres, Alessandra Miranda, assessora da CNBB, pondera sobre o papel da Igreja no cuidado com quem vive à margem da sociedade
Thiago Coutinho
Da redação

A Igreja recorda neste domingo, 16, o Dia Mundial dos Pobres / Foto: Freepik.com
“Tu és a minha esperança” (Sl 71,5) é o tema que a Igreja escolheu para, neste domingo, 16, recordar o Dia Mundial dos Pobres, celebrado sempre no 33º Domingo do Tempo Comum. Este é o primeiro ano da data celebrada no pontificado de Leão XIV, que coincide com a recente publicação de sua encíclica, “Dilexi te“, em que o Bispo de Roma discorre sobre o amor aos pobres.
“As atividades [do Dia Mundial dos Pobres] foram pensadas com mais ênfase nos processos para a dinâmica da assistência imediata”, revela Alessandra Miranda, assessora da Comissão Episcopal para Ação Sociotransformadora da CNBB. “Temos um subsídio organizado pela CNBB para ajudar as pessoas a refletirem sobre o tema a partir da carta escrita pelo Papa Leão XIV e também com algumas sugestões concretas de ações que podem ser realizadas nos territórios, ou seja, nas igrejas locais. E é muito importante que, nesse momento, as ações de atendimento emergenciais sejam consideradas”.
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Sobre ajudas emergenciais, a assessora se refere a alimentação, vestuário e cuidados com a saúde, itens essenciais a uma vida digna. “Trata-se de ações que possam atender às pessoas que estão em profunda vulnerabilidade social e financeira. Quem tem fome não pode esperar, quem tem necessidades básicas de sobrevivência não pode esperar. Então a gente chama e mobiliza para que as ações emergenciais sejam fomentadas para cuidar de fato daqueles que mais necessitam”, observa.
Dilexi te
Em sua primeira exortação apostólica, “Dilexi te“, o Papa Leão XIV discorre sobre o amor aos pobres. Em um mundo que ainda caminha para o consumismo exacerbado e egoísta, o discurso cristão vai de encontro ao que os sistemas econômicos vigentes pregam. Ao cristão que assimila esta realidade, é importante que tenha em mente, segundo Alessandra, que é preciso pensar na condição das pessoas empobrecidas e nas causas que geram as desigualdades sociais.
“Nesse documento, o Papa enfatiza que os pobres não podem ser um passatempo para a Igreja, sim missão. E vai trazer justamente essa dimensão das políticas públicas, da dimensão das desigualdades que são geradas a partir de relações desiguais”, pondera Alessandra.
“Quem tem fome não pode esperar, quem tem necessidades básicas de sobrevivência não pode esperar.”
Alessandra Miranda
O documento papal pode ser um norte para que a sociedade entenda que pobreza não é escolha e aqueles que vivem à margem da sociedade precisam de cuidados. “Existem causas para a pobreza”, afirma a assessora da CNBB. “A pobreza não é uma escolha, mas é uma consequência de uma política econômica ou de desenvolvimento (…) Então, é muito importante essa chamada de atenção que o Papa faz e que a Igreja do mundo inteiro faz na perspectiva da missão da caridade. Uma caridade que tenha crítica, que tenha justiça social, que faça perguntas estruturantes do porquê existe fome, miséria, violências. Por que uns acumulam tanto e uns têm tão pouco para sobrevivência? Isso é Doutrina Social da Igreja.”, analisa.
É importante que essa doutrina social desenvolvida pela Igreja seja aplicada em todas as suas instâncias, como nas dioceses e paróquias. “Esse processo a gente só consegue com caminhos formativos locais, a partir dos lugares de participação e de atenção das ações pastorais nas igrejas locais. Essas são algumas das pistas de ação que a gente pode deixar para superar”, diz Alessandra.
Ações concretas
Em coordenação com pastorais e dioceses, a Igreja e a CNBB desenvolveram um leque diversificado de ações práticas e concretas para a celebração do Dia Mundial dos Pobres. Um dos pilares centrais da mobilização é a ênfase na celebração eucarística inclusiva, buscando garantir que os mais vulneráveis não apenas sejam lembrados na liturgia, mas que se tornem participantes ativos. Para isso, a orientação é clara: além de incorporar a temática nas sugestões litúrgicas, as comunidades estão sendo incentivadas a sair dos templos e realizar a Eucaristia em abrigos, casas de recuperação, asilos e centros comunitários, acolhendo especialmente a população em situação de rua e aqueles que se sentem excluídos dos espaços tradicionais da Igreja.
Esta iniciativa visa quebrar barreiras de vergonha e promover um encontro direto, celebrando a mesa da Eucaristia junto com os que mais necessitam. “Elementos que ajudam também na autoestima dessas pessoas”, acrescenta a assessora da CNBB. Tais ações visam elevar a autoestima e oferecer serviços essenciais a quem não tem acesso.
Outro eixo importante é a valorização cultural e o lazer, com a realização de sarais, peças de teatro, desfiles com idosos e momentos de poesia, incentivando os participantes a expressarem seus dons e talentos.




