Dando continuidade aos grandes eventos do Ano Santo, a Igreja celebra nesta segunda-feira, 15, o Jubileu da Consolação e exalta o cuidado com aqueles que atravessam momentos de tristeza
Thiago Coutinho
Da redação

Foto: RDNE Stock project de Pexels via Canva
Nesta segunda-feira, 15, como parte da programação do Ano Jubilar, a Igreja celebra o Jubileu da Consolação. O momento é dedicado às pessoas que passam, ou passaram, por momentos de tristeza, aflição e dificuldade, sejam elas quais forem. Para este evento no Vaticano foram especialmente convidados “todos aqueles que vivem um momento de dor e de aflição, devido a doença, luto, violência e abusos sofridos, bem como os seus familiares e amigos”.
O tema do Jubileu é a esperança, virtude e base para consolação que a Igreja oferece aos fiéis em todos os tempos, especialmente naqueles de sofrimento e crise. “Isso me faz recordar o Papa Francisco”, afirma Ir. Patrícia Silva, fsp, “para quem a Igreja é chamada a ser sempre a casa aberta do Pai, ‘não uma alfândega, mas a casa paterna onde há lugar para cada um e para todos'”.
A religiosa recorda os diversos momentos em que o finado Jorge Mario Bergoglio partilhou momentos dolorosos da humanidade, como a visita ao campo de extermínio de Auschwitz-Birkenau ou as diversas escutas das vítimas das guerras. “[Ele] sempre lutou contra a globalização da indiferença. Também o Papa Leão XIV, desde o início, tem se posicionado consistentemente contra a guerra, chamando-a de ‘sempre uma derrota’ e uma ‘barbárie’, e tem feito repetidos apelos por paz, diplomacia e pelo fim dos conflitos na Ucrânia, Israel e Gaza. Ele enfatiza a dor humana e o perigo das pessoas se tornarem indiferentes com os conflitos. A Igreja também oferece a mediação do Vaticano para negociações de paz e pede o silêncio das armas”, observa.
“A esperança, como virtude teologal, não é apenas um otimismo humano, mas a confiança firme nas promessas de Deus”, recorda padre Jadilson Ferreira, da Arquidiocese do Rio de Janeiro. “Nos momentos de crise e sofrimento, ela nos faz olhar para além das circunstâncias imediatas e fixar o coração em Cristo ressuscitado, que venceu o mal e a morte. Assim, a esperança fundamenta a consolação da Igreja, porque permite que cada dor seja iluminada pela certeza de que Deus conduz a história e não abandona os seus filhos”, reforça o religioso.
Mãe e Mestra
A Igreja, em sua essência, é chamada a ser Mãe e Mestra. Enquanto uma instituição e comunidade de fé, materializa o papel de “mãe de consolo”, sobretudo àqueles que se sentem desamparados ou perdidos em suas dificuldades. “De muitas formas a Igreja manifesta sua maternidade e seu ensino”, prossegue Ir. Patrícia. “Está presente junto aos que sofrem por todo o mundo pelas comunidades, dioceses, paróquias, congregações, missionários, com as diversas pastorais, movimentos e serviços para amenizar o sofrimento das pessoas e promover a vida”.
A Igreja é “Mãe e Mestra” porque acolhe com afeto materno, aponta padre Jadilson. “Ela se torna ‘mãe do consolo’ quando, movida pelo Espírito Santo, acolhe os que sofrem, chora com os que choram e oferece a eles o rosto misericordioso de Cristo. Isso se concretiza tanto na proclamação da Palavra que ilumina os corações, quanto no serviço concreto de caridade e na escuta atenta”, analisa o presbítero.
Eucaristia e Reconciliação
Neste contexto misericordioso em que a Igreja acolhe aqueles que sofrem, um grande auxílio são os sacramentos. Dentre eles, a Eucaristia e a Reconciliação, que podem funcionar como canais concretos de consolação e renovação da esperança para os fiéis em suas jornadas de fé, inclusive nesses momentos de angústia. “Os sacramentos são canais visíveis da graça invisível de Deus. Na Eucaristia, o fiel encontra a presença real de Cristo, pão vivo que fortalece e consola os corações abatidos, tornando-se alimento da esperança”, observa padre Jadilson.
“A Eucaristia pode ser definida como um banquete”, emenda Ir. Patrícia. “O Catecismo da Igreja Católica a define como ‘comunhão de vida com Deus e unidade do povo de Deus’ (CIC 1325). Ou como diz o Apóstolo Paulo, que fala de liturgia do céu, em que antecipamos a vida eterna, quando Deus será tudo em todos (1Cor 15,28). Sem dúvida, Eucaristia e Reconciliação são canais concretos de consolação e renovação”, pondera a religiosa.
O desafio dos mártires
Ao longo da história da Igreja, muitos santos e mártires enfrentaram grandes provações. O testemunho deles, a fidelidade que os motivou, mesmo em meio ao sofrimento, podem consolar os fiéis em seus momentos mais atribulados.
“Celebramos, há pouco, a canonização de dois santos, Carlo Acutis e Pier Giorgio Frassati, que nos deram grande testemunho de fé e amor a Deus e aos irmãos”, cita Ir. Patrícia. “Qual o segredo destas pessoas de Deus? Muito simples: esqueciam-se de si para dar vida aos outros. Como fez Jesus”.
“Os santos e mártires são testemunhas vivas de que a esperança em Cristo não decepciona”, pontua padre Jadilson. O religioso reforça que as histórias desses santos mostram que a consolação não é ausência de dor, mas a força de permanecer firme porque Deus é fiel. “Eles nos ensinam que a esperança não é passiva, mas ativa: é perseverar, confiar, lutar e amar mesmo quando tudo parece perdido. O seu testemunho consola porque mostra que é possível vencer com Cristo e que a vitória final pertence ao amor”, exalta.
O papel dos fiéis
Questionados sobre o papel de cada fiel na construção de uma comunidade que seja, ela mesma, uma fonte de consolação e instrumento de esperança para os que sofrem, padre Jadilson e Ir. Patrícia são unânimes em um ponto: vivenciar a dor pode ser, sim, uma maneira de se aproximar de Deus.
“A Igreja não é apenas o clero, mas o Corpo de Cristo, onde cada membro é chamado a ser sinal de esperança. Isso se concretiza no cuidado mútuo, na solidariedade, no serviço aos necessitados e na capacidade de escutar e acolher”, afirma o padre da Arquidiocese do Rio de Janeiro.
“A Igreja também é composta por muitos membros, cada um com seus dons e talentos dados por Deus para o bem do todo”, acrescenta a religiosa. “Essa comunhão e interdependência são fundamentais para a saúde e o funcionamento da Igreja, em que o sofrimento de um membro afeta a todos e a alegria e a esperança de um é compartilhada por todos”, finaliza.
Na tarde desta segunda-feira, 15, o Papa Leão XIV presidirá uma vigília pelo Jubileu da Consolação, na Basílica Vaticana, como parte do evento do Ano Santo.