Em mensagem, Leão XIV defendeu uma “cultura social saudável” e frisou que o diálogo também “vivido em ações” é um caminho poderoso para a paz
Da Redação, com Boletim da Santa Sé

Foto: ALESSIA GIULIANIIPA/Sipa USA via Reuters
O Papa Leão XIV enviou uma mensagem aos participantes do Encontro Inter-religioso que acontece em Bangladesh desde sábado, 6, com conclusão prevista para esta sexta-feira, 12. O evento, organizado pela Nunciatura Apostólica e pela Conferência Episcopal de Bangladesh, conta com a presença do prefeito do Dicastério para o Diálogo Inter-religioso, Cardeal George Jacob Koovakad.
O Pontífice iniciou desejando uma paz “desarmada e desarmante”, que busque sempre a caridade e a proximidade com aqueles que sofrem. O tema do encontro – “Promovendo uma Cultura de Harmonia” – foi citado pelo Santo Padre. Segundo ele, a frase reflete o espírito de abertura fraterna que as pessoas de boa vontade devem buscar fomentar com membros de outras tradições religiosas.
A comunidade humana é verdadeiramente una — em origem e em destino, sob a direção de Deus (cf. Concílio Vaticano II, Declaração sobre a Relação da Igreja com as Religiões Não Cristãs Nostra Aetate, 28 de outubro de 1965, 1), prosseguiu Leão XIV. “Somos todos seus filhos e, portanto, irmãos e irmãs. Como uma só família, compartilhamos a oportunidade e a responsabilidade de continuar a nutrir uma cultura de harmonia e paz”.
Cultura social saudável
A partir disso, o Papa considerou a “cultura” em dois sentidos. Primeiro, ele explicou que ela pode significar o rico patrimônio de artes, ideias e instituições sociais que caracterizam cada povo. E, ao mesmo tempo, pode ser entendida como um ambiente nutritivo que sustenta o crescimento.
“Assim como um ecossistema saudável permite que diversas plantas floresçam lado a lado, também uma cultura social saudável permite que diversas comunidades prosperem em harmonia. Tal cultura deve ser cuidadosamente cultivada. Ela requer a luz do sol da verdade, a água da caridade e o solo da liberdade e da justiça”, enfatizou.
O Santo Padre sublinhou que é possível perceber, a partir de momentos dolorosos da história, que quando a cultura da harmonia é negligenciada, as “ervas daninhas” podem sufocar a paz.
“As suspeitas criam raízes; os estereótipos se fortalecem; os extremistas exploram os medos para semear a divisão. Juntos, como companheiros no diálogo inter-religioso, somos como jardineiros cuidando deste campo de fraternidade, ajudando a manter o diálogo fértil e a remover as ervas daninhas do preconceito”, exortou.
Diferenças de credo não devem dividir
O Encontro Inter-religioso em vigor, comentou o Papa, é uma “bela” ocasião para testemunhar que as diferenças de credo ou origem não precisam causar divisão. Pelo contrário, o encontro que se dá pela amizade e pelo diálogo ajuda a unir as pessoas contra as forças da divisão, do ódio e da violência que muitas vezes têm atormentado a humanidade.
Onde outros semearam desconfiança, Leão XIV exorta à escolha da confiança; onde outros podem fomentar o medo, ele pede a busca por compreensão. Onde outros veem as diferenças como barreiras, o Pontífice pede que sejam reconhecidos caminhos de enriquecimento mútuo (cf. Francisco, Encontro Ecumênico e Inter-religioso pela Paz, 1 de dezembro de 2017).
“Construir uma cultura de harmonia significa compartilhar não apenas ideias, mas também experiências concretas. Como nos lembra São Tiago, ‘a religião pura e imaculada diante de Deus… é esta: visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações’ (Tg 1,27). Nessa perspectiva, podemos dizer que uma medida genuína de amizade inter-religiosa é a nossa disposição de nos unirmos a serviço dos mais vulneráveis da sociedade”, encorajou.
O Santo Padre apontou que Bangladesh já testemunhou exemplos inspiradores dessa unidade nos últimos anos, quando pessoas de diferentes religiões se uniram em solidariedade e oração em tempos de desastres naturais ou tragédias. Tais gestos, segundo o Papa, constroem pontes — entre religiões, entre teoria e prática, entre comunidades — para que todos os bengaleses, e de fato toda a humanidade, possam passar da suspeita à confiança, do isolamento à colaboração.
“Eles também fortalecem a resiliência das comunidades contra as vozes da divisão. Cooperar em toda boa obra é o antídoto mais eficaz contra as forças que nos arrastam para a hostilidade e a agressão. Quando o nosso diálogo é vivido em ações, ressoa uma mensagem poderosa: a paz, e não o conflito, é o nosso sonho mais acalentado, e a construção dessa paz é uma tarefa que empreendemos juntos”, afirmou.
Compromisso da Igreja
Leão XIV reafirmou o compromisso da Igreja Católica em trilhar este caminho. Ele constatou que as vezes mal-entendidos ou feridas do passado podem abrandar os passos, no entanto, encorajou uma perseverança mútua pela unidade.
“Cada discussão em grupo, cada projeto de serviço conjunto ou refeição partilhada, cada cortesia demonstrada a um próximo de outra religião — estes são os tijolos daquilo a que São João Paulo II chamou de ‘civilização do amor’ (Mensagem para a Celebração do Dia Mundial da Paz, 1 de janeiro de 2001)”.
Por fim, o Pontífice assegurou seu amor fraterno e orações. “Que o Altíssimo abençoe cada um de vós, as vossas famílias e comunidades. Que Ele abençoe o vosso país com uma harmonia e paz cada vez mais profundas. E que Ele abençoe o nosso mundo, que tão urgentemente necessita da luz da fraternidade”.