Paz justa

Bartolomeu: como cristãos, testemunhamos que não há paz sem justiça

Em entrevista, Patriarca Ecumênico de Constantinopla falou sobre a data comum da Páscoa para os cristãos e sobre seu testemunho diante de tantas guerras

Da Redação, com Vatican News

Foto: REUTERS/Dilara Senkaya

“Como cristãos, temos a necessidade de fazer ouvir nossa voz, unidos, assim como fizeram nossos irmãos”, e “devemos também testemunhar uma firme vontade de justiça, porque sem justiça não há paz”. Foi o que afirmou o Patriarca Ecumênico de Constantinopla, Bartolomeu, presente no Meeting de Rimini para participar de um encontro sobre o Concílio de Niceia.

O religioso, em entrevista aos meios de comunicação do Vaticano, falou sobre a data comum da Páscoa para os cristãos e sobre seu testemunho em um mundo dilacerado pelas guerras. O patriarca recordou o Papa Francisco e mencionou Leão XIV, sublinhando que a primeira viagem do novo Bispo de Roma será à Turquia, para celebrar o aniversário de Niceia.

Concílio de Niceia

“O Concílio de Niceia foi uma pedra angular para toda a história do cristianismo. Segundo as promessas de Cristo, o Espírito Santo falou e continua a agir na história da humanidade”, frisou Bartolomeu sobre este evento fundamental para a história de todos os cristãos e para a unidade da Igreja.

Segundo o patriarca, os padres de Niceia, permanecendo fiéis ao kerygma das Sagradas Escrituras, definiram aquilo que, já há três séculos, a Igreja cristã anunciava através dos símbolos batismais, codificando em cânones a verdade proclamada.

“O Concílio desperta os cristãos das Igrejas do nosso tempo para o fato de que Cristo é verdadeiramente o Logos que se fez carne, luz da luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, Homoousios, da mesma substância do Pai. Pois se Jesus Cristo não fosse Deus, com o Espírito Santo, Trindade consubstancial e indivisível, então a história cristã seria apenas uma bela filosofia ética, e não a história da salvação. É dessa verdade que deriva toda a nossa ação para o presente e para o futuro”, enfatizou.

Páscoa

Em Niceia, o religioso recordou que foi decidido que era importante testemunhar a Ressurreição de Cristo no mesmo dia, em todo o mundo então conhecido.

“Circunstâncias históricas diversas, infelizmente, contrariaram o que havia sido estabelecido pelo Concílio. Não nos cabe julgar o que ocorreu, mas mesmo hoje compreendemos que, para sermos críveis como cristãos, precisamos celebrar a Ressurreição do Salvador no mesmo dia”, observou.

Bartolomeu recordou que ele e o Papa Francisco, encarregaram uma comissão para estudar o problema. “Iniciamos um diálogo”, disse. Contudo, o patriarca explicou que existem sensibilidades diferentes entre as Igrejas e, portanto, o dever de seus líderes é de também evitar novas divisões.

“Para a Igreja Ortodoxa, o que foi estabelecido por um concílio ecumênico só pode ser alterado por outro concílio ecumênico. Porém, todos estamos dispostos a ouvir o Espírito, que cremos ter nos indicado, justamente neste ano, quão fundamental é unificar a data da Páscoa”, indicou.

Papa Francisco

Este ano, todos os cristãos puderam celebrar a Páscoa no mesmo dia. O dia também foi marcado pela última aparição pública do Papa Francisco. Bartolomeu afirmou que o Pontífice não foi apenas o Bispo de Roma, como ele próprio dizia, mas “um irmão” com quem partilhou plena sintonia diante dos grandes problemas da humanidade contemporânea e uma profunda paixão pela unidade do mundo cristão.

Desde o dia da eleição de Francisco, o religioso contou ter sentido em seu coração o impulso de estar presente na cerimônia de início de pontificado. “Foi a primeira vez na história para um Patriarca Ecumênico”, lembrou.

“Lutamos juntos pela paz entre os povos, pelo diálogo com as grandes religiões, pelo diálogo inter-religioso, pela justiça compartilhada, pela preservação do meio ambiente, pelos últimos do mundo. Encontramo-nos inúmeras vezes, e cada encontro nosso foi um verdadeiro encontro de irmãos que se amam. O Senhor lhe dará mérito por tudo o que testemunhou com sua vida e com sua obra. Que ele descanse em paz”, desejou.

Papa Leão XIV

O patriarca frisou ter ficado profundamente impressionado com a figura do novo Papa, que, embora aja de modo diferente de Francisco, desde o início demonstrou sua firme convicção de prosseguir nos passos de seu predecessor.

“Também com ele sentimos uma forte sintonia, e estamos particularmente felizes porque sua primeira viagem internacional será ao Patriarcado Ecumênico, na Turquia, junto a nós, e a Niceia, onde testemunharemos juntos nossa firme convicção de prosseguir no diálogo ecumênico e no compromisso de nossas Igrejas diante dos desafios globais. Aguardamo-lo com grande expectativa”, contou.

Guerras

“Existem muitas guerras no mundo, frequentemente distantes do interesse da grande mídia internacional. E há também a Ucrânia, uma guerra fratricida, escândalo para o mundo cristão e sobretudo ortodoxo. Há Gaza e todo o Oriente Médio, onde interesses alheios às necessidades das populações locais empurram não para o caminho da paz justa, mas para a continuidade de uma guerra dilacerante e desumana”, disse Bartolomeu.

Diante deste cenário, o religioso sublinhou que todos os cristãos têm a necessidade de fazer ouvir suas vozes, unidos, assim como fizeram o Patriarca Greco-Ortodoxo de Jerusalém, Teófilo, e o Patriarca Latino, o Cardeal Pizzaballa.

Para Bartolomeu, é dever de todos testemunhar uma firme vontade de justiça, porque sem justiça não há paz. “Mas, como cristãos, temos também uma arma invencível: a oração. E isso jamais devemos esquecer”, finalizou.

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