Senhora do Carmo

Escapulário: um sinal visível de consagração a Nossa Senhora

No dia de Nossa Senhora do Carmo, a Igreja celebra também o dia do escapulário; entenda a origem deste sacramental, seu significado material e espiritual e as orientações práticas sobre seu uso

Kelen Galvan
Da redação

Foto: Província Carmelita Fluminense

Nesta quarta-feira, 16, a Igreja celebra a Festa de Nossa Senhora do Carmo e também o dia do escapulário, duas festividades intimamente ligadas aos carmelitas.

“A ordem do Carmo surge na virada do século XII para o século XIII, e os primeiros carmelitas, inicialmente organizados como eremitas e depois como comunidade de monges, decidem construir um lugar para se reunir a fim de rezar em comum. Eles dedicaram essa capelinha no Monte Carmelo a Virgem Maria. Vêm daí a devoção a Nossa Senhora do Carmo, por causa da Capela dedicada a Nossa Senhora no Monte Carmelo”, explica o frade da Província Carmelitana Fluminense, Frei Atanael de Almeida Lima.

Após a reconquista da Terra Santa pelos muçulmanos, esses primeiros núcleos de carmelitas foram expulsos do Monte Carmelo e obrigados a retornar para a Europa. Ali, eles encontram dificuldades para a manutenção da ordem.

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Nesse período, Simão Stock era o superior geral e, muito devoto da Virgem Maria, ele rezava pedindo a Nossa Senhora do Monte Carmelo que não deixasse a ordem terminar. “E, no dia 16 de julho de 1251, Nossa Senhora aparece diante dele e lhe oferece um escapulário, dizendo as seguintes palavras: ‘Recebe, meu filho, este escapulário como prova da minha proteção e da minha confraternidade para ti e para todos os carmelitas'”, recorda o frei Atanael.

Frei Atanael de Almeida Lima / Foto: Arquivo Pessoal

Ele explica que o escapulário foi oferecido como prova de segurança de que a ordem não seria suprimida e que estava sob a proteção direta da Virgem Maria. Um aspecto importante foi que ela usou o termo “confraternidade”, ou seja, Nossa Senhora não se apresenta apenas como Mãe, mas também como “irmã”, como uma resposta ao convite feito pelos primeiros carmelitas de que Ela “entrasse na vida” da Ordem.

“Por isso os carmelitas têm Maria como Mãe e irmã, e o nome oficial da Ordem do Carmo é ‘Ordem dos irmãos da Bem-Aventurada Virgem Maria do Monte Carmelo’. É como se todas essas realidades estivessem resumidas no escapulário que Nossa Senhora deu a São Simão Stock e, a partir daí, a todos os carmelitas e, pela ordem do Carmo, a todos aqueles que querem se consagrar a Nossa Senhora pelo uso do escapulário. Ele é um resumo desta proximidade que Nossa Senhora deseja ter com os membros da ordem do Carmo, desta proteção e confraternidade”.

Significado material e espiritual do escapulário

O escapulário é uma veste. A palavra que a nomeia tem sua origem no termo latino “scapula”, e esta palavra, na linguagem médica, designa um dos ossos do corpo, localizado na área dos ombros. Portanto, “o escapulário é uma veste que se apoia sobre os ombros, sobre as escápulas. É um longo avental que cobre o lado da frente e lado das costas de uma pessoa”.

O frade explica que esse avental foi muito usado, especialmente na época medieval pelas pessoas que se dedicavam aos trabalhos braçais, de modo geral, os camponeses, os artesãos e também os membros das comunidades religiosas, sobretudo, os antigos mosteiros.

“É bonito como Nossa Senhora entrega um escapulário, um avental, a São Simão Stock. Ele, certamente, já usava um escapulário, os membros da Ordem do Carmo já tinham essa veste de serviço, mas Nossa Senhora entrega um escapulário dela. Nossa Senhora se identifica com eles e pede que, ao mesmo tempo, a seus irmãos e filhos desta ordem, por ela desejada, que se identifiquem com Ela pelo escapulário”, explica frei Atanael.

Ele explica que ao lado deste significado material, como veste de serviço e de trabalho, há o significado espiritual, como que um chamado de Nossa Senhora a um relacionamento muito próximo com Ela.

“O escapulário do Carmo, mais do que a devoção, chama-nos à intimidade. Todos os que usam o escapulário são chamados a se relacionar com Maria. Portanto, a consagração é de quem traz a Virgem Maria para casa, de quem não quer viver longe dela. E é algo já comprovado pela tradição da Igreja: ‘quem vive perto de Nossa Senhora invariavelmente vai viver também perto de Jesus'”.

Grande devoção popular

Frei Atanael destaca que, ao lado do Santo Rosário, o escapulário do Carmo compõe as duas maiores devoções populares a Nossa Senhora presentes na vida da Igreja Católica.

“O escapulário do Carmo é um sinal visível que as pessoas trazem consigo, que remete diretamente a Nossa Senhora, a sua proximidade. E esses aspectos mais materiais da fé têm um apelo muito grande na vida do nosso povo”, destaca o frade carmelita.

Segundo ele, isso não quer dizer que a fé deva ser um fenômeno, uma expressão materialista, pois esse materialismo exacerbado se contrapõe a uma experiência profunda da vida da fé. Mas a fé católica tem esses aspectos: por meio das realidades materiais se atinge as realidades espirituais.

“A partir do momento em que a Ordem do Carmo, com a autoridade da Igreja, permite que os fiéis, de um modo geral, utilizem o escapulário como um sinal de consagração a Nossa Senhora, o escapulário se torna um sacramental bastante popular. Os devotos de Nossa Senhora do Carmo e que a ela se consagram por meio do escapulário são incontáveis”.

Sobre o uso do escapulário

O frei explica que há dois tipos de escapulários menores usados pelas pessoas de forma geral. Um deles é feito com pedaços de pano marrom, com as imagens de Nossa Senhora do Carmo e de Jesus, ligados por um cordão e colocados sobre os ombros. E um outro é feito de medalha. “O escapulário pode ser substituído por uma medalha que traga em um dos lados a imagem de Nossa Senhora do Carmo e do lado oposto a imagem de Nosso Senhor Jesus Cristo. Essa medalha pode ser usada como escapulário também”. A devoção pede que o escapulário seja utilizado o máximo de tempo possível. “Há pessoas que não tiram nem para tomar banho”.

Frei Atanael alerta que é preciso que o escapulário tenha essas duas imagens, uma de Nossa Senhora do Carmo e outra que represente Jesus Cristo (Sagrado Coração de Jesus, a face de Jesus etc.). “Qualquer outro escapulário que não tiver essas imagens não é do Carmo”, enfatiza.

Quanto à preocupação se há ou não um lado certo para ser colocado na frente do corpo, o frei esclarece que isso é irrelevante. “É uma preocupação escrupulosa de deixar Jesus na frente, Maria atrás, isso não cabe nesta devoção. Basta trazê-lo consigo com fé e devoção, e esse sinal material da consagração a Nossa Senhora vai cumprir os seus efeitos sem dúvida nenhuma”.

Outro esclarecimento é que o escapulário não é um objeto de superstição. “Os cristãos precisam estabelecer uma distinção muito clara entre fé e magia. Fé não é magia. Não existe espaço na fé da Igreja para feitiço, para patuá, para amuleto. O escapulário, por ele mesmo, não tem poder algum. Ele é um símbolo de realidades espirituais, bastante profundas e muito preciosas, que estão intimamente ligadas e ativas, na pessoa que entende e se compromete com a devoção que faz a Virgem Maria e, consequentemente, a Nosso Senhor Jesus Cristo”.

Imposição do escapulário

O frade carmelita explica que o escapulário é imposto uma única vez na vida. “É como a consagração dos religiosos, um frei depois do seu noviciado faz sua profissão religiosa e, a partir daí, é um consagrado. No dia da sua consagração, ele recebe o hábito com o escapulário e, a partir daí, vai usá-lo a vida toda, com a graça de Deus, enquanto for um carmelita”.

Ele explica que, dessa mesma forma, através do escapulário, a pessoa se consagra a Nossa Senhora. “Então, para que essa consagração seja válida, ela deve ser feita numa imposição. O escapulário não pode ser comprado numa loja e colocado sobre a pessoa, como acontece com outros objetos de fé, como o crucifixo ou medalha de um santo. O escapulário é uma consagração”, explica.

Para simplificar, a orientação é que, ao adquirir um escapulário, leve-o diante do padre. Ele vai abençoar este escapulário e fazer a imposição, colocando-o na pessoa, e vai receber a consagração desta pessoa a Virgem Maria por meio do uso do escapulário do Carmo.

Mas atenção: depois dessa primeira imposição, não é necessário que se faça outra, porque a pessoa já fez sua consagração. “Portanto, conforme seja preciso trocar o escapulário, basta levar o novo para o padre abençoar e a própria pessoa coloca em si mesma e segue usando o escapulário como sinal visível de sua consagração a Nossa Senhora do Carmo”.

Indulgências

Frei Atanael conta que existem indulgências ligadas ao uso do escapulário. Uma parcial, obtida quando a pessoa beija o escapulário e dirige um pensamento piedoso a Nossa Senhora do Carmo, ou ao tocar o escapulário com amor e devoção. “Essas indulgências têm por objetivo aumentar a devoção das pessoas a Virgem Maria e a Nosso Senhor Jesus Cristo”.

E existe também uma indulgência plenária que pode ser obtida em alguns dias do ano, em festas relacionadas à ordem do Carmo. A maior delas é, sem dúvida, a festa de Nossa Senhora do Carmo, no dia 16 de julho, mas também no dia de Santo Elias (profeta e inspirador ideal da Ordem do Carmo), no dia 20 de julho.

Outras datas são na festa de Santa Teresinha do Menino Jesus, no dia 1º de outubro, e de todos os santos carmelitas, no dia 14 de novembro. E na festa de São Simão Stock, que foi quem recebeu o escapulário do carmo no dia 16 de maio. Há ainda, no dia de Santa Teresa de Ávila, no dia 15 de outubro; de São João da Cruz, no dia 14 de dezembro. Essas duas últimas indulgências foram concedidas ao ramo dos descalços da Ordem do Carmo, que foram fundados por Santa Teresa e São João da Cruz.

“E essas indulgências plenárias são lucradas nas condições de costume: confissão sacramental, participar da Missa e comungar, e rezar pelas intenções do Papa e de toda a Igreja, tudo isso acompanhado do desejo sincero de viver de maneira frutuosa, amorosa e filial esta devoção a Nossa Senhora”.

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