Sacerdote membro da Opus Dei recorda lições deixadas por São Josemaria Escrivá inclusive em sua morte, que completa 50 anos nesta quinta-feira, 26
Gabriel Fontana
Da Redação
São Josemaria Escrivá / Foto: Arquivo
Há exatos 50 anos, o sacerdote espanhol Josemaria Escrivá partia para a casa do Pai. Em 1992, o fundador da Opus Dei foi beatificado e, dez anos depois, canonizado pelo então Papa João Paulo II, sendo comemorado pela Igreja em 26 de junho, dia de sua morte.
O padre Antonio José Pizorusso, que mora em Campinas (SP), é membro da Opus Dei. Ele esteve presente no funeral de São Josemaria Escrivá e reflete sobre as lições que o “santo do ordinário” deixou para seus filhos espirituais no seu último dia.
Aquele 26 de junho seguiu o ritual como o de muitos outros dias. Padre Antonio José descreve que São Josemaria Escrivá levantou-se bem cedo, rezou e, às 7h35, celebrou a Missa em honra a Virgem Maria. Depois, fez a ação de graças, tomou o café da manhã e saiu rumo a Castel Gandolfo, acompanhado por dois padres, membros da Opus Dei: Álvaro Del Portillo e Javier Echevarría.
O plano do sacerdote espanhol era deixar Roma, onde se encontrava, dentro de dois dias. Antes disso, quis despedir-se de algumas filhas espirituais que estudavam no Colégio Romano de Santa Maria. Contudo, após 20 minutos do início da reunião (que na Opus Dei recebe o nome de tertúlia), São Josemaria Escrivá se sentiu indisposto e, depois de um breve descanso, decidiu retornar à sua casa junto a Del Portillo e Echevarría.
Ao chegarem, os três vão diretamente ao oratório e permanecem diante do sacrário. “Ali, Escrivá finca o joelho direito no chão, numa genuflexão pausada, adoradora, dessas com que, em coisa de um instante, todo o seu corpo reza e reza toda a sua alma. Essa é a sua última visita a Jesus Cristo sob o véu da Eucaristia. Muito em breve, dentro de poucos minutos, vão encontrar-se face a face”, conta padre Antonio José.
“Tenho que estar preparado”
Após o momento de oração, São Josemaria Escrivá sobe para o escritório de Echevarría, onde trabalhava. Logo que passa pela porta, o sacerdote se sente mal e, chamando por Javier, desaba no chão. Del Portillo, percebendo a gravidade da situação, dá a absolvição enquanto sustenta o corpo do padre e, em seguida, administra o sacramento da Unção dos Enfermos.
Apesar dos esforços subsequentes para reanimar São Josemaria Escrivá, o sacerdote já não tornaria a acordar. Na verdade, como disse Santa Teresinha do Menino Jesus, ele partiu desta vida, que é apenas um sonho, e despertou para a eternidade.
Não acabo de aprender, não acabo. Tenho ânsias de ver Jesus Cristo, de conhecer o seu rosto. Tenho fome de encontrar-me com o meu Deus…
– São Josemaria Escrivá
Padre Antonio José afirma que a morte de São Josemaria Escrivá, vítima de um ataque cardíaco, pegou a todos de surpresa. Contudo, observada a naturalidade com que viveu seu último dia, parece até que ele intuía este momento, no segredo de sua relação com Deus. “Tenho que estar preparado, para ouvi-lo quando me chamar”, dizia o fundador da Opus Dei.
“Nós nos sentimos órfãos”, partilha padre Antonio José, “mas depois, orientados pelo Beato Álvaro, fomos mudando. Passamos a pedir a sua intercessão para todas as nossas intenções. Demonstrou ser eficaz. Em pouco tempo, começaram a chegar relatórios de graças recebidas pela sua intercessão, assim como de verdadeiros milagres”.
União com Deus
O sacerdote recorda ainda que há, em Villa Tevere – sede da Opus Dei em Roma – uma vitrine com todo o material que São Josemaria Escrivá usou no seu último dia. Em meio aos paramentos e livros, há um apito rústico, feito de barro, que o padre espanhol ganhou de umas alunas do clube juvenil e guardava no bolso de sua batina.
“Conservou porque poderia se divertir com um dos seus acompanhantes: cada vez que o via distraído, assoprava o apito e o assustava carinhosamente”, explica padre Antonio José. “Ele aproveitava todas as oportunidades para alegrar; despertar as pessoas da sua distração e advertir a proximidade de Deus”, complementa.
Outro detalhe lembrado é o cuidado do santo ao abrir e fechar portas. “Aproximar-se, pegar na maçaneta, movê-la suavemente, não forçar a lingueta, mover a porta sem bater, sem incomodar os outros… Tudo isso vivendo interiormente a união com Deus, fazendo oração, dialogando, dizendo uma jaculatória, um ato de amor, percebendo a alegria de Deus ao receber esse gesto”, esmiúça padre Antonio José.
“Cada vez que cuidava de uma pequena coisa, podemos supor, era uma ascensão, um participar mais intimamente da vida em Deus. Desta vez, deu-se um salto, o salto definitivo”, finaliza.
A santidade das pequenas coisas
Celina Maria Barbosa / Foto: Arquivo pessoal
Celina Maria Barbosa é designer gráfica e frequenta encontros da Opus Dei em Cachoeira Paulista (SP). Diante da memória de São Josemaria Escrivá, ela destaca o carinho especial que ele tinha em falar da filiação divina. “Isso me marcou, pois a partir desse ensinamento vejo que a busca pela santidade, mesmo quando se tem cruz, é feliz”, expressa.
Ela também lista como ensinamento do sacerdote espanhol a importância da vida de oração. Somente a partir destas práticas é que se encontra forças para a labuta diária, cumprindo os deveres com amor mesmo nas pequenas coisas.
A santidade “grande” está em cumprir os “deveres pequenos” de cada instante.
– São Josemaria Escrivá, Caminho, 817
Celina enfatiza ainda que São Josemaria Escrivá deixa para a Igreja um lembrete luminoso de que todas as pessoas batizadas, independentemente de seu estado de vida, podem e devem buscar a santidade sem precisar sair daquilo que já se vive: o trabalho, a vida em família, o estudo, a faculdade e até mesmo em situações corriqueiras como o trânsito.
“Deus não pede aos leigos que saiam do mundo, mas que, estando aqui, se santifiquem, transformando toda e qualquer ocasião em oportunidade para amar mais a Deus, oferecendo tudo com e por amor a Ele”, conclui.
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