JUBILEU DOS GOVERNANTES

Cristãos são chamados a testemunhar a fé inclusive na política, afirma frei

Assessor de Relações Institucionais da CNBB, frei Jorge Luiz reflete sobre relação entre a Igreja e a política e destaca promoção do bem comum

Gabriel Fontana
Da Redação

Foto: microgen de Getty Images via Canva

Milhares de peregrinos estiveram em Roma neste fim de semana para participar do Jubileu dos Governantes. O evento realizado entre os dias 21 e 22 ilustra a importância deste tema para a Igreja, refletindo como esta é uma dimensão presente na vida dos católicos.

Segundo o assessor de Relações Institucionais da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), frei Jorge Luiz Soares da Silva, a Igreja propõe, no Jubileu, que toda a sociedade se alegre e celebre o Ano Santo, renovando o compromisso da fé. A política faz parte desta dimensão, uma vez que as tarefas a ela relacionadas são de grande responsabilidade.

Diante disso, os governantes são exortados a realizarem uma boa política, ou seja, uma política que tenha como objetivo a promoção do bem comum. O religioso pontua que a Igreja tem como objetivo dar continuidade à obra de Jesus, que é promover a salvação da humanidade por meio do anúncio do Evangelho. Contudo, essa missão não se dá apenas na dimensão escatológica, mas de maneira integral.

“Isso diz respeito a trabalhar também para a promoção do ser humano, revestindo-o da sua dignidade. O Evangelho traz em si valores como a solidariedade, a justiça, a caridade, que contribuem para o bem comum, justamente porque promovem o respeito à dignidade do ser humano e buscam a igualdade e a promoção integral de todos os membros de uma sociedade”, declara frei Jorge Luiz.

Testemunhar a fé

Frei Jorge Luiz Soares da Silva / Foto: Arquivo pessoal

Neste contexto, o assessor indica que a Igreja tem muito a oferecer, sobretudo por meio de sua Doutrina Social, para a construção do bem comum por meio do exercício da caridade e da justiça social. Ele recorda São Paulo VI, que afirmou que a política é uma forma elevada de exercer a caridade.

Assim, os cristãos não apenas são chamados a se envolver na política como têm este dever, conforme assinalado pelo Papa Francisco durante uma audiência em 2013. Tal questão não diz respeito apenas à política partidária, mas a uma realidade bem mais ampla.

“Todos nós vivemos em uma sociedade, e a sociedade é regida sempre por meios políticos. Nós não podemos cruzar os braços imaginando que não temos responsabilidades com a sociedade civil. Como cristãos, somos chamados a testemunhar a fé em todos os ambientes, em todos os meios, inclusive na política”, explica frei Jorge Luiz.

O religioso recorda São Paulo, que escreve que “as autoridades que existem foram estabelecidas por Deus” (Rm 13,1). Em sua visão, o apóstolo sublinha a ligação entre a organização política da sociedade e a vivência da fé, que constitui o compromisso cristão de se envolver naquilo que diz respeito à vida social para promover os valores do Evangelho como a solidariedade, a partilha, o bem comum e a dignidade da pessoa humana.

Ocupando cargos públicos ou não, “todo e qualquer cristão é chamado a participar na vida social e política da sociedade, levando em consideração sempre o desejo de promover o bem comum e fazer a boa política que visa à igualdade, à solidariedade e à promoção da dignidade da pessoa humana”, pontua o assessor.

Fundamentados na esperança

Infelizmente, acrescenta frei Jorge Luiz, há um histórico de uma política marcada por corrupção e defesa dos interesses próprios em detrimento do bem comum. Isso acaba por gerar uma percepção negativa da política, levando as pessoas a um distanciamento dela.

“É preciso perceber que a mudança na forma de conceber e também praticar a política só vai mudar se nós, ao invés de nos distanciarmos da política por enxergá-la como algo sujo, procurarmos fazer uma transformação”, afirma o religioso, “seja naqueles atores que agem e pensam na política como meio de favorecimento pessoal, seja na mentalidade que a devemos criar quando vamos escolher quem vai exercer a política”.

Para isso, pontua o assessor, é preciso compreender que a vida não se limita a esta realidade, mas se fundamenta na fé na ressurreição de Jesus Cristo, em quem está fundamentada a esperança cristã. “Não podemos perder de vista que não esperamos nas pessoas, no sistema, ou numa estrutura política, mas esperamos em Deus”, ressalta.

Evite nomes e testemunhos muito explícitos, pois o seu comentário pode ser visto por pessoas conhecidas.

↑ topo