Há mais de 15 anos, a mistura de álcool e direção deixou de ser tolerada no Brasil por meio da lei seca. Só que, infelizmente, muitas pessoas ainda insistem nessa combinação
Reportagem de Monizy Amorim e Daniel Camargo
A missão parece simples: contornar os cones e ao final jogar a bola na caixa. De fato seria, se o trajeto não fosse feito com esses óculos simuladores de realidade aumentada.
A técnica de enfermagem Maria de Lourdes Silva se sentiu surpresa com o processo. “Não estava enxergando nada. Vi o cone, é igual tropecei ali, eu vi ele mais longe e tava perto”.
A ação realizada pela Empresa de Transportes e Trânsito de Belo Horizonte, em uma das principais estações de ônibus da capital mineira, faz parte da campanha Maio Amarelo.
A gerente de Educação para Mobilidade BHTrans, Maria Augusta Gatti, falou sobre os efeitos nocivos do álcool, especialmente para quem dirige. “É uma ação de uma simulação dos efeitos do álcool e das drogas no organismo. Por quê? Dificulta a visão, perde-se o equilíbrio, perde-se o discernimento, o seu poder de julgamento também fica comprometido”.
De acordo com dados do Ministério da Saúde, quase 6% da população relata beber e dirigir. Estudo do Centro de Informações sobre Saúde e Álcool, em 2022, mais de dez mil e quinhentas mortes no trânsito tiveram relação com a ingestão de álcool.
A especialista em Segurança no Trânsito Roberta Torres detalhou que o álcool está sempre presente nessas ocorrências no trânsito. “Muitas das vezes quando analisando principalmente os sinistros que resultam em morte, a gente consegue perceber claramente o excesso de velocidade e o álcool, que é uma combinação mais perigosa ainda”.
A experiência é um alerta não apenas para quem dirige. Serve também para conscientizar aqueles que estão com o condutor, que quer misturar álcool e direção como se essa combinação não oferecesse riscos.
Alerta que Marlúcia pretende levar adiante depois de usar o simulador. “Com certeza vai mudar. Eu tive a sensação, agora eu sei como é. Vai mudar, falou assim:’Não, você não pode dirigir, mesmo que ela fale:’Não, eu posso, eu consigo’. Não, não consegue’”.
“Então acaba que as pessoas escutam muito assim, ‘Ah, mas quando eu dirijo, eu dirijo melhor, eu vou mais devagar’. Não, isso não existe “, concluiu Roberta.