''OLHAR NOS OLHOS''

Mau uso da tecnologia: é preciso reeducar nosso tempo, frisa especialista

Repercutindo a intenção de oração do Papa Francisco, especialista reforça que tecnologias são bem-vindas, mas seu uso deve ser comedido e ponderado

Thiago Coutinho
Da redação

Foto: Robin Worrall via Unsplash

Em abril, no vídeo de intenção de oração, o Papa Francisco centrou seu discurso no impacto da tecnologia na vida das pessoas e clamou: “Como eu queria que olhássemos menos as telas e nos olhássemos mais nos olhos!”.

E o pedido do Santo Padre tem seu fundamento. Há uma realidade paradoxal: as tecnologias nunca uniram tanto as pessoas e, ao mesmo tempo, nunca as pessoas se sentiram tão sozinhas e isoladas. Uma pesquisa de 2021, intitulada Perceptions of the Impact of Covid-19, da Ipsos, afirma que na média global, 33% da população se sente sozinha.

“Não podemos negar que a tecnologia faz parte do nosso cotidiano, mas é possível reeducar nosso tempo e atenção”, explica o professor universitário, graduado em Administração e Mestre em Gestão de Desenvolvimento, Wilson Martins da Silva. “Como diz o Papa Francisco, olhar olho no olho é reconhecer o outro como pessoa, não apenas como perfil digital. Ainda dá tempo de recuperar relações mais humanas — basta querermos estar verdadeiramente presentes”, reitera.

Interconectado

Nunca o mundo conectou tanto as pessoas. É possível, por exemplo, conectar-se com quaisquer pessoas no mundo inteiro, seja por meio de redes sociais, seja por uma simples ligação — que pode até ser em vídeo com altíssima qualidade. “A tecnologia tem um poder enorme de conexão, mas muitas vezes a gente acaba se afastando das pessoas mesmo estando ‘conectados'”, explica Silva.

Será, então, que a própria tecnologia poderia reverter este cenário? O professor e especialista em Gestão de Desenvolvimento explica. “Acredito que ela [a tecnologia] pode, sim, ajudar a reverter esse cenário de solidão, desde que seja usada com mais consciência. O problema não está no celular ou nas redes sociais, mas em como usamos isso tudo”, pondera. “Se escolhermos usar a tecnologia para criar vínculos, ouvir mais, estar presente mesmo à distância, ela pode ser uma grande aliada para aproximar e não só de forma virtual”, acrescenta.

O lado bom das inovações tecnológicas

Por outro lado, a tecnologia também pode ser usada para beneficiar a sociedade em diversos aspectos. Existem aplicativos que ajudam as pessoas nas mais diversas tarefas do dia a dia: cozinhar, organizar as tarefas, ajudam em atividades esportivas etc. Mesmo a administração pública faz uso da tecnologia móvel para prestar serviços mais rápidos, dinâmicos e com menos burocracia à população. Consultar dados como pagamento de impostos, benefícios previdenciários, até mesmo vacinas, tudo pode ser feito por meio de um celular hoje em dia.

“Sim, a tendência é que essas tecnologias estejam cada vez mais presentes no dia a dia. O Papa Francisco reconhece que a tecnologia é fruto da inteligência humana e pode trazer muitos benefícios, desde que esteja a serviço do bem comum”, alerta Silva. “Muitos aplicativos já facilitam tarefas como organizar rotinas, cuidar da saúde ou aprender algo novo, mas é importante que isso não substitua o valor das relações humanas e do cuidado com o outro”, reafirma.

Ainda assim, há alguns cuidados a serem tomados. Em uma pesquisada realizada pelo Instituto Locomotiva, em abril do ano passado, quase 90% dos brasileiros afirmaram que acreditaram em notícias falsas, as famigeradas fake news. “A quantidade de notícias falsas na internet é preocupante, e todo mundo tem um papel nessa história”, lamenta Silva. “As instituições, empresas e o governo precisam investir mais em educação digital, ensinar as pessoas a checarem informações e saberem em quem confiar”.

Evite nomes e testemunhos muito explícitos, pois o seu comentário pode ser visto por pessoas conhecidas.

↑ topo