SÁBADO SANTO

“Nenhuma situação de dor ou sofrimento tem a palavra final”, diz Dom Joel

Na última matéria da série sobre a Semana Santa, o bispo de Petrópolis (RJ) comenta a importância do silêncio na reflexão sobre o sacrifício de Cristo e o amor de Deus pelos homens

Gabriel Fontana
Da Redação

Andrea Bonaiuto. Descida de Cristo ao Limbo.

O Sábado Santo tem início retomando a espiritualidade vivida no dia anterior. Após a morte de Cristo na cruz na Sexta-feira da Paixão, tudo parece perdido: o Messias está morto, os apóstolos estão dispersos e a sensação é de que a história chegou ao fim.

Apesar disso, a real conclusão dessa história já é conhecida: Cristo ressuscita, a vida vence a morte e a Páscoa do Senhor é proclamada durante a Vigília. No fim, a tristeza dá lugar à alegria e à esperança.

Na última matéria da série do noticias.cancaonova.com sobre a Semana Santa, o bispo de Petrópolis (RJ) e presidente da Comissão Episcopal para a Doutrina da Fé da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Dom Joel Portella, fala sobre o desafio enfrentado pela humanidade em manter a esperança mesmo quando tudo parece estar perdido. 

Segundo o religioso, esta é a questão fundamental para o mundo contemporâneo. “Quando, ao nosso redor, vemos apenas violência, corremos o forte risco de agirmos do mesmo modo, tornando-nos egoístas, centrados apenas em nós mesmos”, sinaliza.

Silêncio e reflexão

Dom Joel Portella / Foto: Ascom/Diocese de Petrópolis

Voltando o olhar para a proposta da Igreja para este dia, o bispo cita a importância do silêncio. Ele observa que esta atitude é indispensável para que se possa refletir sobre o mistério que está sendo celebrado.

Diante de tantos sinais de morte, corre-se o risco de, impactado, deixar-se levar pelo desânimo ou pelas respostas violentas e geradoras de morte. “Por isso, precisamos parar, fazer silêncio, a fim de que sejamos, com a graça de Deus, capazes de ultrapassar o que nossos olhos veem”, explica Dom Joel.

“Somos convocados a fazer silêncio, abrir os olhos da fé e buscar compreender que existe esperança”, prossegue o bispo, “pois, em Cristo, a vida não é vencida pela morte. Ao contrário, a vida vence a morte”.

Neste contexto, ele salienta que é preciso fazer memória da vida de Jesus, que não se deixou deter por ninguém no anúncio e na construção do Reino de Deus. “Em sua vida pública, Jesus mostrou, por atos e por palavras, que a vida é mais forte que a morte”, destaca. Ele aponta ainda que a leitura orante dos Evangelhos é o primeiro passo para manter a esperança.

Permanecer de pé

Além disso, Dom Joel exprime quão importante é reconhecer, na própria vida, quanto o amor de Deus fez e faz pelos homens. “É o olhar para si, para a própria história e reconhecer que, sem a graça de Deus, não estaríamos onde estamos, ainda que algumas vezes os problemas sejam grandes”, afirma.

O bispo expressa que “se apesar dos problemas estamos de pé, então continuaremos assim, pois o mesmo amor de Deus que nos trouxe e sustentou até agora haverá de continuar fazendo o mesmo. Importa que não desistamos desse amor que nunca desiste de nós”.

Exemplo dessa confiança é a Virgem Maria, ressalta Dom Joel. Mesmo sofrendo com a paixão e morte de seu filho, “ela permanece de pé, está presente, solidária, em oração, pois sabe que o amor de Deus é mais forte que tudo aquilo que seus olhos estão contemplando”.

Amor de Deus, fonte da esperança

Essa postura traduz a esperança na vinda definitiva de Cristo, que “nos leva a perceber que nenhuma situação de dor ou sofrimento tem a palavra final”. “Esta palavra é de Jesus Cristo e de ninguém mais”, acrescenta, “e sua palavra é sempre uma palavra de vida, ressurreição, reconciliação e amor”.

Mesmo a morte de Jesus e sua descida à mansão dos mortos, que parece ser o fim, recorda o amor de Deus que sai ao encontro dos homens. “O Deus Trindade, o Deus Amor, exatamente por ser Amor, não se fecha em si mesmo, mas sai ao encontro dos outros para, no amor, resgatar”, assinala o bispo.

Ao professar que Cristo desceu à mansão dos mortos, a Igreja afirma, em linguagem simples, que Jesus não fingiu morrer, mas de fato morreu. “Ora, se Jesus foi ao encontro da forma mais extrema de desamor, a morte, Ele vai ao encontro de todas as demais formas de desamor, pecado e, por consequência, de morte, para salvar, redimir, libertar. Daí a nossa esperança. O Amor de Deus é fonte de nossa esperança”.

Valor da vigilância

Diante disso, os fiéis são chamados a permanecer vigilantes. “O amor de Deus cuida gratuitamente de nós, mas, nesse amor tão especial, único e radical, Deus nos chama a acolher sua graça e, nela, participar da vitória da vida sobre a morte”, reforça o bispo.

Ainda que Deus faça tudo em nós, observa, a postura do ser humano não deve ser de passividade. “Pelo contrário, somos vocacionados a estar atentos para, como pedimos no Pai-Nosso, não nos deixarmos vencer pela tentação”, cita Dom Joel.

O bispo pontua que a vigilância é uma atitude indispensável, pois, “por ela, somos chamados a constantemente fazermos nossa revisão de vida e a nos apresentarmos diante de um sacerdote para a confissão e o perdão sacramental”. “Quem abandona a vigilância corre o risco de abandonar o Deus que, ao nos criar, nos deu essa missão indispensável”, conclui.

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