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Dia histórico na pandemia: "No silêncio do Papa, o mundo gritou a Deus!"

Mundo recorda, hoje, os cinco anos da Statio Orbis, com a oração silenciosa do Papa na Praça São Pedro pelo fim da pandemia; confira artigo a respeito

Padre Wagner Souza*

No dia 27 de março de 2020, Papa concedia a Bênção Urbi et Orbi no final do “momento universal de oração” pelo fim da pandemia /Foto: ABACA via Reuters

Ao contrário do que se costumava ver em todas as manhãs de audiência no Vaticano, a Praça de São Pedro estava deserta e foi ocupada pelo Crucifixo da Igreja de São Marcelo no Centro de Roma, visitada pelo Papa Francisco e que a seu pedido ali foi posto para este momento. Junto ao Crucifixo, a Imagem de Nossa Senhora retratada com seu Filho nos braços, ambas circundadas por folhas verdes banhadas por um sereno constante que se fazia notar através das luzes que clareavam todo o espaço. Foi assim que assistimos, há exatos cinco anos, o inesquecível momento de oração, no qual o Papa caminhou sozinho na chuva e se fez ouvir pelo mundo inteiro, clamando a Deus pelo fim da pandemia que assolava o mundo, causando mortes e um cenário de angústia e sofrimento.

O gesto comoveu a todos, chamou a atenção dos midiáticos que estamparam imagens e vídeos desta ocasião nas páginas de impressos e canais virtuais, talvez para assinalar a importância do cuidado com os meios de prevenção contra o coronavírus. Mas, acima de tudo, o que repercutiu no coração de todos foi o ato solidário e profético do chefe da Igreja que, em meio a tudo o que se vivia, pôs-se diante de Deus com simplicidade para rezar por todos, fazendo-se próximo e atento, logo nas palavras ditas na prece de início da cerimônia: “Deus onipotente e misericordioso, olha para nossa dolorosa condição. Conforta os teus filhos e abre os nossos corações à esperança, porque sentimos em nosso peito a tua presença de pai…”.

Para além da grandeza dos ritos das grandes cerimônias, onde o brilho das velas e a fumaça do incenso prendem a nossa atenção, o despojamento e a solidão na qual a figura do Bispo de Roma simplesmente vestido com sua batina branca, sua face serena e o olhar firme fizeram com que todos os que de casa viram e rezaram com ele sentissem que naquele momento onde só Deus era a resposta em meio a tantas perguntas, não havia motivo para o desespero, pois a solidão não existe para os que o conhecem e tem fé nele. Por isso, agindo assim, expondo o Santíssimo ao final de cada Missa celebrada diariamente na Capela da Casa Santa Marta, Francisco nos ensinou a reconhecer e
encontrar o poder de Deus diante do medo, sua força em meio à nossa fraqueza e sua presença na solidão que, muitas vezes, nos angustia. Como ele mesmo disse tantas vezes: “Deus nos aprimeira”, sempre nos busca e deseja nos encontrar para ser amigo e nos ajudar a caminhar, certos de que com ele um dia seremos vitoriosos e chegaremos bem.

Meia década depois de tudo isso, os que acompanham e vivem atentos ao que fala a Igreja, pede o Papa e nos ensina o Magistério podem perceber que o silêncio de Francisco fez ecoar a voz de um mundo onde a solidão é companheira de tantos que, vitimados pela autorreferencialidade, se sentem abandonados e esquecidos. Outros, cansados da superficialidade na qual se baseiam os diversos relacionamentos virtuais, carecem apenas de um olhar, uma voz e uma prece que os faça entender que a vida tem valor e eles possuem valor diante da vida.

Aproveitemos este dia para caminhar e olhar o Senhor, como fez o Papa. Que nossa prece feita em silêncio faça ecoar o grito da alma que o busca e deseja ser salva no seu amor que tudo redime.

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Foto: Arquivo Pessoal

*Padre Wagner Souza é membro do clero diocesano de Itaguaí (RJ). Atualmente, é o Chanceler da Cúria e o Pároco da Catedral de São Francisco Xavier.

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