Dia de oração

Tráfico humano se infiltra entre os mais frágeis, afirma Dom Adilson

Igreja recorda Dia Mundial de Oração e Reflexão contra o Tráfico de Pessoas, data que tem Santa Bakhita como padroeira, vítima deste crime com apenas nove anos de idade

Thiago Coutinho
Da redação

O tráfico humano atinge especialmente mulheres, que são vítimas de exploração sexual / Foto: rawpixel.com por Freepik

Segundo levantamento mais recente do Ministério da Justiça e Segurança Pública, o tráfico humano ainda é um crime subnotificado. Mesmo assim, as autoridades já conseguiram deduzir diversos aspectos que levam à prática deste crime. A principal causa seria a exploração laboral, com diversas vítimas sendo resgatadas de situações análogas à escravidão. Para ajudar a coibir este crime, a Igreja recorda neste sábado, 8, o Dia Mundial de Oração e Reflexão contra o Tráfico de Pessoas — exatamente na mesma data em que faz memória a Santa Bakhita, religiosa sudanesa que foi vítima deste crime e se tornou padroeira dos escravos e intercessora dos sequestrados.

“O tráfico humano se infiltra naquelas camadas sociais mais fragilizadas. E, infelizmente, não é de hoje”, lamenta Dom Adilson Pedro Busin, bispo de Tubarão (SC) e presidente da Comissão Especial para o Enfrentamento ao Tráfico Humano da CNBB. “Hoje, porém, esse crime se disfarça mais. E atinge até pessoas mais bem informadas. É um crime que prossegue na internet, que escapa aos olhos da fiscalização”.

A principal maneira para causar ao menos a diminuição deste crime é proporcionar à população mais educação e menos desigualdade social, aconselha o prelado da CNBB. “Quanto mais favorecermos a emancipação dos povos e das camadas menos favorecidas com educação, oportunidades e emprego, o tráfico humano será coibido pelas próprias decisões das pessoas, pois ele está sempre inserido numa esfera de decisão pessoal, não obstante iludida. As pessoas, num desespero, acabam caindo nas mãos de criminosos inescrupulosos”, lamenta Dom Adilson.

Talitha Kum

As explicações de Dom Adilson vão ao encontro do que a rede católica Talitha Kum pensa sobre o tráfico humano. Infelizmente, as novas tecnologias criaram meios para que o crime de tráfico humano passe quase imperceptível pelas autoridades. “É um crime oculto e os traficantes estão se tornando mais difíceis de rastrear. É por isso que campanhas de conscientização, educação e colaboração com governos e organizações são cruciais”, disse Irmã Abby Avelino, responsável pela rede Talitha Kum, em entrevista ao Vatican News.

“Não é de hoje que o tráfico humano atinge não apenas os menos favorecidos, mas os mais esclarecidos também”, alerta o bispo. “Recentemente, na Ásia, dois brasileiros com passaporte foram para uma missão de trabalho, ambos bem remunerados. Lá, foram transferidos para um outro país, seus passaportes foram sequestrados. Eles ficaram sem direitos até de denunciar, pois seus documentos foram presos”, recorda.

Na pandemia, inclusive, o crime de tráfico humano perpetuou-se pela internet. “Pensávamos que o tráfico humano cessaria com o isolamento que a humanidade toda viveu, mas foi um dos crime que continuou via internet e outros subjacentes, que escapam aos olhos da fiscalização”, revelou o bispo.

Articulação e vigilância

O governo brasileiro fundamenta sua ações na Política Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas (Decreto nº 5.948/2006), na Lei nº 13.344/2016 e nos Planos Nacionais de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas.

“O momento mundial oferece certas dificuldades”, contextualiza o bispo de Santa Catarina. “Todos abominam o crime, mas ele se dá em continentes e até nações vizinhos. Há algumas semanas, por exemplo, foram encontrados sete paraguaios em uma fábrica clandestina de cigarros”.

“É importante que os conselhos municipais e estaduais, que estão mais próximos à realidade, funcionem. Acredito nesta articulação nacional e internacional”, pondera Dom Adilson.

Josefina Bakhita

A santa sudanesa Josefina Bakhita é considerada a protetora das vítimas de tráfico humano. Sua trágica história tem início quando Bakhita, com apenas 9 anos de idade, foi sequestrada por mercantes árabes de escravos. “Ela foi vendida na África, castigada e torturada — as marcas desse flagelo ficaram nas suas costas”, relembra Dom Adilson.

Apesar de sua trágica história, Santa Bakhita ficou muito conhecida por sua caridade. E foi um exemplo de superação, mostrando que todo o sofrimento ao qual foi submetida não a definiram e tampouco a tornaram uma pessoa má ou amargurada.

“É por isso que a Igreja a coloca como a santa protetora do tráfico humano. Seu exemplo de superação, resistência e santidade nos remete a olhar nosso mundo abominando este crime. E também colocando, especialmente neste Ano Jubilar, ela é a expressão da mulher da esperança. O mal não foi a última palavra na vida dela, mas sim a esperança, a fé e, sobretudo, a caridade que moveu seu coração”, finaliza.

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