Século que gera inteligência artificial ainda não ultrapassou a chaga da infância humilhada, explorada e mortalmente ferida, disse Francisco na Catequese desta quarta, 8
Da redação, com Vatican News
Na Audiência Geral desta quarta-feira, 8, na Sala Paulo VI, no Vaticano, o Papa Francisco refletiu sobre o flagelo do abuso, da exploração e do trabalho infantil. Esta foi a primeira catequese de 2025 e teve como contexto o Tempo do Natal.
Voltar o olhar para Marte ou para os mundos virtuais, mas ter dificuldade em olhar nos olhos de uma criança que foi deixada à margem e que é explorada e abusada foi uma crítica feita pelo Pontífice. “O século que gera inteligência artificial e planeia existências multiplanetárias ainda não ultrapassou a praga da infância humilhada, explorada e mortalmente ferida”.
O Santo Padre frisou então a mensagem que a Sagrada Escritura deixa sobre as crianças. Ele observou que a palavra “ben”, “filho” é o segundo vocábulo mais usado na Bíblia, aparecendo quase cinco mil vezes. “Olhai! os filhos (ben) são herança do Senhor; o fruto das entranhas é recompensa” (Sal 127,3).
Os filhos, prosseguiu o Papa, são uma dádiva de Deus. “Infelizmente, esta dádiva nem sempre é tratada com respeito. A própria Bíblia conduz-nos pelas ruas da história onde ressoam os cânticos de alegria, mas também se elevam os gritos das vítimas”, salientou. Francisco recordou que a tempestade da violência de Herodes, que massacra as crianças de Belém, irrompe imediatamente também sobre o recém-nascido Jesus. Um drama sombrio que se repete em outras formas da história. O Santo Padre assinalou também o fato de Jesus e seus pais terem sido refugiados num país estrangeiro, como acontece hoje com muitas pessoas, muitas crianças.
Proximidade de Jesus com as crianças
Na vida pública, o Pontífice lembrou que Jesus pregava pelas aldeias juntamente com os seus discípulos. Um dia, algumas mães se aproximaram e lhe apresentaram seus filhos para que Ele os abençoasse. No entanto, os discípulos as repreenderam. Jesus, quebrando a tradição que considerava a criança apenas como um objeto passivo, chamou os discípulos e disse: “Deixai vir a mim as criancinhas por que delas é o Reino do Céu” (Mt, 19-14).
Em uma passagem semelhante, o Santo Padre contou que Jesus chamou uma criança, a colocou entre os discípulos e disse: “se não vos converterdes e não vos tornardes como as crianças, jamais entrareis no reino dos céus”. “Pensemos hoje nas crianças”, exortou Francisco.
“Ainda hoje, em particular, há demasiadas crianças forçadas a trabalhar. Mas uma criança que não sorri e não sonha não será capaz de conhecer ou deixar florescer os seus talentos. Em todas as partes do planeta existem crianças exploradas por uma economia que não respeita a vida; uma economia que, ao fazê-lo, queima o nosso maior depósito de esperança e amor”.
Contra a exploração e marginalização
O Papa frisou que aqueles que se reconhecem como filhos de Deus, e especialmente aqueles que são enviados para levar a boa nova do Evangelho aos outros, não podem ficar indiferentes. “Não podemos aceitar que as irmãzinhas e os irmãozinhos mais novos, em vez de serem amados e protegidos, sejam privados da sua infância, dos seus sonhos, vítimas da exploração e da marginalização”, afirmou.
Por fim, o Santo Padre rogou a Deus pedindo para que abra mentes e corações ao cuidado e à ternura, e que todos os meninos e meninas do mundo possam crescer em idade, em sabedoria e em graça recebendo e dando amor.
Um grupo de circense se apresentou na Sala Paulo VI, diante de Francisco, enchendo a sala de luzes e cores, oferecendo aos presentes um momento de alegria e descontração. O Pontífice os agradeceu: “Sou muito grato a essas mulheres e homens que nos fizeram rir com o circo. O circo nos faz rir como crianças. Os circenses têm essa missão, também entre nós: fazer-nos rir e fazer coisas boas. Agradeço muito a todos vós”.
Reportagem do vídeo de Danúbia Gleisser e Leonardo Vieira