Especialista explica como equilibrar, especialmente durante as férias , o uso da tecnologia em prol de atividades que priorizem o convívio familiar e as atividades físicas
Thiago Coutinho
Da redação
Quando se trata do uso de tecnologias, os jovens brasileiros se destacam: segundo a empresa estadunidense McAfee, especializada em softwares para segurança em ambiente virtual, o uso de celulares entre adolescentes e pré-adolescentes chega a 96% deste público. Outro dado importante: o uso começa cada vez mais cedo, especialmente entre crianças de 10 a 14 anos.
Paralelo a este ambiente, a crescente violência urbana nas cidades coíbe pais e mães a deixarem as crianças irem às ruas brincar — um direito, inclusive, assistido pelo Artigo 16 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), de 1990, que diz que a criança e o adolescente têm direito de “brincar, praticar esportes e divertir-se”.
Para a psicóloga Amanda Rangel, pais e mães precisam encontrar um balanço entre esses dois mundos. “Os pais podem equilibrar o uso da tecnologia e as brincadeiras ao ar livre criando uma rotina que priorize momentos de convivência familiar e atividades físicas”, explica. “Uma alternativa prática é buscar espaços seguros, como parques monitorados ou clubes, onde as crianças possam brincar livremente”.
O uso de aparelhos tecnológicos deve ser feito com parcimônia, sem a necessidade de proibição, mas sim de monitoramento. “É importante ensinar o uso consciente da tecnologia, estabelecendo períodos específicos para jogos e redes sociais”, aconselha a psicóloga.
Amanda oferece também outra dica: um dia sem aparelhos eletrônicos. “Por exemplo, a família pode instituir o ‘dia sem tela’, incentivando caminhadas ou piqueniques em locais seguros, o que fortalece os laços familiares e promove um estilo de vida mais saudável”, detalha.
Benefícios e mediação sadia
Brincadeiras ao ar livre oferecem muitos benefícios, tais como desenvolvimento físico, mental e social. “No aspecto físico, elas melhoram a coordenação motora, a resistência e a saúde geral. No âmbito mental, ajudam a reduzir o estresse e a ansiedade, proporcionando uma sensação de liberdade e conexão com a natureza. Socialmente, essas atividades incentivam a interação, o trabalho em equipe e a resolução de conflitos”, assegura Amanda.
É importante, por outro lado, não impor a obrigação de que o jovem ou a criança pratiquem essas atividades ao ar livre. “A mediação começa pelo exemplo dos próprios pais e pela criação de regras negociadas. Uma abordagem prática é transformar as atividades ao ar livre em momentos de diversão compartilhada”, ensina Amanda.
Uma ideia são as brincadeiras que envolvam a família num momento de descontração coletiva, como mostra a psicóloga. “Por exemplo, organizar uma “caça ao tesouro” no quintal ou em um parque pode despertar o interesse das crianças de forma natural. Paralelamente, os pais podem negociar um equilíbrio: para cada hora de jogos digitais, outra deve ser dedicada a exercícios físicos ou lazer ao ar livre”, orienta. “O segredo é engajar a criança ou jovem, mostrando os benefícios das atividades e tornando-as prazerosas”.
Sociabilidade potencializada
Segundo Amanda, o processo de socialização da criança pode ser potencializado com esses jogos e passatempos ao ar livre, pois oferecem uma série de lições. “Elas ensinam crianças e adolescentes a trabalhar em equipe, respeitar regras e resolver conflitos de forma saudável. Por exemplo, em uma partida de queimada, as crianças aprendem a cooperar e a lidar com vitórias e derrotas, habilidades que serão úteis ao longo de suas vidas. Além disso, essas brincadeiras incentivam o contato olho no olho e a comunicação verbal, aspectos muitas vezes negligenciados no ambiente digital”.
A importância das atividades físicas
Os esportes ainda não fazem parte do cotidiano dos brasileiros. Segundo pesquisada realizada pelo Serviço Social da Indústria (Sesi) em 2023, 52%dos brasileiros raramente ou nunca praticam atividades físicas. Entre os que fazem atividades físicas, 22% se exercitam diariamente, 13% pelo menos três vezes por semana e 8% pelo menos duas vezes semanais.
O fato é que esportes e atividades físicas também são aliados na formação de adultos mais saudáveis, e isto não só do ponto de vista físico, mas mental também. “Conforme as crianças crescem, os pais podem introduzir esportes mais estruturados, como natação, futebol ou dança, sempre respeitando as preferências da criança”, assegura a psicóloga.
“O mais importante é que a prática seja vista como um momento de diversão e não de obrigação. Um exemplo prático é convidar a criança para participar de um jogo em família ou inscrevê-la em aulas em grupo, incentivando a socialização e criando uma rotina saudável”, finaliza Amanda.