Francisco recebeu os participantes do XVI Capítulo Geral dos Scalabrinianos e ressaltou três aspectos do seu serviço: os migrantes, a pastoral da esperança e a caridade
Da redação, com Vatican News
O Papa Francisco recebeu em audiência, nesta segunda-feira, 28, na Sala do Consistório, no Vaticano, os participantes do XVI Capítulo Geral dos Missionários de São Carlos, conhecidos como Scalabrinianos.
“É bonito que, na programação da futura pastoral missionária e caritativa em favor dos migrantes, vocês tenham escolhido se inspirar no tema do Jubileu: ‘Peregrinos da Esperança'”, disse o Papa no início de seu discurso, detendo-se em três aspectos do serviço dos Scalabrinianos: migrantes, ministério pastoral e caridade.
Migrantes
“Primeiro: os migrantes. Eles são mestres da esperança. Partem na esperança de ‘encontrar o pão de cada dia em outro lugar’, como dizia São João Batista Scalabrini, e não desistem, mesmo quando tudo parece ‘ir contra eles’, mesmo quando encontram fechamentos e rejeições”, disse o Papa.
Francisco enfatizou que a tenacidade dos migrantes, muitas vezes “sustentada pelo amor às famílias deixadas na sua pátria”, ensina muito, especialmente aos scalabrinianos, que, como quis seu fundador, são “migrantes entre migrantes”. “Assim, por meio das dinâmicas do encontro, do diálogo, da acolhida de Cristo presente no estrangeiro, vocês crescem junto com eles, solidários uns com os outros, abandonados ’em Deus e somente em Deus'”.
De acordo com o Papa, a busca pelo futuro que anime o migrante, expressa uma necessidade de salvação que une a todos, independentemente da raça ou da condição. “De fato, a ‘itinerância’, corretamente compreendida e vivida, pode tornar-se, mesmo na dor, uma preciosa escola de fé e de humanidade, tanto para quem assiste quanto para quem é assistido. Não nos esqueçamos de que a história da salvação é uma história de migrantes, de povos a caminho”.
Ministério pastoral
A seguir, o Papa se referiu ao segundo aspecto do serviço dos Scalabrinianos: a necessidade de uma pastoral da esperança. “De fato, se por um lado a migração, com o devido apoio, pode se tornar um momento de crescimento para todos, por outro lado, se vivida na solidão e no abandono, pode degenerar em dramas de desarraigamento existencial, de crise de valores e perspectivas, a ponto de levar à perda da fé e ao desespero”, disse Francisco.
O Santo Padre enfatizou que as injustiças e a violência vivenciada por muitos migrantes, “arrancados de seus lares”, muitas vezes são tão desumanas que podem arrastar até os mais fortes para a escuridão do desânimo ou da sombria resignação.
“Para que não lhes falte a força e a resiliência necessárias para continuar os caminhos empreendidos, é preciso que alguém se debruce sobre suas feridas, cuidando de sua extrema vulnerabilidade física, espiritual e psicológica. São necessárias sólidas intervenções pastorais de proximidade, em nível material, religioso e humano, para sustentar neles a esperança e, com ela, os caminhos interiores que conduzem a Deus, seu fiel companheiro de viagem, sempre presente ao lado de quem sofre”, afirmou.
Francisco sublinhou que o migrante deve ser acolhido, acompanhado, promovido e integrado, e recordou que “atualmente muitos países precisam de migrantes”. “A Itália precisa de migrantes e deve acolhê-los, acompanhá-los, promovê-los e integrá-los. Precisamos dizer essa verdade”, destacou.
Caridade
O Papa se deteve então no último ponto: a caridade. Na véspera do Jubileu de 1900, São João Batista Scalabrini disse: “O mundo geme sob o peso de grandes desgraças”.
“Essas são palavras pesadas, mas, infelizmente, ainda soam muito atuais. Ainda hoje, quem parte geralmente o faz por causa das trágicas e injustas desigualdades de oportunidades, de democracia, de futuro ou por causa dos cenários devastadores de guerra que afligem o planeta. A isto soma-se o fechamento e a hostilidade dos países ricos, que veem quem bate à sua porta como uma ameaça ao seu bem-estar. Assim, no dramático confronto entre os interesses de quem protege a sua prosperidade e a luta de quem tenta sobreviver, fugindo da fome e das perseguições, perdem-se muitas vidas humanas, sob o olhar indiferente de quem se limita a assistir ao espetáculo, ou pior, especula na pele de quem sofre”.
Francisco recordou que “na Bíblia, uma das leis do Jubileu era a restituição da terra àqueles que a tinham perdido. Hoje, este ato de justiça pode concretizar-se, em outro contexto, numa caridade que coloque novamente no centro a pessoa, os seus direitos, a sua dignidade, superando os estereótipos excludentes, para reconhecer no outro, quem quer que seja e de onde quer que venha, um dom de Deus, único, sagrado, inviolável, precioso para o bem de todos”.
“O carisma Scalabriniano está vivo na Igreja. Isso é testemunhado por muitos jovens que, de vários países do mundo, continuam a se unir a vocês. Sejam gratos ao Senhor pela vocação que receberam”, concluiu o Papa.