Elena Guerra a tinha certeza de que o único modo da Igreja e da verdade revelada triunfarem era o clamor universal ao Espírito Santo
Pe. Matheus Pigozzo*
Arquidiocese de Niterói
Santa Elena Guerra para além dos Muros
Neste domingo, 20 de outubro, a Igreja canoniza a Madre Elena Guerra. O milagre que a elevou aos altares aconteceu no Brasil. Na Terra de Santa Cruz, sua devoção espalhou-se através da Renovação Carismática Católica (RCC), que, com muito carinho, propagou a mensagem da santa que tem como título “Apóstola do Espírito Santo”.
Porém, pode-se cair em um reducionismo e até minimizar os efeitos da captação do recado da Providência Divina com a canonização da Madre italiana, se circunscrevermos a mensagem e o testemunho de Santa Elena Guerra a um grupo ou a uma espiritualidade.
Santa Elena se sentiu inspirada a motivar os católicos a perceberem a necessidade de clamar o Espírito Santo. Por falta de formação, pode-se identificar o Espírito Santo a um modo de rezar ou a uma ideia de liberdade de normas, ou até mesmo a um jeito de pregação etc. E assim reduz-se, ou melhor, até se desvirtua a devoção ao Paráclito, e diminui a força do testemunho de Elena Guerra.
A santa, Oblata do Espírito Santo, viveu no século XIX e viu os efeitos das ideias revolucionárias tomarem corpo e infiltrarem uma desacralização social, incutindo uma ideologia materialista na cultura em geral.
Frente a perda de fé e a difusão de uma mentalidade pagã, Elena tinha certeza de que o único modo da Igreja e da verdade revelada triunfarem, e, assim, Cristo reinar nas almas, era o clamor universal ao Espírito Santo. Era necessário que a Igreja voltasse ao Cenáculo pela oração, a fim de que, como no início, pudesse ter força, luzes, audácia e firmeza para manter a verdade imutável e evangelizar o mundo que voltara ao paganismo.
Só com o Espírito Santo, a Igreja saberá caminhar, enxergará o rumo e resistirá diante da astúcia do inimigo.
A freira de Lucca escreve ao bispo de Roma, Leão XIII, e, como se prova pela sucessão dos fatos, o Pontífice entende como um pedido de Deus o reacender o clamor ao Espírito Santo, e publica a Encíclica “Divinum illud munus” pedindo inclusive que se faça a novena de Pentecostes nas paróquias e se pregue sobre o Espírito Santo.
“Voltemos ao Espírito Santo para que Ele se volte a nós”, dizia a santa. A audácia da “empregada do Espírito Santo” – como Elena Guerra se chamava – em levar ao Papa a necessidade de se pedir o Divino Espírito, vinha exatamente da certeza de que essa devoção é urgente, mais ainda, ela não é só para um grupo piedoso, um movimento ou associação, é uma necessidade para a Igreja como um todo.
A mensagem de Santa Elena Guerra deve ir para além dos muros. Inclusive, a canonização de um santo o coloca como modelo e intercessor para a Igreja inteira. Parece ser a condução da Providência Divina para o nosso tempo reabrasar a figura de Elena Guerra. Seu processo de canonização teve percalços que fizeram com que a “Apóstola do Espírito Santo” viesse a ser canonizada neste contexto atual, neste momento eclesial.
Nos questionemos: a canonização dessa “mulher forte” não é providente para que toda a Igreja peça luzes ao Espírito Santo, para levar a Verdade do Evangelho no mundo de mudanças? Para que suplique Sua visita a fim de trazer a fé ao mundo que a perdeu? Clame santa audácia aos ministros sagrado e busque Sua caridade para dobrar a cultura do egoísmo? Chame a Sua chuva para dissolver intrigas e gerar unidade num tempo de polarizações?
Enfim, penso que a canonização de Elena Guerra seja um recado de Deus de que a devoção ao Espírito Santo – devoção revelada, como dizia a santa, é destinada a todos os católicos, para que se renove – como aconteceu com os apóstolos – a face da terra.
Na foto tradicional de Santa Elena Guerra, a vemos apontando para o esplendor do Espírito Santo. Que sua canonização desperte em todos nós essa urgente necessidade de olharmos para Ele, adorá-Lo e, com Sua força e luzes, irmos ao mundo, com seus desafios e perspectivas, levando o fogo da caridade para que tudo de santo seja criado. Amém.
*Padre Matheus Pigozzo é administrador paroquial da Pároquia de Nossa Senhora da Conceição em Boa Esperança, na cidade de Rio Bonito – Arquidiocese de Niterói (RJ)