PEREGRINO DO AMOR

Igreja celebra João Paulo II: homem comum que se tornou extraordinário

Conheça alguns fragmentos importantes da vida de São João Paulo II e experiências de quem conviveu com o santo que marcou a história da Igreja

Fernanda Lima
Da Redação

Papa João Paulo II durante uma visita à Basílica de Baltimore em 1995 / Foto: Carol McKinney

Nesta terça-feira, 22, a Igreja celebra a santidade de São João Paulo II. O primeiro polonês no trono de Pedro marcou a história não apenas pelo seu longo pontificado e muitas viagens, mas, acima de tudo, pela sua humanidade. Foram 26 anos pastoreando o povo de Deus. Karol Wojtyla foi o terceiro Papa mais longevo da história da Igreja. Em 27 de abril de 2014, foi proclamado santo pelo Papa Francisco.

Em seus discursos, costumava enfatizar valores imprescindíveis para a vida do ser humano, por isso expressou diversas vezes que gostaria de ser lembrado como o “Papa da família”. Silvonei José é jornalista, escritor e coordenador da Rádio Vaticano em Roma há 34 anos. O comunicador relatou como foi o seu primeiro encontro com João Paulo II.

Um jeito de ser extraordinário

“Cresci sempre admirando esse grande homem. Tive a oportunidade de participar da Celebração Eucarística em sua capela privada. Éramos poucas pessoas e, após a Santa Missa, ele veio conversar conosco. Então, perguntei a ele se não gostaria de retornar para o Brasil, e ele me respondeu: ‘Lá tudo é grande!’. Após esse momento, fiquei sabendo que ele já estava, desde as cinco da manhã, de joelhos em oração”, expressou.

Silvonei frisou que isso ficou marcado em sua memória, e recordou que a presença de João Paulo II era diferente. “Sempre era uma experiência nova estar com ele. Mesmo que tivessem outras pessoas em volta, quando conversava com alguém, era quase que uma exclusividade. Era inteiro com cada pessoa e muito brincalhão. Uma pessoa normal, mas tinha um jeito de ser extraordinário”, salientou.

Silvonei José com São João Paulo II / Foto: Arquivo Pessoal

Receber a notícia do falecimento de São João Paulo II não foi fácil para o jornalista, que tinha diante de si o desafio de transmitir esse acontecimento para milhares de fiéis. “Eram 21h37 de um sábado. Estávamos no plantão em uma profunda agonia, porque não queríamos ter que dar uma notícia tão triste. Foi como se perdêssemos um familiar”.

Milhares de fiéis de todas as partes do mundo estiveram presentes na Praça de São Pedro, no Vaticano, para se despedir de Wojtyla. “Era a Igreja reunida ao redor do seu líder. Durante a transmissão da Missa das Exéquias, tive o privilégio de ter o nosso saudoso Padre Jonas Abib nos estúdios da Rádio Vaticano. Eu me recordo que ele chorou muito e trouxe todo o carinho da Canção Nova. Ele demonstrou o afeto de um filho para com o seu pai”, lembra Silvonei.

Nada fazia sem rezar

O jornalista enfatiza que João Paulo II deixou um grande legado para a Igreja. “Ele conseguiu, por meio da sua vida, tocar o coração da Igreja em diversas partes do mundo. A santidade desse homem foi nos indicar o simples com coisas extraordinárias. Seu legado foi a oração. Nada fazia sem rezar. Ele tinha total convicção de que tudo que fazia brotava da sua conversa com Deus. Seu amor pela humanidade era incomensurável”, concluiu.

Pontificado que revolucionou a sociedade

O doutor em Direito Canônico e ex-diplomata da Santa Sé, monsenhor André Sampaio de Oliveira, acredita que a personalidade carismática de João Paulo II estava relacionada à sua grande capacidade comunicativa e ao seu estilo pastoral diferenciado. “A têmpera e o vigor de uma idade relativamente jovem permitiu que empreendesse a uma atividade intensa ritmada sobretudo pelas visitas e viagens apostólicas”, enfatizou.

Foram 104 viagens internacionais e 146 na Itália, com 129 países visitados nos cinco continentes. Monsenhor André também ressaltou que alguns pronunciamentos de João Paulo II se tornaram marcantes. “Desde o início, trabalhou para dar voz à chamada Igreja do silêncio. A insistência sobre os temas dos direitos do homem e da liberdade religiosa tornou-se assim uma constante em seu magistério. Tanto que hoje é largamente reconhecido o contributo relevante da sua ação para as vicissitudes que determinaram a queda do muro de Berlim, em 1989, e o sucessivo colapso dos regimes filo-soviéticos”.

Mons. André Sampaio de Oliveira com São João Pulo II / Foto: Arquivo Pessoal

O doutor em Direito Canônico afirma que o pontificado de João Paulo II revolucionou a sociedade. “Duas décadas e meia que revolucionaram a sociedade contemporânea no campo político, diplomático, social e humanitário. De fato, ele desenvolveu, na prática, a expressão de Paulo VI: civilização do amor”, destacou.

Monsenhor André reforçou que é preciso seguir este legado deixado por Wojtila. “Só o amor será capaz de construir uma sociedade mais justa e fraterna. Apraz-me sublinhá-lo no momento em que estamos a viver um caminho sinodal sobre a família e com as famílias, um caminho que ele seguramente acompanha e sustenta do céu”, concluiu.

Outros números do Pontificado de João Paulo II

Durante seu longo pontificado, o Papa Wojtyla assinou vários documentos que, depois, fizeram parte do Magistério da Igreja, cita monsenhor André. Foram 14 Encíclicas, 15 Exortações Apostólicas, 11 Constituições Apostólicas e 45 Cartas Apostólicas.

“Em 1983, promulgou o novo Codex Iuris Canonici (Código de Direito Canônico) e, depois, providenciou a reforma da Cúria Romana com a Constituição Apostólica Pastor Bonus, de 1988″, destaca. Outros números que podem ser mencionados são as cerimônias de beatificação e canonização. Durante seu pontificado, foram proclamados 1338 beatos e 482 santos.

João Paulo II criou ainda 231 cardeais em nove consistórios. Ordenou 321 bispos e 2.125 sacerdotes. Administrou 1.378 batismos e 1.595 sacramentos do Crisma. Em suas 104 viagens internacionais, ele visitou 697 cidades em 129 países, onde pronunciou 2.415 discursos. Encontrou-se com 703 chefes de Estado e recebeu, em audiência, 228 primeiros-ministros.

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