Visitar cemitérios, oferecer flores e rezar diante dos sepulcros são ações já tradicionais no Dia de Finados; padre explica significado dessa data
Huanna Cruz
Da Redação
No dia 2 de novembro, a Igreja celebra o Dia de Finados. A palavra Finado vem do latim “finātus” e significa ‘aquilo que acabou’, ‘o que chegou ao fim’, ‘o que já terminou’. Na tradição cristã, diz respeito ao momento em que a vida terrena chega ao fim e dá-se início à vida plena, na Ressurreição.
Segundo o missionário redentorista, padre José Luís Queimado, C.Ss.R., desde os primórdios, os cristãos cultivavam o costume de rezar pelos seus mortos, pedindo a Deus que os acolhesse em seus braços. Os mártires, que eram sepultados nas catacumbas romanas, serviam também como inspiração e encorajamento a todos os demais seguidores de Cristo, que sofriam com as misérias das perseguições.
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Padre José Luís afirma que, com o passar dos anos, a Igreja foi estabelecendo regras e organizando textos para celebrar a memória dos fiéis falecidos. Assim, no ano de 732, o Papa Gregório III, respaldando-se na autoridade da Tradição antiquíssima, concede a aprovação de ritos litúrgicos para se fazer memória dos fiéis defuntos. Somente no final do Século X, mais de 200 anos depois, o Abade beneditino da Abadia de Cluny, na França, determinou que os monges da Ordem fixassem em seus calendários a data do dia 2 de novembro. Ele celebrou essa memória dos fiéis defuntos, pela primeira vez, em 2 de novembro de 998, rezando pelas almas dos fiéis que haviam morrido. Conforme passava o tempo, a data e as celebrações começaram a ser assumidas por toda a Europa cristã.
A morte não é o fim
O redentorista lembra que, para os cristãos, a morte não é o fim. O próprio Jesus diz: “Eu sou a ressurreição e a vida. Aquele que crê em mim, ainda que morra, viverá. E todo aquele que vive e crê em mim não morrerá jamais” (Jo 11,25-26). E São Paulo cantava essa verdade com alegria: “Quando, pois, este corpo corruptível se tiver revestido de incorruptibilidade e este corpo mortal se tiver revestido de imortalidade, então se cumprirá a palavra da Escritura: ‘A morte foi tragada pela vitória’. Onde está, ó morte, tua vitória? Onde está, ó morte, teu aguilhão?” (1 Cor 15,54-55). Para os batizados cristãos, essa certeza é uma verdade eterna: “Pelo batismo fomos sepultados com ele na morte, para que, assim como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos mediante a glória do Pai, assim também nós caminhemos numa vida nova” (Rm 6,4).
“O significado religioso deste dia tão especial em que nos lembramos dos fiéis defuntos é a união de todos os cristãos, vivos e falecidos, da Igreja militante e da padecente, para que louvemos o nosso Deus, que nos espera na vida eterna. Rezar pelos fiéis defuntos que padecem é missão de todos os cristãos que ainda continuam sua caminhada terrena, na plena certeza da Ressurreição”, afirma.
Os gestos do Dia de Finados
“Assim como os primeiros cristãos, que iam até as Catacumbas, cemitérios subterrâneos, prestar homenagens e rezar pelos falecidos, nós ainda hoje continuamos essa belíssima tradição. Visitamos os cemitérios para celebrar a memória dos nossos antecessores e levamos flores para mostrar a nossa certeza na vida eterna. A Ressurreição com Cristo possui a beleza da primavera, que nos traz a ideia do desabrochar da vida”.
Padre José Luís ainda ressalta que “também pedimos a intercessão de todos aqueles que já faleceram e, na certeza de nossa fé, atingiram a vida plena no Reino do Céu”. Ele frisa que esse dia não é apenas um feriado, mas uma jornada até a morada final dos corpos dos entes queridos, para valorizar ainda mais a breve vida aqui na terra.
“É um momento poderoso de aprofundamento de nossa consciência sobre nossa finitude. E é essa a razão pela qual visitamos os cemitérios, limpamos os túmulos, oferecemos flores e fazemos nossa oração diante dos sepulcros, que acolheram os fugazes corpos de nossos irmãos”.
Tratado sobre a brevidade de nossa vida
O sacerdote lembra ainda que Santo Afonso Maria de Ligório, Doutor da Igreja e Fundador dos Missionários Redentoristas, escreveu um tratado sobre a brevidade da vida, intitulado “Preparação para a morte”. O intuito era que os leitores refletissem sobre a efemeridade da passagem aqui na terra e, assim, preparassem o espírito para esse grande dia de despedida da terra. Ele usou uma linguagem impactante, que atinge o profundo do coração daqueles que leem a obra. O grito de Santo Afonso é um eco do convite que Jesus fazia a todos com os quais se encontrava: “Completou-se o tempo, e o Reino de Deus está perto. Convertei-vos e crede no Evangelho!” (Mc 1,15).