Papa discursou hoje aos membros do Conselho Superior da Magistratura italiana na Sala Paulo VI
Da Redação, com Vatican News
O Papa Francisco recebeu, nesta sexta-feira, 8, membros do Conselho Superior de Magistratura. Em seu discurso aos magistrados, o Papa destacou os valores da justiça e a nobre missão confiada a eles.
O Pontífice destacou, uma vez mais, a necessidade de ouvir o grito dos sem voz e dos injustiçados. Segundo ele, isso ajuda a transformar o poder recebido em favor da dignidade da pessoa humana e do bem comum. “O povo pede justiça e a justiça precisa de verdade, de confiança, de lealdade e de pureza de propósitos”.
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Depois, recordou que, na tradição, “a justiça é definida como dar a cada um o que lhe é devido”. Também lembrou que, no decorrer da história, foram estabelecidos vários modos de administrar a justiça. Apontou que, segundo a tradição bíblica, “o devido é reconhecer a dignidade humana como sagrada e inviolável”.
Reformar-se a si mesmo
Francisco mencionou ainda a clássica representação da mulher de olhos vendados segurando a balança expressando a igualdade. Ele ressaltou que, para além dessa representação, é preciso administrar com misericórdia, segundo a Bíblia. Para ele, nenhuma reforma política do sistema judicial pode mudar a vida de quem a administra, a menos que primeiro escolham diante de sua consciência por quem, como, e porque fazer justiça.
Recordou ainda que Santa Catarina de Sena sustentava que para reformar é preciso primeiro reformar-se a si mesmo.
A cultura da Justiça reparatória
“O pensamento de por quem administrar a justiça ilumina sempre uma relação com aquele você, aquele rosto, a quem se deve uma resposta: o infrator a ser reabilitado, a vítima com sua dor a ser acompanhada. Aqueles que disputam direitos e obrigações, o profissional da justiça a ser responsabilizado e, em geral, todo cidadão a ser educado e sensibilizado”, enfatizou.
Segundo o Papa, a cultura da justiça reparatória é o único verdadeiro antídoto à vingança e ao esquecimento. “Pois procura a recomposição dos laços rompidos, e permite a recuperação da terra manchada pelo sangue do irmão”.
Solidões existenciais e reformas
Ao se debruçar sobre este ponto, o Papa Francisco explicou: “O ato violento e injusto de Caim não é dirigido contra o inimigo ou contra o estranho: ele é realizado contra os do mesmo sangue. Caim não pode suportar o amor de Deus Pai por Abel, o irmão com quem ele compartilha sua própria vida”.
O Papa traçou um paralelo dessa realidade com o mundo de hoje, marcado pela globalização generalizada e, no entanto, cada vez mais fragmentado em uma miríade de solidões existenciais.
Logo após comentou que a questão histórica sobre ‘como’ a justiça é administrada passa sempre pelas reformas. “O Evangelho de João, no capítulo 15, nos ensina a podar os galhos mortos sem amputar a árvore da justiça, a fim de contrariar as lutas de poder, o clientelismo, as diversas formas de corrupção. O motivo da administração, nos remete ao significado da virtude da justiça, que para vocês torna-se um traje interior: não um vestido a ser mudado ou um papel a ser conquistado.”
Justiça com virtude
Depois de citar que o rei Salomão pede para Deus lhe dar a graça de ‘saber fazer justiça’, Francisco recorda que ‘saber fazer justiça’ é o objetivo dos que desejam governar sabiamente. E o discernimento é a condição para distinguir o bem do mal.
Para o Sumo Pontífice, o relato bíblico não revela uma ideia abstrata de justiça, mas uma experiência concreta de um homem “justo”.
“Quando os grandes poderes se aliam para a autopreservação, os justos pagam por todos. A credibilidade do testemunho, o amor pela justiça, a autoridade, a independência de outros poderes constituídos e um leal pluralismo de posições são os antídotos para impedir que prevaleçam as influências políticas, as ineficácias e as várias desonestidades”, concluiu Francisco.