Dia Nacional do Livro é comemorado nesta quinta-feira, 29
Denise Claro
Da redação
Nesta quinta-feira, 29, é comemorado o Dia Nacional do Livro. A data foi escolhida por ser o dia da fundação da Biblioteca Nacional do Brasil, localizada no Rio de Janeiro, quando a Real Biblioteca Portuguesa foi transferida para a colônia, em 1810.
No Brasil, cerca de dois mil livros são lançados mensalmente pelas editoras. O país é responsável por 50% da produção de livros de todo o continente latino-americano.
Professor Felipe Aquino é autor de mais de cem livros pelas editoras Cléofas e Canção Nova. Ele conta que decidiu se tornar escritor pela motivação religiosa, a partir da necessidade que percebia no povo de um maior aprofundamento da fé. Há anos, trabalhava na coordenação do Curso de Noivos, na Diocese de Lorena (SP), e seu primeiro livro foi o “Sereis uma só carne”, sobre o sentido do casamento. Depois vieram os outros livros, e a Editora Cléofas.
“O que me motivou foi a evangelização. Ver que a Igreja tinha um arsenal de doutrina maravilhoso, que precisava chegar ao povo numa linguagem mais simples. No início da RCC, percebia que muitos estavam sendo renovados em Deus, tinha muito reavivamento espiritual, mas não tinha aprofundamento espiritual. A árvore cresce para cima, mas precisa crescer para baixo também, ter raízes. Então, eu me dediquei ao trabalho de aprofundamento, de formação e doutrina”, conta.
A escritora Márcia Ribas também passou a escrever a partir de uma vivência pessoal. Após emagrecer quarenta e quatro quilos, encontrou na escrita do livro “Olhar avesso: quando a vida é vista de dentro para fora” um modo de partilhar sua experiência.
“O emagrecimento sempre foi uma busca e uma dificuldade minha, tentei de várias formas. Quando eu descobri o que realmente significava emagrecer, senti que precisava levar essa informação para o mundo inteiro. Foi esse o lugar: o de dividir uma grande descoberta com as pessoas”, explica.
O hábito da leitura
Muito se fala sobre a importância da leitura. O que se afirma comumente é que o segredo para se tornar um bom escritor é ler muito.
Márcia compara o cultivo do hábito da leitura à necessidade de tomar banho todos os dias: “É preciso estar pronto para poder enfrentar a vida de uma forma limpa, de uma forma que se atualiza, e esse pra mim é o papel da leitura. É um mundo de faz de conta que trabalha nossa imaginação e nos prepara para o mundo real, que está sempre se atualizando”.
Apesar da grande produção literária no Brasil, o povo brasileiro lê bem menos que os habitantes dos países desenvolvidos. Cada brasileiro lê, em média, por ano, 2,5 livros, contra 10 nos Estados Unidos ou 15 em países como a Suécia ou a Dinamarca.
Ao ser perguntado sobre o hábito de ler, Professor Felipe afirma que a base, para ele, foram os livros que leu na infância, e o incentivo na escola das leituras e redações.
Márcia também se lembra com carinho dos familiares e professores que passaram em sua vida, e afirma ser fundamental esse contato: “Minha mãe sempre gostou muito de ler, minha casa tinha muitos livros. Apesar de morar em uma cidade muito pequena, Barra do Chapéu (SP), na escola os professores eram muito capazes, e desenvolviam na gente o gosto pela leitura. Todas as atividades levavam à leitura de livros. A biblioteca era o lugar do encontro. Cresci gostando mais de ler do que de ver televisão, por exemplo.”
Desafios e alegrias na escrita
Os desafios que os autores encontram no Brasil vão além da falta de hábito da leitura dos brasileiros. O país também conta com poucos pontos de venda: 89% dos municípios não tem livrarias, o que leva a uma venda menor, tiragem menor e preços mais altos por exemplar.
“É uma luta. O risco do livro não ter saída é grande. Essa questão do hábito é muito forte. Nos EUA, os pais tem o costume de ler para os filhos antes de dormir. Você entra no metrô, ônibus, e as pessoas estão lendo… e livros grossos. Com a internet, ainda vivemos uma retração do mercado editorial. Hoje, temos um Clube do Livro, em que leitores associados recebem mensalmente dois livros da editora, o que tem dado um bom resultado. Faço este trabalho como um apostolado. É um desafio, mas quanto mais você escreve, mais tem motivação para escrever”, afirma Professor Felipe.
Márcia lembra que, além de enfrentar os desafios de mercado, um escritor deve buscar a constância. Ao se dedicar à escrita, percebeu que era necessário criar disciplina no ato de escrever, criando um hábito.
“A escrita não é uma tarefa fácil. Não é uma inspiração, ela é transpiração o tempo todo, e na transpiração você consegue expor aquilo que para alguém vai ser inspiração, mas pra você é puro trabalho. Outro desafio é ‘limpar sua fala’, e falar em poucas palavras, muita coisa. No início, escrevia muito e não dizia quase nada. A escrita ainda vinha desorganizada. Mas com o tempo e a experiência fui aprendendo.”
A escritora termina dizendo que, apesar dos desafios, é imensa a alegria de escrever, e que isso a completa atualmente. “A escrita para mim é um lugar muito íntimo, onde eu consigo acessar informações minhas de uma forma tão clara, leve e significativa, que quando isso chega para o leitor, ela vai inteira, e consegue fazer com que a pessoa se sinta nesse mesmo lugar, que ela tenha a mesma sensação, mas um encontro com ela, não comigo. Tenho prazer em escrever. Ao final, é impressionante e você se pergunta: ‘Como foi que eu consegui trazer tudo isso pra fora?’. É puro dom trabalhado, desenvolvido, mas é a pura arte, é uma coisa que me encanta demais.”