Com essa doação, a Ajuda à Igreja que Sofre renova sua proximidade com as comunidades cristãs em países onde eles são minoria religiosa
Da redação, com VaticanNews
“São cerca de 300 milhões os cristãos que vivem em países onde há perseguição por ódio à fé. Tais países também são, frequentemente, afetados pela pobreza. Hoje, aos dois primeiros “P”, perseguição e pobreza, um terço foi acrescentado, o “P” da pandemia. Por essa razão, a Ajuda à Igreja que Sofre (AIS) direcionou 5 milhões para financiamento de emergência em favor de sacerdotes e religiosos comprometidos no atendimento às comunidades cristãs mais expostas ao coronavírus”.
A informação, divulgada pelo L’Osservatore Romano, é do diretor da AIS Italia, Alessandro Monteduro, convencido mais do que nunca que, em tempos de pandemia, a Semana Santa e, em particular, na Sexta-feira Santa, assumem um significado particular.
No mundo, de fato, um cristão em cada sete vive em um país marcado por perseguição e violência. A decisão de alocar fundos – explica Monteduro – foi tomada, há algumas horas, pela AIS, que pretende assim contribuir para mitigar o impacto do Covid-19.
Uma gota no mar das necessidades
“Esta é uma gota no mar em comparação com o que é e será necessário – disse, por sua vez, Thomas Heine-Geldern, presidente executivo da AIS Internacional –, mas a Igreja desempenha um papel espiritual e pastoral particularmente vital na vida cotidiana das comunidades cristãs mais pobres do mundo, e devemos contribuir para fortalecer a rede de proteção que ela assegura. Sou grato aos nossos benfeitores que, apesar de seus sofrimentos e dificuldades, estão ajudando seus irmãos e irmãs na fé”.
A alocação garante uma intervenção de amplo espectro no Oriente Médio, Europa Central e Oriental, na América Latina, Ásia e África. Graças a essa iniciativa, os ministros de Deus poderão dedicar-se com maior eficácia às atividades pastorais e de apoio aos enfermos e aos idosos, especialmente aqueles que também são atingidos pela pobreza.
Oportunidade para mudanças
Em face da pandemia de Covid-19, repetem-se as palavras de Jesus no momento da morte : “Meu Deus, porque me abandonaste”. Assim, esse período de pandemia poderá ser para todos uma oportunidade importante para aprender a julgar e compreender os erros cometidos até o agora; o que devemos fazer para podermos nos converter, como mudar para evitar viver no egoísmo e na total indiferença em relação àqueles que sofrem e precisam de ajuda e conforto.
“Infelizmente, como na Europa, também em quase todos os países onde os cristãos sofrem opressão e discriminação – acrescenta o diretor da seção italiana da fundação do direito pontifício – as celebrações públicas estão temporariamente suspensas. Para nossos irmãos que viveram experiências dramáticas de fé, que nos últimos anos participaram de Missas em países como Egito, Paquistão, Nigéria, sem saber se voltariam vivos para suas famílias, que testemunham, cotidianamente, sua fé com coragem e heroísmo não obstante o terrorismo, a decisão de suspender as Missas públicas nem sempre é compreensível”.
Sírios rezam por nós
“Surpreende somente aqueles que não conhecem a força da fé que os nutre, o modo pelo qual os cristãos perseguidos testemunham a solidariedade pelo sofrimento de nações como Itália e Espanha. De fato, são inúmeras as mensagens de proximidade na oração – recorda o diretor da AIS Itália – que chegam de comunidades cristãs que sempre experimentaram o medo e o isolamento. Da martirizada Síria são constantes as orações dedicadas a nós, irmãos mais afortunados. No entanto, apesar de conviver com a guerra há quase dez anos, as bombas, o embargo, continuam rezando por nós”.
Perseguição contra os cristãos ignorada pela comunidade internacional
Segundo a AIS, 61% da população mundial vive em países onde não há respeito pela liberdade religiosa; em 9% das nações do mundo há discriminação; e em 11% dos Estados há perseguição. Em absoluto não deve ser negligenciada a cortina de superficialidade e indiferença por trás da qual as vulneráveis comunidades de fé continuam a sofrer, embora sua condição seja ignorada também pela comunidade internacional.
A AIS identificou 38 países nos quais existem violações graves ou extremas da liberdade religiosa. Vinte e um deles são classificados como locais de perseguição. Dezessete, no entanto, são classificados como locais de discriminação.
Entre os países africanos onde a intolerância religiosa assumiu recentemente aspectos dramáticos estão a Nigéria, a República Centro-Africana e a República Democrática do Congo, após numerosos ataques de grupos islâmicos ou jihadistas.
Na Nigéria, a deterioração foi causada essencialmente por três fatores: o terror perpetrado pela organização Boko Haram; os confrontos entre pastores nômades islâmicos e os agricultores, bem como o fracasso das autoridades que não foram capazes de investigar violações da liberdade religiosa, conforme estabelecido na Constituição do país.
Na República Centro-Africana, embora importantes líderes religiosos enfatizem consistentemente que o conflito não tem caráter religioso, foram cometidos inúmeros atos de violência nos quais indivíduos e comunidades, especialmente cristãos, foram atingidos por causa de sua religião.
Na República Democrática do Congo, centenas de igrejas foram profanadas e destruídas por grupos fundamentalistas, e numerosos cristãos perderam a vida.
Situação difícil também no Oriente Médio, em particular no Iraque, na Síria e na Terra Santa.
No Iraque, a população cristã foi quase exterminada, enquanto que a população restante, graças ao apoio da Igreja, está procurando, com muito esforço, reconstruir suas vidas.
Na Síria, quase dez anos de guerra praticamente cancelaram a comunidade cristã, apoiada com dificuldade pela Igreja e por ONGs.
Em 17 dos 38 Estados em que se registram violações da liberdade religiosa – ou seja, quase a metade do total de países com casos de perseguição e discriminação – a situação piorou nos últimos anos. Uma tendência preocupante é o aumento do nacionalismo agressivo contra as minorias, que degenerou a ponto de ser chamado de ultra-nacionalismo.
Esse fenômeno se desenvolveu de maneira diferente dependendo do país. O caso da Índia é significativo, onde se registram cada vez mais atos de violência contra minorias religiosas. O ultra-nacionalismo não se identifica necessariamente com uma religião. Frequentemente, manifesta-se como hostilidade geral do Estado em relação a todas as fés e se traduz em medidas restritivas que limitam severamente a liberdade religiosa. Sequestros e conversões forçadas ao islã de adolescentes, meninas e mulheres cristãs e hinduístas ocorrem com muita frequência no Paquistão.
AIS reitera apoio aos sacerdotes e comunidades cristãs perseguidas
Apesar do enorme sofrimento, “nossos irmãos oprimidos, e em particular os sacerdotes perseguidos, estão nos ajudando de maneira eficaz e nós os apoiamos.
A ajuda à Igreja que sofre, conclui o presidente da AIS Itália, Alfredo Mantovano, com essa alocação de 5 milhões de euros, renova sua proximidade com as comunidades cristãs em países onde ser uma minoria religiosa, nesses tempos dramáticos, é ainda mais do que ontem, motivo de marginalização e sofrimento”.