Idosos devem ser respeitados, diz religiosa brasileira que participará do evento; psicóloga frisa importância do apoio familiar no envelhecimento
Julia Beck
Da redação
“A riqueza dos anos”. Este é o tema do primeiro Congresso Internacional da Pessoa Idosa iniciado nesta quarta-feira, 29, na Itália. Já em Roma para participar do evento, a coordenadora nacional da Pastoral da Pessoa Idosa, Irmã Terezinha Tortelli, afirma que a iniciativa é uma forma de despertar a sociedade para um olhar de compreensão para com os que se empenharam uma vida toda na construção da história e dos valores. “Devem ser respeitados como guardiões da memória”, frisou.
Desde o início de seu pontificado, o Papa Francisco enfatiza o papel dos idosos na transmissão da fé, no diálogo com os jovens e na conservação das raízes dos povos. Para Irmã Terezinha, não reconhecer o valor da pessoa idosa é arrancar as raízes da humanidade. “Uma sociedade que não valoriza seus idosos, ou seja, que não valoriza a história e a memória, não terá futuro”, advertiu.
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Apesar de ser um processo natural da vida, envelhecer em uma sociedade onde se valoriza demais a juventude, é um desafio, afirma a psicóloga Marcela Mendes Sfair Fortes. Segundo Marcela, até pouco tempo o envelhecimento era sinônimo de doença. “Hoje sabemos que é possível sim envelhecer com saúde. As doenças que enfrentamos quando envelhecemos são resultados de escolhas de estilo de vida que fazemos durante a nossa juventude. Assim, as maneiras de se alcançar a longevidade com saúde estão ao nosso alcance”.
O prolongamento da expectativa de vida e do envelhecimento da população também já foi tema de um dos discursos do Papa. Sobre este fato, Francisco afirmou: “até a espiritualidade cristã foi tomada um pouco de surpresa”. O Pontífice pede uma reflexão eclesial sobre o que ele chamou de bênção de uma vida-longa. “Sejam protagonistas e não guardem os remos no barco porque a velhice também deve ser momento para renovar-se”, afirmou.
Benedita Silva do Nascimento, de 66 anos, tem encarado a terceira idade desta forma, como um tempo de renovação e animação. Ativa, Benedita sublinha que para viver bem a terceira idade é preciso oração, participação na comunidade Igreja, boas amizades, exercícios físicos e uma alimentação saudável.
“O segredo é não ter preguiça, pensar na sua saúde em primeiro lugar”, assegura a idosa. Segundo a psicóloga Marcela, os cuidados com a saúde devem ser incorporados ainda na infância. “Só assim teremos uma velhice mais saudável e plena. Cuidar da saúde, evitar ter uma vida sedentária, planejar uma renda na velhice para manter a qualidade de vida são alguns fatores importantes para envelhecermos mais felizes”.
Família como fonte de amor e proteção
A família é também uma das coisas mais importantes para Benedita. “Minha relação com a família é maravilhosa”, frisou. A idosa conta que casou-se muito cedo e que sempre dedicou-se à família. Acompanhava os filhos nas atividades escolares e extraescolares, e depois, com a chegada dos netos, auxiliou os filhos nos cuidados com os pequenos.
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Filha de Benedita, a professora, Andreia do Nascimento Carvalho, afirma que é fundamental que a família se faça presente na vida de uma pessoa que está na transição da fase adulta para a velhice. “Todos passaremos por isso e é preciso ficar perto para perceber se eles têm alguma necessidade, se precisam de algo mais especializado, de algum profissional, além de dar muito carinho, amor e presença. Procuro sempre estar muito perto da minha mãe e do meu pai”, comentou.
“Meus pais sempre estiveram presentes. Ajudaram a cuidar dos meus filhos e até hoje nos auxiliam. Ajudam meus irmãos e contribuem de todas as formas, olham nossa casa quando viajamos, estão sempre próximos dos nossos filhos quando estamos longe, ligam, mandam mensagem. O pouco que eles fazem já contribui demais para nós. São muito observadores e nos ajudam na formação dos filhos”, completou Andreia.
O apoio familiar no processo de envelhecimento é essencial para o bem-estar do idoso, afirma a psicóloga. Segundo Marcela, a família precisa oferecer proteção, amor, afeto, suporte social, fazendo com que a pessoa idosa se sinta amada, e principalmente útil dentro do seio familiar, proporcionando uma qualidade de vida melhor e equilíbrio psicológico.
Interação entre as gerações
O convívio entre as gerações é visto por Benedita como algo enriquecedor. “Aprendi inglês com meu neto mais velho. Quando ele era pequeno, o ajudava com as lições e ele sempre me ensinava a pronúncia. Ensinando ele, aprendi tanta coisa”. Para Andreia, a convivência com outras gerações só agrega no crescimento de todos. “Todas as gerações contribuem para o nosso crescimento e amadurecimento como família”.
“O convívio de jovens e idosos é extremamente enriquecedor para ambas as gerações, aliando a sabedoria e experiência de vida que a velhice traz com os conhecimentos da vida moderna dos mais novos. As trocas intergeracionais trazem benefícios para todos”, sublinha a psicóloga.
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Para os idosos, Marcela revela que a interação entre as gerações proporciona os seguintes benefícios: aumento da autoestima, aquisição de novos conhecimentos, certeza de que ainda são muito úteis ao transmitirem suas experiências. Para os mais novos, os benefícios são: quebra de preconceitos, inúmeros aprendizados e sabedoria. “A partir do respeito mútuo entre todas as gerações, os jovens estarão conscientes da importância dos idosos em nossa sociedade”, complementou a psicóloga.
Exercitar é preciso
Sobre as atividades físicas, Benedita conta que já praticou muitas (natação, montanhismo, ciclismo, caminhada), mas o vôlei é, sem dúvida, sua atividade preferida: “Sempre gostei de vôlei, mas nunca tive a oportunidade de participar de um time profissional. Minha filha mais velha também amava vôlei como a mãe, e eu não perdia um jogo dela”.
“Quando fiz 65 anos descobri o vôlei adaptado para a melhor idade. Hoje estou realizando meu sonho de infância, que era o de jogar vôlei. Fiquei apaixonada. Jogo em várias competições e participo de tudo. Estou amando. Pensei que, na minha idade, não realizaria mais nenhum sonho e realizei mais esse. Faz um bem. Vendo meus companheiros do vôlei, com 80 anos e ativos, me inspiro e busco continuar”, revelou a idosa.
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A partir de uma vida ativa, com atividade física, alimentação saudável, utilização constante da mente, os idosos podem manter a autoestima elevada, valorizando todas as experiências vividas e desfrutando do que a vida ainda têm a oferecer, esclareceu a psicóloga.
“O que mais admiro na minha mãe é que ela nunca deixa a peteca cair. Ela pode até não estar muito bem, mas é difícil vê-la reclamar de algo. Ela tem uma disposição invejável. Eu que sou mais nova que ela não tenho toda essa disposição, então admiro muito isso, ela está sempre pronta para ajudar, sempre pra cima, nada a abala. Ela é muito cheia de fé, confiante, tem pensamento positivo, enfim, é uma pessoa muito admirável”, declara Andreia.