Ao celebrar a missa na Casa Santa Marta, Francisco recordou que a revelação começa sempre na pequenez, não na soberba
Da redação, com Vatican News
“A liturgia de hoje fala das coisas pequenas, podemos dizer que hoje é o dia do pequenino”. Assim o Papa Francisco começou a homilia da missa que presidiu nesta terça-feira, 3, na capela da Casa Santa Marta. O anúncio feito na primeira leitura, extraída do livro do profeta Isaías, foi sublinhada pelo Pontífice: “Nascerá uma haste do tronco de Jessé e, a partir da raiz, surgirá o rebento de uma flor; sobre ele repousará o espírito do Senhor …”.
Segundo o Santo Padre, a Palavra de Deus faz elogio do pequeno e uma promessa, a promessa de um broto que surgirá. Francisco questionou: “O que é menor do que um broto?”. E prosseguiu: “[Mesmo assim], sobre ele repousará o espírito do Senhor”. O Papa afirmou que a redenção, a revelação, a presença de Deus no mundo se faz na pequenez.
Os grandes se apresentam poderosos, constatou Francisco, que completou: “Pensemos na tentação de Jesus no deserto, como Satanás se apresenta poderoso, dono de todo o mundo: ‘Eu dou tudo se você…’. Ao invés, as coisas de Deus começam brotando, de uma semente, pequenas. E Jesus fala desta pequenez no Evangelho”. Jesus se alegra e agradece ao Pai porque se revelou não aos poderosos, mas aos pequeninos, frisou o Pontífice.
O Papa recordou que no Natal todos irão ao presépio onde está a pequeneza de Deus. E fez então uma advertência: “Numa comunidade cristã onde os fiéis, os sacerdotes, os bispos, não tomam esta estrada da pequenez, falta futuro, ruirá. Foi o que vimos nos grandes projetos da história: cristãos que buscavam se impor, com a força, a grandeza, as conquistas… Mas o Reino de Deus brota no pequeno, sempre no pequeno, a pequena semente, a semente de vida. Mas a semente sozinha não pode nada. E há outra realidade que ajuda e que dá a força: ‘Nascerá uma haste do tronco de Jessé e, a partir da raiz, surgirá o rebento de uma flor; sobre ele repousará o espírito do Senhor'”.
“O Espírito escolhe o pequeno, sempre”, destacou ainda o Santo Padre, que completou frisando que o Espírito não pode entrar no grande, no soberbo, no autossuficiente. “É no coração pequeno que acontece a revelação do Senhor”.
O Pontífice falou dos estudiosos de teologia para destacar que os teólogos “não são aquelas pessoas que sabem tantas coisas de teologia”, se assim fosse, poderiam ser chamados de ‘enciclopedistas’ da teologia: “Sabem tudo; mas são incapazes de fazer teologia porque a teologia se faz de joelhos, fazendo-se pequenos”.
“O verdadeiro pastor seja ele sacerdote, bispo, papa, cardeal, qualquer que seja, se ele não se tornar pequeno, ele não é um pastor, ao contrário, ele é um gerente de escritório”, enfatizou Francisco, que prosseguiu: “Isso aplica-se a todos. (…) Do que tem uma função que parece mais importante na Igreja, à pobre velhinha que faz as obras de caridade em segredo”.
O Papa Francisco esclareceu então uma dúvida que poderia surgir, isto é, que o caminho da pequenez conduz à pusilanimidade que é fechar-se em si mesmo, ao medo. E diz que, pelo contrário, “a pequenez é grande” é a capacidade de arriscar “porque não tem nada a perder”. E explicou que é precisamente a pequenez que leva à magnanimidade, porque torna homens e mulheres capazes de ir além, sabendo que a grandeza leva a Deus. Citando uma frase de São Tomás de Aquino, contida em sua Suma teológica, o Santo Padre explicou como deve se comportar um cristão que se sente pequeno, diante dos desafios do mundo, para não viver como um covarde:
“Não ter medo das coisas grandes – São Francisco Xavier hoje, nós o vimos – não ter medo, seguir em frente; mas levar em consideração as pequenas coisas, juntas, isto é divino’. Um cristão parte sempre da pequenez. Se eu na minha oração me sinto pequeno, com as minhas limitações, meus pecados, como aquele publicano que rezou no fundo da igreja, envergonhado: ‘Tenha piedade de mim que sou pecador’, você irá para frente. Mas se você acredita ser um bom cristão, rezará como aquele fariseu que não saiu justificado: ‘Dou-te graças, Deus, porque sou grande’. Não, agradeçamos a Deus porque somos pequenos”.
O Pontífice concluiu a sua homilia dizendo que gosta de administrar o sacramento da confissão e, acima de tudo, gosta de confessar as crianças. “Suas confissões, são belas, porque contam os fatos concretos: ‘Eu disse esta palavra’, por exemplo, e a repetem para você”. O Papa comentou: “A concretude daquele que é pequeno. ‘Senhor, sou um pecador porque faço isto, isto, isto, isto… Esta é a minha miséria, a minha pequenez. Mas envia o teu Espírito para que eu não tenha medo das grandes coisas, não tenha medo de que faças grandes coisas na minha vida'”.