Cardiologista explica tipos de doença que podem ser causados pelo tabaco e alerta sobre os prejuízos também para o fumante passivo
Kelen Galvan
Da redação
“Tabaco e Doença Cardíaca” foi o tema escolhido pela Organização Mundial de Saúde (OMS) para o Dia Nacional de Combate ao Fumo, lembrado nesta quarta-feira, 29. A campanha alerta para a ligação entre tabaco e doenças cardiovasculares (DCV), que, combinados, são as principais causas de morte do mundo – 17,7 milhões de pessoas por ano -, conforme dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca).
O cardiologista Rodrigo Caldas Hoelz descreve o que o tabaco provoca no coração e na circulação sanguínea. Ele explica que o cigarro agride o endotélio, que é a camada de células que recobre os vasos sanguíneos, e isso interfere na produção de uma substância protetora conhecida como óxico nítrico. Isso faz com que as artérias fiquem mais vulneráveis ao acúmulo de gordura.
Além disso, há uma interferência no mecanismo de contração e relaxamento desses vasos, interferindo na circulação sanguínea.
Outro mal provocado pelo fumo é a aceleração de um processo conhecido como “oxidação do colesterol”. “Isso favorece a formação da placa de aterosclerose, que é o fenômeno que leva às doenças isquêmicas, como AVC e infarto”, alerta o especialista.
Fumante passivo
O Tabagismo é considerado, pela OMS, a principal causa de morte evitável em todo o mundo, e mata sete milhões de pessoas todos os anos. Destas, 900 mil são vítimas de fumo passivo.
Um fumante passivo é o não-fumante que convive com fumantes em ambientes fechados, deixando-o vulnerável aos componentes tóxicos e cancerígenos presentes na fumaça do tabaco.
O cardiologista aponta que, segundo dados do Inca, mais de 4.700 substâncias tóxicas são jogadas no ar pela fumaça do cigarro, afetando tanto os fumantes de fato, quanto os passivos. “Quem ‘fuma’ involuntariamente, geralmente filhos e esposas de tabagistas, pode chegar a consumir o equivalente a quatro cigarros por dia. No caso específico das crianças, os principais malefícios são relacionados a doenças respiratórias”.
Entre os efeitos do fumo passivo em crianças estão:
• Infecções de ouvido (otite) reincidente. O risco aumenta 21% se o pai for fumante, 38% a mãe e 48% caso ambos tenham o vício;
• Aumento na incidência de resfriados;
• Bronquites, com risco aumentado em 72% se a mãe fuma e 29% se outro membro da família faz o uso de tabaco;
• Ataques de asma, que podem aumentar em 14% (pai fuma), 38% (mãe) e 48% (os dois);
• Pneumonia;
• Rinite aguda;
• Morte súbita em lactentes (geralmente de até 1 ano de idade): risco multiplicado por dois.
Narguilé e cigarro eletrônico
Modismos como narguilé e o cigarro eletrônico escondem riscos. Tratado como forma menos nociva do que o cigarro tradicional, por utilizar mecanismos de filtragem, o uso do narguilé é mais prejudicial que o próprio cigarro.
“A concentração de nicotina nesses produtos é extremamente alta. Uma hora de uso do narguilé pode corresponder a 100 cigarros comuns”, alerta o cardiologista, com base em dados da OMS.
Dr. Rodrigo explica ainda que a Comissão de Controle do Tabagismo do Conselho Federal de Medicina ressalta que todas as formas de uso do tabaco, mesmo aquelas apontadas – de forma equivocada – como menos nocivas, comprometem a saúde e uma melhor qualidade de vida.
No caso dos cigarros eletrônicos (e-cigarros) – proibido no Brasil pela Anvisa, desde 2009 – o problema são os efeitos de longo prazo, sobretudo comportamentais. O cardiologista destaca que estudos internacionais apontam que o cigarro eletrônico é usado por alguns como subterfúgio para abandonar o tabagismo, por liberar níveis mais baixos de toxinas. Entretanto, seu uso contínuo tem demonstrado efeito contrário, ou seja, seus usuários costumam se tornar fumantes intensos. Além disso, ele emite um vapor de água com componentes prejudiciais à saúde, poluindo o ar ambiente.
Fumantes precoces
Segundo o Ministério da Saúde, cerca de 80% dos fumantes iniciam o hábito antes dos 18 anos. Este foi o caso de Roberta Cardoso. Ela começou a fumar aos 15 anos, e sustentou o vício por 25 anos.
A decisão de parar de fumar veio este ano, quando contraiu uma pneumonia. “Fiquei sem fumar nesse período. Quando fiquei bem, decidi não voltar mais”, conta a professora, atualmente com 40 anos de idade.
Embora a decisão seja recente, ela conta que o cheiro de cigarro já a incomoda. “Sigo firme, não quero isso pra mim”, afirma Roberta.
O cardiologista explica que o início precoce do tabagismo tem um forte impacto nos riscos e nas consequências de fumar.
“Começar a fumar na adolescência prejudica o processo de maturação dos pulmões e do sistema nervoso central, e os adolescentes que experimentam fumar nesta idade têm um risco elevado de se tornarem dependentes. Quanto mais cedo se começa a fumar, mais rápida é a transição para o comportamento regular, mais cigarros são consumidos por dia no futuro e mais grave se torna a dependência. Consequentemente, mais longo será o tempo exposto às substâncias tóxicas e piores serão os danos para a saúde”, explica Dr. Rodrigo.
Como parar de fumar
Os tratamentos atuais para vencer o vício do fumo são coadjuvantes no processo, destaca o cardiologista, pois é preciso que a pessoa queira parar de fumar.
“Se não houver o desejo concreto do paciente, também não haverá a determinação necessária para completar o tratamento. Às vezes nem mesmo para iniciar… As medicações hoje existentes no mercado visam essencialmente reduzir os sintomas de abstinência, que são os grandes responsáveis pelo fracasso nas tentativas de se parar de fumar”, explica.
O médico conta que existem basicamente duas classes de medicamentos: as que contém nicotina (que existem em apresentações como pastilhas, gomas de mascar e adesivos), e as que não possuem nicotina (que são comprimidos vendidos sob prescrição médica).
O próprio SUS oferece tratamento gratuito para os fumantes. Para isso, a população deve procurar centros/postos de saúde ou a Secretaria de Saúde do seu município para informações sobre locais e horários de tratamento ou entrar em contato com o Disque Saúde 136.
Dr. Rodrigo afirma que quanto antes o paciente parar de fumar, mais depressa seu coração irá se recuperar dos danos causados pelo cigarro.
O médico recorda que em, 2015, o doutor Dimitrios Terentes-Printzios, da Universidade de Atenas, Grécia, apresentou os resultados de uma pesquisa que analisou a relação entre parar de fumar e a capacidade do coração de compensar os efeitos negativos do fumo.
“O que se percebeu é que o coração não se recupera de forma imediata. Existe um tempo para que isso ocorra. Os benefícios cardiovasculares começam a ser percebidos cerca de 10 a 15 anos após o abandono do tabagismo. Mas é um benefício real, com diminuição dos riscos de infarto e AVC. Por isso a importância de se abandonar o vício o quanto antes, para que mais depressa se alcance essa recuperação”, enfatizou.
.: Veja folder preparado pelo Inca “Você quer parar de fumar”