CATEQUESE
Sala Paulo VI – Vaticano
Quarta-feira, 8 de agosto de 2018
Boletim da Santa Sé
Tradução: Jéssica Marçal (Canção Nova)
Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
Continuamos hoje a meditar o Decálogo, aprofundando o tema da idolatria, falamos disso na semana passada. Agora retomamos o tema, porque é muito importante conhecê-lo. E partimos do ídolo por excelência, o bezerro de ouro, de que fala o Livro do Êxodo (31, 1-8) – acabamos de ouvir um trecho. Este episódio tem um contexto preciso: o deserto, onde o povo espera Moisés, que subiu ao monte para receber as instruções de Deus.
O que é o deserto? É um lugar onde reinam a precariedade e a insegurança – no deserto não há nada – onde falta água, falta a comida e falta o abrigo. O deserto é uma imagem da vida humana, cuja condição é incerta e não possui garantias invioláveis. Esta insegurança gera no homem ânsias primárias, que Jesus menciona no Evangelho: “Que comeremos? Que beberemos? Que vestiremos? (Mt 6, 31). São as ânsias primárias. E o deserto provoca essas ansiedades.
E naquele deserto acontece algo que desencadeia a idolatria. “Moisés tardava a descer da montanha” (Exo 32, 1). Permaneceu ali 40 dias e o povo ficou impaciente. Falta o ponto de referência que era Moisés: o líder, o guia reconfortante, e isso se torna insustentável. Então, o povo pede um deus visível – esta é a armadilha na qual cai o povo – para poder se identificar e orientar. E dizem a Arão: “Faça para nós um deus que caminhe à nossa frente!”, “Faça-nos um chefe, faça-nos um líder”. A natureza humana, para fugir da precariedade – a precariedade é o deserto – procura uma religião “faça você mesmo”: se Deus não se faz ver, façamo-nos um deus sob medida. “Diante do ídolo, não se corre o risco de uma possível chamada que nos faça sair das próprias seguranças, porque os ídolos « têm boca, mas não falam » (Sal 115, 5). Compreende-se assim que o ídolo é um pretexto para se colocar a si mesmo no centro da realidade, na adoração da obra das próprias mãos.
Arão não sabe se opor ao pedido do povo e cria um bezerro de ouro. O bezerro tinha um sentido duplo no Oriente antigo: de um lado representava fecundidade e abundância e do outro energia e força. Mas antes de tudo é de ouro, por isso é símbolo de riqueza, sucesso, poder e dinheiro. Estes são os grandes ídolos: sucesso, poder e dinheiro. São as tentações de sempre! Eis o que é o bezerro de ouro: o símbolo de todos os desejos que dão a ilusão de liberdade e em vez disso escravizam, porque o ídolo sempre escraviza. Há o fascínio e você vai. Aquele fascínio da serpente, que olha para o pássaro e o pássaro fica sem poder se mover e a serpente o pega. Arão não soube se opor.
Mas tudo nasce da incapacidade de confiar sobretudo em Deus, de colocar Nele as nossas seguranças, de deixar que seja Ele a dar verdadeira profundidade aos desejos do nosso coração. Isto permite apoiar também a fraqueza, a incerteza e a precariedade. A referência a Deus nos faz fortes na fraqueza, na incerteza e também na precariedade. Sem a primazia de Deus se cai facilmente na idolatria e se contenta com míseras seguranças. Mas esta é uma tentação que nós lemos sempre na Bíblia. E pensem bem nisso: libertar o povo do Egito não custou tanto trabalho a Deus; fez isso com sinais de poder, de amor. Mas o grande trabalho de Deus foi tirar o Egito do coração do povo, isso é, tirar a idolatria do coração do povo. E Deus ainda continua a trabalhar para tirá-la dos nossos corações. Este é o grande trabalho de Deus: tirar “aquele Egito” que nós carregamos dentro, que é o fascínio da idolatria.
Quando se acolhe o Deus de Jesus Cristo, que de rico se fez pobre por nós (cfr 2 Cor 8, 9) descobre-se então que reconhecer a própria fraqueza não é a desgraça da vida humana, mas é a condição para abrir-se àquele que é verdadeiramente forte. Então, pela porta da fraqueza entra a salvação de Deus (cfr 2 Cor 12, 10); é em força da própria insuficiência que o homem se abre à paternidade de Deus. A liberdade do homem nasce de deixar que o verdadeiro Deus seja o único Senhor. E isso permite aceitar a própria fragilidade e rejeitar os ídolos do nosso coração.
Nós cristãos voltamos o olhar a Cristo crucificado (cfr Jo 19, 37), que é frágil, desprezado e despojado de toda posse. Mas Nele se revela a face de Deus verdadeiro, a glória do amor e não aquela do engano cintilante. Isaías diz: “fomos curados graças às suas chagas” (53, 5). Fomos curados justamente pela fraqueza de um homem que era Deus, pelas suas chagas. E das nossas fraquezas podemos nos abrir à salvação de Deus. A nossa cura vem Daquele que se fez pobre, que acolheu a falência, que tomou até o fundo a nossa precariedade para enchê-la de amor e de força. Ele vem para nos revelar a paternidade de Deus; em Cristo a nossa fragilidade não é mais uma maldição, mas lugar de encontro com o Pai e fonte de uma nova força do alto.