Nascida no contexto do terremoto do Haiti, MAIS é uma instituição de pastores evangélicos que oferece ajuda a refugiados de guerra e de perseguição religiosa
Elcka Torres
Da Redação
A Missão em apoio à Igreja Sofredora (MAIS) nasceu como fruto do socorro emergencial levado ao Haiti por pastores evangélicos brasileiros após o terremoto de janeiro 2010. Hoje, a missão atua com a ajuda emergencial pós-catástrofe e tem executado projetos de reconstrução, desenvolvimento comunitário e geração de renda aos refugiados que saem do seu país devido à perseguição religiosa.
A entidade conta com sete bases: duas são no Brasil, as outras cinco se dividem em Uganda, Ásia Central, Haiti, Sudeste Asiático e Oriente Médio. Há também o programa de treinamento missionário que acontece no Brasil, e que recebe brasileiros e também alunos do Haiti, da Colômbia, de Cuba, da Guiné Bissau e do Burundi.
Confira registros fotográficos de algumas ações na galeria a seguir:
A base no Brasil, localizada em Vila Velha (ES), executa também o Projeto “Mais Refúgio”, que acolhe famílias cristãs sírias que fogem da guerra e da perseguição religiosa. O projeto oferece apoio integral às famílias como regularização da documentação, casa, alimentação, aulas de português e ajuda para conseguir emprego. Para esses que deixaram tudo para trás, as igrejas funcionam como uma família estendida, um novo tecido social e acolhedor, contribuindo para reinserção e socialização dos imigrantes.
O programa foi iniciado em novembro de 2013 e já antedeu mais de 160 pessoas (cerca de 25 solteiros e 35 unidades familiares).
Em entrevista ao noticias.cancaonova.com, o coordenador do Projeto ‘Mais Refúgio’, pastor José Prado, falou da dificuldade dos cristãos saírem de seu país de origem.
“Sair de um país em guerra civil ou fugir da violência da perseguição religiosa demanda muita coragem e força emocional. Como os aeroportos da Síria estão fechados, é necessário atravessar a fronteira para conseguir o visto brasileiro e também embarcar. As estradas são controladas pelas milícias armadas. Para se locomover, é necessário passar por várias barreiras, onde eles são chantageados, ameaçados e agredidos; além de terem de pagar propina, ou correm o risco de serem mortos, dependendo do ‘humor do soldado’. Por outro lado, ficar implica em ser alvo de bombas e tiros; muitos perdem tudo em questão de segundos. Familiares são mortos ao sair em busca de comida. Escolas e hospitais são alvos de atentados”.
As famílias que conseguem fugir saem carregando o que podem, com poucas malas, deixando para trás sua vida, família, história e cultura. “Quando os recebemos aqui, no aeroporto, é notório o sentimento de alívio. Alguns chegam a desmaiar quando saem no saguão”, afirma o pastor.
O coordenador do projeto recorda ainda o acolhimento a uma família que buscou o apoio do “Mais Refúgio”. “Dentre tantas histórias, lembro-me de um casal que veio com dois meninos pequenos (4 e 2 anos). Eu os recebi no aeroporto e os levei para casa, onde iriam passar a noite para seguir viagem no dia seguinte para nossa base em Vila Velha (ES). No trajeto para casa, o menino mais velho perguntou ao pai: ‘Aqui não tem polícia?’ (ele estava se referindo às barreiras policiais). Na mesa, enquanto jantávamos, ele disse: ‘Papai, eu não estou escutando barulho dos tiros’. Antes de dormir, eu o vi fazendo sua oração: ‘Papai do céu, muito obrigado por essa nova casa que não tem bombas. Hoje, a família está bem, todos estão felizes e são amados por uma igreja local. Os adultos estão trabalhando e as crianças indo à escola; eles estão enfrentando os desafios de uma nova vida com coragem e esperança.”
O pastor lembra ainda a importância de combater o preconceito que os refugiados muitas vezes sofrem quando chegam ao Brasil. “É importante dizer que existe um certo preconceito com a palavra ‘refugiado’, e ele deve ser combatido. Muitos acham que o imigrante refugiado é uma pessoa perigosa, um contraventor, um miserável e ignorante. Não, essas pessoas são gente como a gente, que são obrigados a fugir para preservar a própria vida. Muitos eram profissionais altamente capacitados, outros eram empresários bem sucedidos ou trabalhadores comuns, gente do povo. Eles não merecem nossa indiferença nem precisam de nossas esmolas. Eles requerem um tratamento humano, digno, respeitoso e compassivo, como nos ensinou o Senhor Jesus”, alerta Prado.
A instituição no Brasil, em Vila Velha (ES), também conta com uma equipe capacitada de missionários e voluntários que trabalham com o centro de acolhimento aos refugiados.
O número de pessoas que buscam refúgio no Brasil tem aumentado a cada dia. De acordo com o Comitê Nacional de Refugiados (Conare), do Ministério da Justiça, atualmente o país conta com 5.208 refugiados(as) de 80 nacionalidades. O número de pedidos aumentou mais de 800% nos últimos anos.