Crer para fazer um verdadeiro Natal
A passagem do Evangelho do IV domingo do Advento começa com as familiares palavras “Foi enviado por Deus o anjo Gabriel a uma cidade da Galiléia chamada Nazaré”. É o relato da Anunciação. Como de costume, contudo, nós devemos concentrar-nos em um ponto, e este ponto são as palavras de Maria: “Eis aqui a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a vossa palavra”.
Com estas palavras Maria fez seu ato de fé. Acolheu a Deus em sua vida, confessou-se a Deus. Com aquela resposta sua ao anjo, é como se Maria tivesse dito: “Estamos aqui, sou como um quadro encerado: que Deus escreva em mim tudo o que queira”.
Na antiguidade, escrevia-se em tabuletas enceradas; nós agora diríamos: “Sou um papel em branco: que Deus escreva em mim tudo o que desejar”. Poderia se pensar que a fé de Maria foi uma fé fácil.
Converter-se na mãe do Messias: não era este o sonho de toda moça hebréia? Mas nos equivocamos. Aquele foi o ato de fé mais difícil da história. A quem pode explicar Maria o que ocorreu nela? Quem acreditará nela quando disser que o menino que leva em seu seio é “obra do Espírito Santo”? Isto não havia sucedido jamais antes dela, nem sucederá nunca depois dela.
Maria conhecia bem o que estava escrito na lei mosaica: uma jovem que no dia das núpcias não fosse encontrada em estado de virgindade devia ser levada imediatamente ante a porta da casa paterna e lapidada (Cf. Dt 22, 20ss).
Maria conhecia sim “o risco da fé”! A fé de Maria não consistiu no fato de que deu seu consentimento a um certo número de verdades, mas no fato de que se fiou em Deus; pronunciou seu fiat a olhos fechados, crendo que “nada é impossível para Deus”.
Na verdade Maria nunca disse fiat, porque não falava latim, nem sequer grego. O que com toda probabilidade saiu de seus lábios é uma palavra que todos conhecemos e repetimos freqüentemente. Disse “Amém!”. Esta era a palavra com a qual um hebreu expressava seu consentimento a Deus, a plena adesão a seu plano.
Maria não deu seu consentimento com triste resignação, como quem diz para si: “Se é que não se pode evitar, pois bem, que se faça a vontade de Deus”. O verbo colocado na boca da Virgem pelo evangelista (genoito) está no optativo, um modo que, em grego, utiliza-se para expressar alegria, desejo, impaciência de que uma determinada coisa ocorra.
O amém de Maria foi como o “sim” total e gozoso que a esposa diz ao esposo no dia do casamento. Que tenha sido o momento mais feliz da vida de Maria o deduzimos também do fato de que, pensando naquele momento, ela entoa pouco depois o Magnificat, que é todo um canto de exultação e de alegria.
A fé faz felizes, crer é belo! É o momento no qual a criatura realiza o objetivo para o qual foi criada livre e inteligente. A fé é o segredo para fazer um verdadeiro Natal, expliquemos em que sentido: Santo Agostinho disse que “Maria concebeu por fé e deu à luz por fé”; mais ainda, que Nós não podemos imitar Maria em conceber e dar à luz fisicamente Jesus; podemos e devemos, ao contrário, imitá-la em concebê-lo e dar-lhe a luz espiritualmente, mediante a fé.
Crer é “conceber”, é dar carne à palavra. Assegura-o Jesus mesmo dizendo que quem acolhe sua palavra converte-se para ele em “irmão, irmã e mãe” (Cf. Marcos 3,33). Vemos portanto como se faz para conceber e dar à luz Cristo.
Concebe a Cristo a pessoa que toma a decisão de mudar de conduta, de dar uma volta na sua vida. Dá à luz Jesus a pessoa que, depois de ter adotado essa resolução, a traduz em ato com alguma modificação concreta e visível em sua vida e em seus costumes.
Por exemplo, se blasfemava, já não o faz; se tinha uma relação ilícita, corta-a; se cultivava um rancor, faz a paz, se não se aproximava nunca dos sacramentos, volta a eles; se era impaciente em casa, busca mostrar-se mais compreensiva, e assim sucessivamente. O que levaremos de presente este ano ao Menino que nasce? Uma oração da liturgia ortodoxa nos sugere uma idéia maravilhosa: “O que podemos te oferecer, ó Cristo, em troca de que tenhas feito homem por nós?
Toda criatura te dá testemunho de sua gratidão: os anjos seu canto, os céus a estrela, os Magos os presentes, os pastores a adoração, a terra uma gruta, o deserto um presépio. Mas nós, nós te oferecemos uma Mãe Virgem!”. Nós – isto é, a humanidade inteira – te oferecemos Maria!
Fonte: Zenit