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Homilia de Dom João Bosco Oliver de Faria na Assembleia

Excelentíssimo senhor Dom Geraldo Lírio Rocha, presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Reverendíssimos cardeais, meus queridos irmãos bispos, queridos padres de todo o Brasil, religiosos, irmãos e irmãs em Cristo e povo santo de Deus que nos acompanha na oração pela rádio e televisão. Conta a história que quando os gladiadores se apresentavam no circo de Roma, o imperador estava presente, então eles iam diante dele e o saudavam dizendo: "Ave, César, os que vão morrer te saúdam". Um dos cemitérios mais bonitos que conheço no Brasil está em Belo Horizonte, com túmulos que são verdadeiras obras de arte. No portão de entrada há uma frase significativa: "Dos que vão morrer aos mortos". Ao pensar nesta Celebração Eucarística recordei-me das duas passagens. Nós que vamos morrer rezamos por nossos irmãos mortos, mas penso que a inspiração teria que ser por outro caminho. Nós no Brasil, e a cultura ocidental de modo geral, temos o hábito de, quando a morte atinge nossa família, esconder isso das crianças enviando-as à casa de parentes ou de amigos. Em um dos povos de cultura árabe acontece o contrário: as crianças devem permanecer e no momento do enterro elas devem caminhar à frente do caixão, no sentido de que a pessoa não morreu, porque ela continua viva nos filhos e netos que deixou.

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O livro do Eclesiástico 30,4 diz o seguinte: “Se o pai vem a morrer, é como se não morresse, pois deixa em seu lugar alguém que lhe é semelhante”. Eu lembrava essa passagem no sepultamento de Dom Paulo Lopes Faria, em julho do ano passado, e dizia pedindo aos padres que ele havia ordenado que se levantassem na catedral, ele morreu e quase que não morreu. E, assim, todos os nossos irmãos falecidos neste ano que veneramos nesta manhã: eles morreram e quase que não morreram porque deixaram depois de si pessoas, sacerdotes, semelhantes a eles. O sacerdócio de Cristo, que está em todos os sacerdotes do Brasil ordenados por nossos irmãos bispos, faz a presença desses nossos irmãos na história da Igreja do Brasil. Todos os cristãos crismados que receberam das mãos deles a confirmação do Espírito Santo continuam a história deles dentro da Igreja. Nós bispos temos na história da nossa religiosidade, da nossa vocação, um bispo que nos crismou, um bispo que nos conferiu o sacramento da ordem. Esse sacerdócio de Cristo passou por eles e está em nós, continuam vivos em nós. Todo o bem que estes sacerdotes do Brasil, ordenados por nossos irmãos falecidos, e todo o bem que nós fizermos ao longo de nosso episcopado não deixará de ser presença dos irmãos que veneramos e por quem choramos. Eles morreram e quase que não morreram, porque deixaram após si alguém semelhante a eles.

Entre as árvores floridas do Brasil a que mais admiro e aprecio é o pessegueiro em flor. Os matizes das cores fazem dele uma árvore de beleza ímpar. Como seria bom se o pessegueiro se mantivesse florido ao longe de todo o ano! Mas, é necessário que as flores caiam para que venham os pêssegos, se elas não caírem não teremos os pêssegos. O Evangelho de São João 12,24 diz: “Se o grão de trigo, caído na terra, não morrer, fica só; se morrer, produz muito fruto”. E assim estes nossos irmãos que se imolaram por amor a Cristo e pela Igreja, como disse o Evangelho de hoje, no sentido de dar a vida por amor ao irmão,  irrigaram o grão por eles plantados com as próprias lágrimas e com o próprio suor. Sobretudo as lágrimas derramadas no escondido de seus corações diante do sacrário. Vocês, meus irmãos casados, pais que na labuta das famílias sofrem e derramam lágrimas querendo o bem dos filhos, essas lágrimas são santas, essas lágrimas são fortes e fecundam a semente do testemunho de vida que os senhores plantam no coração de seus filhos. Estas mesmas lágrimas serão transformadas em diamantes preciosos na coroa que vocês receberam da Misericórdia de Deus. Essas lágrimas que nossos irmãos bispos derramaram, ao longo do exercício dos seus ministérios em meio às adversidades e sacrifícios, são transformadas em pedras preciosas, que ornamentam a coroa pela qual esperamos e rezamos que eles recebam da Misericórdia de Deus nos céus.

Quando ocorrer a oportunidade de derramar uma lágrima por Cristo e pela Igreja, esta lágrima preciosa e santa, não podemos correr dela, porque é a garantia da fecundidade do ministério que realizamos.

E assim Deus nos conserve fortes, alegres e de coração grande para fazer de nossa vida uma imolação a Cristo e à Igreja até que o Senhor nos chame para participar do Seu amor eterno.

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