Caríssimos irmãos e irmãs,
Estamos celebrando a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, que se concluirá na próxima sexta-feira, 25 de janeiro, festa da Conversão do Apóstolo Paulo. Os cristãos das várias Igrejas e Comunidades eclesiais se unem nestes dias em uma coral invocação para pedir ao Senhor Jesus o restabelecimento da plena unidade entre todos seus discípulos.
É uma concorde imploração feita em uma só alma e um só coração respondendo ao desejo do próprio Redentor que, na última ceia, ele voltou-se ao Pai com estas palavras: “não rezo somente por estes, mas também por aqueles que, graças à sua palavra, creram em mim; para que todos sejam um. Como tu, Pai, estás em mim e eu em Ti, que todos sejam um só, para que o mundo creia que tu me enviaste” (Jo 17,20-21). Suplicando a graça da unidade, os cristãos se unem na mesma oração de Cristo e se empenham a operar ativamente para que toda humanidade o acolha e o reconheça como Pastor e único Senhor, e possa assim experimentar a alegria de seu amor.
Neste ano a Semana de Oração pela Unidade dos cristãos assume um valor e um significado particular, porque recorda os 100 anos de seu início. Quando se concretizou, tratou-se, de fato, de uma instituição verdadeiramente fecunda. Foi em 1908: um anglicano americano, após entrar em comunhão com a Igreja Católica, fundador da “Sociedade da Reconciliação” (Comunidade dos irmãos e irmãs da Reconciliação), Padre Paul Wattson, junto com um outro epíscopo, Padre Spencer Jones, lançou a idéia profética de uma oitava de oração pela unidade dos cristãos. A idéia veio acolhida com o aval do Arcebispo de Nova Iorque e do Núncio Apostólico.
O apelo para rezar pela unidade, depois, foi se expandindo, em 1916 em toda Igreja Católica, graças à intervenção do meu venerado antecessor, o Papa Bento XV, com o Breviário Ad perpetuam rei memoriam. A iniciativa, que então havia suscitado não pouco interesse, foi se enraizando em toda parte progressivamente e, com o tempo, sempre mais necessitou que a própria estrutura se envolvesse em seu desenvolvimento graças também à contribuição de Abbé Couturier (1936). Quando, então, soprou o vento profético do Concílio Vaticano II se advertiu ainda mais a urgência da unidade.
Após as Normas Conciliares, prosseguiu-se o caminho paciente da busca da plena comunhão entre todos os cristãos, caminho ecumênico que de ano em ano encontram-se propriamente na Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos – um dos momentos mais qualificantes e profícuos. Há cem anos do primeiro apelo a rezar juntos pela unidade, e ainda encontrada uma tradição consolidada nesta Semana de Oração, conservando o espírito e as datas escolhidas no início pelo Padre Wattson. Ele havia, então, escolhido por sua característica simbólica.
O calendário do tempo era previsto entre 18 de janeiro, a Festa da Cátedra de São Pedro, que é o saldo fundamental e segura garantia da unidade de todo povo de Deus, entre o 25 de janeiro, também como hoje, onde a liturgia celebra a festa da conversão de São Paulo. Enquanto redemos graças ao Senhor por estes cem anos de oração e empenho comum entre tantos discípulos de Cristo, recordamos conscientemente o idealizador desta providencial iniciativa espiritual, o Pe. Wattson e, junto a ele, com aqueles que têm promovido e embelezado com seus esforços, fazendo-a tornar patrimônio comum de todos os cristãos.
Recordando que, pouco antes do tema da unidade dos cristãos, o Concílio Vaticano II dedicou grande atenção, especialmente com o Decreto sobre o ecumenismo (Unitatis redintegratio), no qual, entre outros, veio destacar com força o desenrolar e a importância da oração pela unidade. A oração, observa o Concílio, está no coração de todo caminho ecumênico. “Esta conversão do coração e esta santidade de vida, junto com as orações particulares e públicas pela unidade dos cristãos, devem-se reter como a alma de todo movimento ecumênico” (UR, 8).
Graças, próprio a este ecumenismo espiritual – santidade da vida, conversão do coração, orações particulares e públicas –, a busca comum da unidade foi registrada em décadas um grande crescimento, que se é diversificada em múltiplas iniciativas: do recíproco conhecimento ao contato fraterno entre membros de diversas Igrejas e comunidades eclesiais, de conversas sempre mais amigáveis a colaborações em vários campos, do diálogo teológico à busca de concretas formas de comunhão e de colaboração. Quem a vivifica e continua a vivificar este caminho à plena comunhão entre todos os cristãos é, antes de tudo, a oração. “Rezai continuamente” (1 Ts 5,17) é o tema da Semana deste ano; é ao mesmo tempo o convite que não cessa mais de ressoar em nossas comunidades, para que a oração seja a luz, a força, a orientação de nossos passos, em atitude de humildade e docilidade na escuta de nosso comum Senhor.
Em segundo lugar, o Concílio põe em destaque sobre a oração comum, aquela que vem juntamente elevada por católicos e por outros cristãos ao único Pai celeste. O Decreto sobre ecumenismo afirma em propósito: “Estas orações em comum são, sem dúvida, um meio muito eficaz para suplicar a graça da unidade” (UR, 8). E quem porque, na oração comum, a comunidade cristã se põe junta diante do Senhor e, tomando consciência das contradições gerais da divisão, manifestam a vontade de obedecer à sua vontade, recorrendo confiantes ao Seu onipotente socorro. O Decreto destaca ainda que tais orações “são uma genuína manifestação dos vínculos com os quais os católicos são ainda unidos com os irmãos separados (seiuncti)” (ibid.).
A oração comum não é ainda um ato voluntário ou puramente sociológico, mas é expressão da fé que une todos os discípulos de Cristo. Ao longo dos anos se foi instaurada uma fecunda colaboração neste campo e em 1968 o ainda Secretariado pela unidade dos cristãos, e o Conselho Ecumênico das Igrejas preparam juntas os subsídios da Semana de Oração pela Unidade, que vêm então divulgadas conjuntamente no mundo, chegando em lugares que não se sabe mais onde se alcança.
O Decreto conciliar sobre ecumenismo faz referência à oração pela unidade quando, próprio à sua finalidade, afirma que o Concílio é, sem dúvida, que “este santo propósito de reconciliar todos os cristãos na unidade da Igreja de Cristo, una e única, supera as forças e os dotes humanos. Por isso repõe toda a sua esperança na oração de Cristo pela Igreja” (UR 24). É o conhecimento dos nossos limites humanos que impele ao abandono confiante nas mãos do Senhor.
A bem ver, o sentido profundo desta Semana de Oração é propriamente aquele de apropriar-se constantemente sobre a oração de Cristo, que na Sua Igreja continua a rezar para “que todos sejam uma coisa só… para que o mundo creia…” (Jo 17,21). Hoje sentimos fortemente a realidade destas palavras. O mundo sofre pela ausência de Deus, pela inacessibilidade de Deus, tem desejo de conhecer a face de Deus. Mas como poderemos e podemos, os homens de hoje, conhecer esta faze de Deus na face de Jesus Cristo, se nós, Cristãos, estamos divididos, se um ensina contra o outro, se um está contra o outro? Somente na unidade podemos mostrar realmente a este mundo – que tem necessitado – a face de Deus, a face de Cristo. É também evidente que não com as nossas próprias estratégias, com o diálogo e com tudo aquilo que fazemos – que ainda é tão necessário – podemos obter esta unidade. Aquilo que podemos obter é a nossa disponibilidade e capacidade de acolher esta unidade quando o Senhor se dá. Eis aí o sentido da oração: abrir nossos corações, criar em nós esta disponibilidade que abre a estrada a Cristo. Na liturgia da Igreja antiga, após a homilia, o Bispo ou o presidente da celebração, o celebrante principal, dizia: “Conversi ad Dominum”. Ainda ele mesmo e todos se levantavam e se voltavam para o Oriente. Todos buscavam olhar para Cristo. Somente se convertendo, somente nesta conversão para Cristo, neste olhar comum para Cristo, que podemos encontrar o dom da unidade.
Podemos dizer que a oração pela unidade está a animar e acompanhar as várias etapas do movimento ecumênico, especialmente a partir do Concílio Vaticano II. Neste período a Igreja Católica entra em contato com as várias Igrejas e Comunidades eclesiais do Oriente e do Ocidente com diversas formas de diálogo, confrontando com cada uma aqueles problemas teológicos e históricos diversos ao longo dos séculos e estabilizando os elementos de divisão. O Senhor tem realizado sim, que tais amigáveis relações têm melhorado a recíproca consciência, temos intensificado a comunhão rendendo, ao mesmo tempo, mais clara a percepção dos problemas que estão abertos e fomentam a divisão. Hoje, nesta Semana, demos graças a Deus que tem sustentado e iluminado o caminho até então percorrido, caminho fecundo que o Decreto conciliar sobre ecumenismo descreveu como “maneira do impulso da graça do Espírito Santo” e “cada dia mais amplo” (UR 1).
Queridos irmãos e irmãs convido-os a “orar sem cessar”, como o apóstolo Paulo apelava aos primeiros cristãos de Tessalónica, comunidade que ele mesmo havia fundado. Ele próprio porque tinha conhecimento de que tinham saído de desentendimentos, quis recomendar que fossem pacientes com todos, de evitarem de fazerem o mal pelo mal, procurando em contrapartida o bem entre si e com todos, e permanecendo alegres em toda as circunstâncias, felizes porque o Senhor é próximo. Os conselhos que São Paulo dava aos tessalonicences podem mesmo inspirar hoje o comportamento dos cristãos no domínio das relações ecuménicas. Sobretudo diz: “Vivei em paz entre vós”; e seguidamente: “orai continuamente, em cada coisa rendei graças.
Que nós acolhamos esta urgente exortação do Apóstolo quer para agradecer ao Senhor pelos progressos realizados no movimento ecuménico, quer para implantar a plena unidade. A virgem Maria, mãe da Igreja, obtenha para todos os discípulos do seu divino Filho a possibilidade de poder viver primordialmente a paz na caridade recíproca, para dar um convincente testemunho de reconciliação perante todo o mundo, para fazer acessível o rosto de Deus no rosto do Cristo, que é Deus Connosco, o Deus da paz e da unidade.