"A Bíblia deveria ter em cada família um lugar de destaque". A afirmação é do presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Vida e a Família da CNBB, Dom João Carlos Petrini.
No mês dedicado à Sagrada Escritura, o bispo explica que a Palavra de Deus não deve ficar em uma gaveta, mas sim em um lugar de fácil acesso. "De tal maneira que se crie pouco a pouco o hábito de chegar e ler meia página e depois, ao invés de comentar a fofoca dos artistas é muito melhor ler a Palavra de Deus".
Dom Petrini aponta dois caminhos para que a família inclua a Bíblia no seu dia a dia: o 1º é que se reúna por alguns minutos para ler 2, 3 ou 4 versículos. "Não precisa fazer grandes reuniões", destaca. Ele orienta especialmente a leitura de textos do Novo Testamento, por ter uma linguagem mais direta. O 2º é que se leia trechos do Evangelho que sejam significativos na vida do casal, como por exemplo recordar o Evangelho lido no dia do casamento.
Para o bispo, os frutos desta prática são inúmeros. Ele chama atenção para a violência que tem crescido não só nas grandes cidades, mas também dentro de casa e afirma que a pessoa que reza tem um coração mais manso.
"A pessoa que está ligada a Deus tem uma atitude mais amorosa, a pessoa que se alimenta da Palavra de Deus é claro que tem uma maneira mais atenta, tem mais disponibilidade para acolher, perdoar."
Para que a Palavra de Deus chegue a se tornar um ponto de referência para as famílias, Dom Petrini explica que ela deve ser ouvida, lida, mastigada e ruminada. “Aquela Palavra de Deus, suponhamos, lida durante o café, em dois minutos antes de sair de casa, ainda nos acompanha, é aí é que se torna uma luz que ilumina a inteligência, sabedoria que orienta o coração para posturas mais equilibradas no trato com as outras pessoas”.
O bispo reconhece que os problemas enfrentados pelas famílias são grandes e que ninguém fica isento, mas defende que a sabedoria do Evangelho faz diferença.
Educação dos filhos na fé
“A educação dos filhos acontece de duas maneiras e jamais deve ser delegada, terceirizada”, defende o presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Vida e Família da CNBB. “A educação dos filhos, especialmente no que é mais importante, por exemplo, a fé em Jesus Cristo, é tarefa especifica dos pais”, complementa.
Dom Petrini deixa claro que avós, professores, catequistas, enfim, outras pessoas podem colaborar, mas que jamais os pais devem abrir mão desta tarefa.
As duas maneiras apontadas por ele para a transmissão da fé aos filhos são, em primeiro lugar, a convivência e, em segundo, as palavras. “Se em casa o menino de 2, 3 ou 4 anos vê que pai e mãe diante de um problema que passam, ficam rezando juntos, o que é que entende? Que a oração é importante na vida”, exemplifica. Então, "o primeiro modo de transmissão da fé é o testemunho direto, mostrar. A criança vê, vai observando e entende a partir dali."
Quanto à segunda maneira, Dom Petrini destaca a importância de levar os filhos à Igreja e falar de Jesus Cristo para eles ou seja, catequizá-los. "O vínculo afetivo e de estima que espontaneamente a criança tem com o pai e a mãe abre o coração e aquele gesto marca infinitamente mais que todas as aulas que uma brilhante catequista pode dar."
O bispo é categórico ao responder como a criança aprende a ter fé: “Observando os pais”. E deixa um conselho para as famílias, de maneira especial, neste mês dedicado à Palavra de Deus. "Devemos usar a inteligência para que nós e os filhos possam ter aquilo que mais vale: mais que uma grande conta do banco, vale Jesus no coração. Um adolescente que tem Jesus no coração não vai atrás das drogas, não perde sua vida nas confusões deste mundo, é um ponto de referência que o ajuda a manter o equilíbrio e acertar o caminho para uma verdadeira maturidade."
Testemunho
A família de Walmir Mota de Carvalho e Judinara Mota de Carvalho, de Feira de Santana (BA), garante que falta de tempo não é desculpa para não ler a Palavra de Deus. “Já há alguns anos, todas as vezes que a gente sai de casa para escola, a gente reza o terço e lê a Palavra do dia, no carro mesmo”, conta Judinara. “Não é radicalismo, mas da mesma forma que se frequenta a escola se ouve a Palavra”.
A mãe de família, que é psicóloga, afirma que a Palavra de Deus tem importância “total” na vida deles. “Nós decidimos viver a Palavra. Mesmo no corre-corre nos decidimos por ela. Por isso, criamos diante dos filhos, motivos para ouvi-la. Porque a nossa fé não garante a conversão dos filhos, isso é uma construção até o dia em que eles se decidam.”
Um dos grandes frutos desta prática, comemorado por Judinara, é o comportamento dos três filhos. “Percebo, não que sejam melhores, nem perfeitos, nem os mais obedientes, mas no meio do grupo você consegue perceber um comportamento diferenciado, um respeito pelo outro muito maior.”
A psicóloga acredita que isso é fruto da Palavra de Deus, ela defende que o discurso moral dos pais não é capaz de convencê-los. “Nas histórias da Bíblia, eles vão construindo conceitos.”
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