Diálogo inter-religioso. O tema assume importância especial em situações de conflitos religiosos. Para o presidente da Comissão para o Ecumenismo e Diálogo Inter-religioso da CNBB, Dom Francesco Biasin, o diálogo entre as religiões é essencial para a vivência do Evangelho.
“Nós estamos na época do diálogo. Eu diria que o diálogo ecumênico, de maneira especial também o inter-religioso, é uma componente necessária para a vivência do Evangelho e para uma autêntica profissão da nossa fé”
Em especial sobre o diálogo entre cristãos e muçulmanos, o bispo afirma que não é fácil fazer uma radiografia, generalizando a situação, pois o relacionamento entre eles varia de acordo com a localidade geográfica e fatores geopolíticos.
“Há fundamentalismos muito fortes e, ao mesmo tempo, experiências bonitas de diálogo e de respeito entre cristãos e muçulmanos”. No Brasil, por exemplo, o bispo informou que há um diálogo respeitoso e fraterno com comunidades islâmicas.
Com relação aos recentes conflitos no Egito, Dom Francesco disse que os bispos vêm acompanhando o desenrolar dos fatos com preocupação. Embora seja um conflito de cunho político, tem-se atacado igrejas na região, inclusive cristãs.
O bispo informou que, nesta semana, um representante dos irmãos islâmicos, como se chama no Egito, lamentou e condenou a destruição e ataque às igrejas. “Este é um sinal muito bonito, porque se vê como, também num conflito político que existe lá no Egito, há sempre algumas pessoas que têm a capacidade de olhar além dos conflitos e dos interesses políticos para valorizar os diversos caminhos que levam até Deus”.
Mensagem: a proximidade do Papa
No início do mês, o Papa Francisco enviou uma mensagem aos muçulmanos por ocasião do fim do Ramadã, o mês sagrado para o islamismo. Tradicionalmente, essa mensagem é enviada pelo Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-religioso, mas o próprio Papa quis escrevê-la.
Para Dom Francesco, Francisco fez isso com muita espontaneidade e fazendo jus à cultura do encontro, tão enfatizada em seu pontificado. “Ele vai ao encontro e procura construir pontes e abrir portas e janelas para que o diálogo flua de maneira cada vez mais fraterna entre os vários caminhos religiosos”.
Na mensagem, o ponto forte destacado pelo Papa é o respeito mútuo, para o qual ele diz ser necessário trabalhar a educação, em especial dos jovens. Essa tarefa, segundo Dom Francesco, não é fácil, mas a Comissão da CNBB vem trabalhando nessa formação, com programas de rádio, elaboração de subsídios de cunho popular e uma revista para formar uma cultura do diálogo.
E nesses trabalhos, um ponto importante, segundo o bispo, é o conhecimento mútuo das religiões. Isso tendo em vista que, muitas vezes, a falta desse conhecimento é o que gera o preconceito.
“Nós não nos conhecemos o suficiente e é importante que a gente conheça o positivo do outro, sem ir atrás daquilo que nos divide. Eu vejo que na aceitação do positivo a gente consegue superar também eventuais dificuldades que se encontram. E é importante que cada um permaneça fiel à sua própria fé (…) assim, no conhecimento recíproco, haverá respeito e valorização recíprocos".