Dia Mundial da Alimentação
16 de outubro de 2012
Diretor Geral da F.A.O
1. Neste ano o Dia Mundial da Alimentação celebra-se enquanto os efeitos da crise econômica afetam sempre mais as necessidades primárias, incluindo os direitos fundamentais de cada pessoa a uma nutrição suficiente e sadia, agravando especialmente a situação de quantos vivem em condições de pobreza e subdesenvolvimento. Trata-se de um contexto análogo àquele que inspirou a instituição da FAO e que convida as instituições nacionais e internacionais ao empenho para livrar a humanidade da fome através do desenvolvimento agrícola e do crescimento das comunidades rurais. Sobre a má nutrição, na verdade, pesam uma retirada gradual e competitividade excessiva que arriscam esquecer como somente soluções comuns e compartilhadas são capazes de fornecer respostas adequadas às expectativas dos indivíduos e dos povos.
Saúdo, portanto, com particular satisfação a escolha de dedicar este Dia à reflexão sobre o tema “As cooperativas agrícolas nutrem o mundo”. Não se trata somente de dar apoio às cooperativas como expressão de uma forma diversa de organização econômica e social, mas de considerá-las um verdadeiro instrumento da ação internacional. A experiência realizada em tantos países mostra, de fato, que as cooperativas, outras a dar impulso ao trabalho agrícola, são um modo para permitir aos agricultores e às populações rurais intervir nos momentos decisivos e junto a um instrumento eficaz para realizar aquele desenvolvimento integral do qual a pessoa é fundamento e fim.
Garantir a libertação da fome significa, de fato, ser consciente de que a atividade das instituições e a contribuição dos homens e mulheres empenhados podem obter resultados adequados somente mediante ações e estruturas inspiradas na solidariedade e orientadas à participação. Neste sentido, as cooperativas agrícolas são um exemplo concreto porque chamam a realizar não somente adequados níveis produtivos de distribuição, mas também um crescimento mais geral das áreas rurais e das comunidades que nelas vivem.
2. A cooperação no seu significado mais profundo indica a necessidade da pessoa de associar-se para conseguir, junto com os outros, novas metas na área social, econômica, cultural e religiosa. Trata-se de uma realidade dinâmica e variada, chamada não somente a dar resposta às necessidades imediatas e materiais, mas contribuir com perspectiva de cada comunidade.
Dando a devida prioridade à dimensão humana as cooperativas podem superar o perfil exclusivamente técnico do trabalho agrícola, reavaliando a centralidade da atividade econômica e, assim, favorecendo respostas adequadas às reais necessidades locais. Trata-se de uma visão alternativa àquela determinada por medidas nacionais e internacionais que parecem ter como único objetivo o lucro, a defesa dos mercados, o uso não alimentar dos produtos agrícolas, a introdução de novas técnicas de produção sem a necessária precaução.
Diante de uma demanda sempre mais ampla por alimento, que necessariamente une qualidade e quantidade dos alimentos, o trabalho das cooperativas agrícolas pode representar algo a mais que uma simples aspiração, mostrando concretamente um modo possível de satisfazer a demanda de uma população mundial também em crescimento. A presença delas sempre mais consolidada, também, pode por fim às tendências especulativas que hoje afetam até mesmo as necessidades básicas destinadas à alimentação humana e coibem o enriquecimento das áreas cultivadas que em diversas regiões forçam os agricultores a abandonar as suas terras porque individualmente não têm nenhuma possibilidade de fazer valer os seus direitos.
3. A Igreja católica, como é conhecido, considera também o trabalho e a empresa cooperativa como modos de viver uma experiência de unidade e de solidariedade capaz de superar as diferenças e conflitos sociais entre as pessoas e entre diversos grupos. Por isso com seu ensinamento e a sua ação sempre apoiou o modelo das cooperativas enquanto é convencida de que suas atividades não se limitam somente à dimensão econômica, mas contribui para o crescimento humano, social, cultural e moral de quantos são parte e da comunidade na qual são inseridos.
As cooperativas, de fato, são uma expressão concreta não de uma complementaridade estéril, mas de uma verdadeira subsidiariedade; um princípio que a doutrina social da Igreja coloca na base de um concreto relacionamento entre a pessoa, a sociedade e as instituições. A subsidiariedade, de fato, garante a capacidade e o apoio original da pessoa preservando as suas aspirações nas dimensões espirituais e materiais, tendo em conta a promoção do bem comum e a proteção dos direitos da pessoa.
Olhando para as situações em que conflitos ou catástrofes naturais limitam o trabalho agrícola, um particular pensamento dirijo ao papel insubstituível da mulher sempre chamada a dirigir as atividades das cooperativas, a manter os laços familiares e preservar esses elementos preciosos de conhecimento e técnica próprios do mundo rural.
De um modo em busca de intervenções apropriadas para superar a dificuldade derivada da crise econômica e para dar à globalização um significado autenticamente humano, a experiência das cooperativas bem representa aquele novo tipo de economia a serviço da pessoa, isso é capaz de favorecer formas de partilha e de gratuidade que são o fruto, respectivamente, da solidariedade e da fraternidade (Caritas in veritate, 39). Por isso é indispensável que os poderes públicos operantes em nível nacional e internacional predisponham os necessários instrumentos legislativos e de financiamento para que nas zonas rurais as cooperativas possam ser eficazes instrumentos para a produção agrícola, a segurança alimentar, a mudança social e para uma mais ampla melhora das condições de vida. Neste novo contexto é desejável que as jovens gerações possam olhar com renovada confiança para o seu futuro, mantendo laços com o trabalho do campo, o mundo rural e os seus valores tradicionais.
Ao renovar a atenção da Igreja e o emprenho das suas instituições para que a humanidade possa ser verdadeiramente libertada da fome, sobre o senhor, Senhor Diretor Geral, sobre os representantes das nações acreditadas junto à FAO, sobre quantos trabalham na Organização e contribuem para atingir seus objetivos, invoco as mais abundantes bênçãos do Deus Onipotente.
Do Vaticano, 16 de outubro de 2012