Um trabalho de ajuda humanitária, para dar especial atenção à população infantil, que sofre, em todo o mundo, com problemas como a fome, violência e falta de educação formal. Assim é o trabalho da Pastoral da Criança, coordenada, no âmbito internacional, pelo médico Nelson Arns Neumann.
Em entrevista coletiva concedida na sede da Canção Nova, em Cachoeira Paulista (SP) na manhã desta quarta-feira, 5, dr. Arns contou um pouco sobre a atual situação desse trabalho no Brasil e no mundo, destacando a importância da colaboração da família e das comunidades.
Dr. Nelson esteve na Canção Nova por ocasião de sua participação no Simpósio “Saúde e Cidadania: tudo pelo motivo certo”, uma das atividades integrantes da Semana Social promovida pela Rede de Desenvolvimento Social da instituição. Na entrevista, ele esclareceu o objetivo central do trabalho pastoral direcionado às crianças.
“A Pastoral da Criança vem no sentido de fortalecer a família, porque a família é que sabe o que a criança precisa. É óbvio que ela não tem todo o conhecimento técnico, ela precisa de apoio, mas as decisões precisam ser da família”, disse o médico.
Esse trabalho de apoio é feito pelos líderes de Pastoral da Criança, que atuam com o conhecimento científico e também com a experiência das mães e avós, por exemplo, que ajudam na interpretação desse conhecimento. Mas a atuação da própria comunidade ainda é o essencial.
O médico contou que durante seu trabalho no Maranhão, tomou conhecimento do caso de uma líder comunitária que salvou uma criança que sofria com diarréia. Diante de um diagnóstico dado por um médico, que afirmou que nada poderia ser feito, a mulher decidiu tratar a criança em casa com soro caseiro, o que promoveu a melhora da criança.
“Esse sentimento de empoderamento da mulher, do pessoal da comunidade de que eles de fato conseguem mudar a situação é muito importante para mudar a situação da sua família, mas também da sociedade como um todo, de colocar o homem à frente de todas as outras questões”.
Rede de solidariedade
No que diz respeito à responsabilidade pela criança, o coordenador da Pastoral da Criança Internacional comentou que, nos últimos tempos, ocorreu uma mudança. Ele lembrou que, antes, a participação da comunidade na vida da criança era maior.
Tentando resgatar essa rede de solidariedade, dr. Arns informou que a Pastoral da Criança realiza, uma vez por mês, o Dia da Celebração da Vida. Na ocasião, as crianças das comunidades são pesadas e, além disso, o momento é uma oportunidade de encontro, para as pessoas perceberem o que está acontecendo com as famílias ao seu redor.
“A gente sabe que quando a gente ouve, é difícil ficar parado. Ás vezes o nosso isolamento é até uma tentativa de não precisar ficar sabendo para não precisar atuar. Mas a palavra é muito forte, então a gente sente o chamado e na hora certa o Espírito Santo ilumina a gente para sabermos o que fazer”
Situação internacional – caso do Haiti
Ainda há desafios a serem vencidos no Brasil para melhorar a qualidade de vida das crianças, mas, segundo Dr. Nelson, a situação brasileira já melhorou nos últimos 20 anos em relação aos demais países. “Visitando a Angola, o Haiti, Colômbia, República Dominicana e outros países, a gente vê que o que a gente vivia há 20, 30 anos eles estão vivendo lá hoje”.
Embora em situações estruturais piores, esses países possuem uma vantagem em relação ao Brasil: a solidariedade. “O que eles têm de vantagem que a gente percebe é que, até mesmo pela falta de estrutura, o pessoal é muito mais solidário. Infelizmente, no Brasil, a gente está começando a ver que a solidariedade já não é como era antes”.
Um dos casos em que isso é observado é o Haiti. Em 2010, a mãe do dr. Arns, a dra. Zilda Arns, esteve no país em um encontro com líderes religiosos para iniciar os trabalhos da pastoral entre crianças haitianas que sofriam com a pobreza.
Na época, Zilda acabou morrendo no terremoto que atingiu o país neste mesmo ano, mas o trabalho dela no país continuou. “Nós optamos por uma estratégia de começar a Pastoral da Criança numa diocese de Fort-Liberté, que é mais na divisa com República Dominicana, até porque esta tem uma Pastoral da Criança bastante forte e poderia ajudar mais fácil sendo mais próximo. Deu muito certo, o pessoal acolheu muito bem a Pastoral”, disse dr. Nelson.
A partir do sucesso da iniciativa, o médico contou que a conferência dos bispos do Haiti pediu que a Pastoral da Criança se espalhasse para as demais dioceses. Há um ano o trabalho foi estendido para a capital haitiana, Porto Príncipe.
“A gente percebe muita necessidade e, ao mesmo tempo, muita solidariedade entre as pessoas, o que facilita demais para a Pastoral da Criança. Hoje nós estamos com dois missionários lá, que saíram agora de Porto Príncipe para visitar Fort-Liberté, para animar cada vez mais a Pastoral da Criança”, comentou.