“Ouviu-se um grito em Ramá, choro e grande lamento: é Raquel que chora seus filhos e não quer ser consolada, pois não existem mais” (Mt 2,18). A dor de Raquel inspirou outra Raquel, o Projeto Raquel, destinado a acompanhar mulheres que abortaram, o pai do feto e até suas famílias. Ligado à Comissão Episcopal Pastoral para a Vida e Família, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), o projeto complementará outro, o Centro de Apoio à Mulher (CAM), que tem como objetivo identificar e auxiliar gestantes em crise, com intenção de abortar, para orientá-las, quanto aos riscos provenientes desse procedimento, considerando alternativas para manter a gravidez ou para que estejam em posição de tomar uma decisão responsável a esse respeito.
Os dois projetos são inéditos na cidade de São Paulo e estarão sob a presidência de dom Joaquim Justino Carreira, membro da Comissão Episcopal Pastoral para a Vida e Família e referencial da Pastoral Familiar Arquidiocesana. Ambos funcionarão em Santana, zona norte da capital, à rua Dr. Gabriel Piza, 566, próximo à estação Santana do Metrô. O Projeto Raquel foi oficializado no dia 7 e o CAM, dia 8.
O Projeto Raquel nasceu nos Estados Unidos, por iniciativa de Vicki Thorn, em 1984, à época diretora diocesana pró-vida de Milwaukee, no Estado de Wisconsin. Está presente também na Espanha, Nova Zelândia, Guatemala e Eslováquia. Ele consiste em uma rede de pessoas que ajudam mulheres que abortaram, incluindo entre essas pessoas padres, conselheiros leigos e outros, oferecendo cuidado individual a pessoas que estão sofrendo, após envolvimento em aborto.
Já o CAM nasceu no México, em 1989. Foi uma iniciativa de Jorge Serrano, presidente do Comitê Pró-Vida, que trabalhava em favor da vida desde 1979, quando percebeu a necessidade de ajudar não só na parte preventiva, mas também na assistência às mulheres que estavam em crise devido a gravidez indesejada. Desde que foi fundado, já implantou 50 centros no México e 56 na América Latina, tendo ajudado a mais de 100 mil mulheres.
Maria Lourdes Delgado, diretora executiva para a América Latina do CAM, esteve em São Paulo para a inauguração da primeira unidade do centro na capital. Ela falou da experiência nos outros países, sobretudo no México, e de como ajudou a salvar vidas de mulheres e de bebês, bem como da necessidade do sigilo no atendimento. “Todo atendimento e toda informação das gestantes são confidenciais e mantidos em sigilo. A não ser que elas autorizem por escrito a divulgação de seus testemunhos, até como forma de ajudar outras gestantes que vivem momentos de desespero com uma gravidez inesperada”, orientou.
Presente no dia da inauguração do CAM, o arcebispo de São Paulo, cardeal dom Odilo Pedro Scherer, destacou a importância de ambas as iniciativas. De acordo com ele, a questão da vida nascente hoje precisa ser encarada muito seriamente e é necessário divulgar a mensagem da valorização e defesa da vida de qualquer maneira. “Nós cristãos partimos do pressuposto de que todo ser humano é valioso, é amado e querido por Deus, desde o primeiro instante de sua existência, e cada ser humano, por isso mesmo, é intocável no seu direito de existir”, enfatizou.
Tanto o Projeto Raquel quanto o CAM serão dirigidos pelos psicólogos Eneida André Carmona e Luiz Carmona. Eles orientam que as pessoas que vão atuar precisam estar engajadas e terem um compromisso com a Igreja Católica. Terá uma pequena equipe de funcionários. Os demais são voluntários, que serão coordenados por Sônia Ragonha. “Pedimos a proteção de Deus e a orientação do Espírito Santo para os projetos. Em vista de toda uma mentalidade da época, ‘de uma mudança de época’, como diz dom Odilo, é gritante que se faça alguma coisa, pelo menos para diminuir e amenizar a questão do aborto e até frente ao risco de uma lei [aprovando-o]. Não tínhamos a ideia de como seria um trabalho desses aqui na comunidade. Penso que vamos jogar redes e colher os peixes que o Senhor colocar”, analisou Eneida.