A muitos, o Senhor chama ao matrimônio, no qual um homem e uma mulher formam uma só carne (cf. Gn 3, 24), e, para a Igreja, a santidade deles se realiza numa profunda vida de comunhão.
“É um horizonte de vida ao mesmo tempo luminoso e exigente; um projeto de amor verdadeiro, que se renova e consolida cada dia, partilhando alegrias e dificuldades, e que se caracteriza por uma entrega da totalidade da pessoa”, salientou o Papa Bento XVI em seu discurso para a Vigília de Oração com os Jovens, na Jornada Mundial da Juventude (JMJ) em Madri.
Para o Santo Padre, reconhecer a beleza e a bondade do matrimônio significa estar consciente de que o âmbito adequado à grandeza e dignidade do amor conjugal só pode ser conquistado através da fidelidade e indissolubilidade e também de abertura ao dom divino da vida.
Viver a fidelidade e estar aberto ao dom dos filhos são alguns dos compromissos assumidos pelos cristãos no Sacramento do Matrimônio. Sobre esses temas o noticias.cancaonova.com falou com a médica especialista em ginecologia e obstetrícia, Elizabeth Kipman Cerqueira, que neste fim de semana participará do 2º Congresso Nacional de Planejamento Familiar, em Brasília.
noticias.cancaonova.com: Numa cultura onde o divórcio se tornou algo comum e a fidelidade é vista como algo relativo, qual a importância da entrega total e exclusiva como expressão do amor conjugal?
Dra. Elizabeth: É um testemunho da possibilidade de realizar a aspiração que é comum a todos. Embora muitas vezes seja inconsciente, toda pessoa humana traz o desejo do amor, de aceitação e de doação total. Alguém com quem possa partilhar a jornada da vida, construindo e vencendo obstáculos juntos, na confiança recíproca.
Para o cristão, além disso, a opção pela vida conjugal no sacramento é uma resposta a Deus, como é toda resposta vocacional: o seu caminho à santidade. Para ele, é o sacramento de amor, renovado sempre, que expressa o mistério maior, verdadeiro ícone da Trindade. É impossível deixar de ver em cada divórcio, um fracasso na vida de relação e de compromisso.
noticias.cancaonova.com: Todo casal (casado) é chamado a paternidade? Como desenvolver este dom?
Dra. Elizabeth: Não só todo casal, mas toda pessoa humana é chamada à paternidade e à maternidade, no sentido mais profundo de gerar vida. E gerar vida quer dizer gerar Deus no mundo. Cada um, conforme seu estado de vida, precisa viver a sexualidade e a fecundidade, para realizar plenamente a sua humanidade.
Para os casais, num compromisso recíproco que inclui o abraço físico, isto significa reconhecer o filho como dom e não como direito – nem para tê-lo a qualquer custo, nem como sua propriedade para eliminá-lo quando indesejável. Para o celibatário, significa viver uma re-significação da sexualidade e da fecundidade consagrada diretamente a Deus.
noticias.cancaonova.com: Hoje muitas mulheres deixam de lado a maternidade priorizando a carreira profissional. Diante disso qual a importância da maternidade na realização pessoal e como dom de Deus?
Dra. Elizabeth: A cultura da sociedade influi na imagem de sucesso e de realização pessoal e, sem dúvida, a mulher tem a capacidade e a possibilidade de desenvolver qualquer profissão. O fato de adiar a maternidade tem acontecido, muitas vezes, até que a gravidez se torne algo difícil, até pela própria idade e por outros fatores. É preciso o equilíbrio pessoal e encarar a realidade existencial biológica, psicológica e espiritual e avaliar o que é importante consultando o coração, muito além das circunstâncias superficiais. Este adiamento, inclusive, tem colaborado para maior procura da fecundação in vitro – o bebê de proveta. Por outro lado, é importante lembrar aos casais que, no mútuo acordo, é preciso que o homem assuma a sua parte junto aos filhos para que a mulher continue a sua participação profissional.
noticias.cancaonova.com: Infelizmente alguns casais por motivos de saúde não podem ter filhos. Mas eles podem se realizar completamente dentro do casamento? Como?
Dra. Elizabeth: Na vida do casal, todo ato, não somente o ato sexual, deve ser fecundo e todo ato deve gerar vida, a começar, um no outro. A disposição para ser uma casal fecundo deve, portanto, começar pela fecundidade recíproca: ser canal da Graça um para o outro e, como casal, dispor-se a acolher e defender cada vida humana. A vida compartilhada desta forma nunca será estéril nem vazia. Esta é uma exigência inicial para quem se dispõe a receber o dom do filho gerado em suas entranhas ou gerado em seu coração através da adoção.
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