A fome e a propagação de doenças como o sarampo ou a poliomielite estão a causar um “forte aumento” no número mortes de crianças com menos de cinco anos na Somália, revela a Caritas local.
Um novo relatório da organização católica para a solidariedade e ajuda humanitária sublinha que “a cada 11 semanas”, dez por cento das crianças somalis com menos de cinco anos “perde a vida”.
A situação é agravada pelas precárias condições nos campos de refugiados, onde a falta de vacinas e de condições de higiene tem permitido a difusão de doenças infeciosas ou provocadas pela contaminação das águas.
“As estruturas de saúde da Somália estão a tentar enfrentar a chegada maciça de deslocados internos que estão a lotar os centros urbanos em busca de assistência”, afirma o ‘Situation report’ da Caritas Somália.
A seca que fustiga atualmente o Corno de África, considerada a pior dos últimos 60 anos, já provocou dezenas de milhares de mortos e constitui uma ameaça para mais de 12 milhões de pessoas na Somália, no Quênia, na Etiópia, no Djibouti, no Sudão e no Uganda.
A Igreja Católica, indica a Caritas, está a colaborar com os parceiros locais nas “atividades de assistência às pessoas mais vulneráveis e às famílias desabrigadas nos maiores centros do país”, com o envio de bens de primeira necessidade, alimentos e assistência sanitária.
A falta de alimentos obrigou dezenas de milhares de somalis a empreender longas viagens para campos que estão além-fronteiras, principalmente no Quênia e na Etiópia.
“Há vários anos que a Somália vive numa situação de conflito o que tem limitado a ajuda humanitária, especialmente no sul, que é controlado por movimentos islâmicos que se opõem ao regime”, acrescenta a Caritas.
No início de 2011, a assistência humanitária abrangia 850 mil somalis e atualmente passou a abranger 2,85 milhões, um terço da população da Somália.
As Nações Unidas declararam as regiões de Bakool e Lower Shabelle, no sul da Somália, zonas de fome, mas outras regiões do país enfrentam uma acentuada escassez de alimentos.
No Quênia, mais de 3,6 milhões de pessoas precisam de ajuda de emergência”, segundo a Caritas, mas os números poderiam chegar aos cinco milhões, se a situação piorar.
Alistair Dutton, diretor humanitário da Caritas Internacional, diz que a Somália é o país mais atingido porque “não há sistemas locais para ajudar as pessoas, seja de que forma for”.
“Não houve colheitas e não há Estado para servir as pessoas”, lamenta.
A Caritas está a promover o abastecimento de água potável, alimentos para menores de cinco anos e suas mães, suporte veterinário e alimentação para os bovinos.
A organização católica lançou ainda iniciativas a longo prazo, para ajudar as comunidades locais a conservar e usar melhor água, através da construção de poços e da implantação de práticas agrícolas mais eficientes.
Solidariedade em meio às dificuldades
São mais de três milhões e 600 mil os quenianos em urgência alimentar devido à seca no Chifre da África. E para tentar resolver o problema, de acordo com a Cruz Vermelha atuante no país, os agricultores locais organizaram-se para doar alimentos das suas colheitas aos seus compatriotas do Rift Valley Province.
Com limitações por falta de verba e de meios de transporte, os agricultores doaram, até agora, 500 sacos de legumes como batatas, cenouras, couves e abóbora.
Essa iniciativa particular, mesmo com o ceticismo do governo, está seguindo adiante e contribuindo para salvar vidas no Quênia. O país agora está se organizando para fazer com que esses alimentos cheguem à região de Turkana e ao norte do país.